Após o acordo do Governo Grego com a União Europeia

Extraído do jornal francês Informações Operárias (IO) de 15 de julho:

O jornal Le Monde coloca como manchete nessa quarte feira, 15 de julho: “A Europa impede a implosão mantendo a Grécia na zona do euro”. Com nossas desculpas a venerável instituição da burguesia, e se tivesse tido outro desfecho o que ocorreu  após a maratona de discussão que durou semanas sob a atenção da opinião pública em todo o continente? E se, o contrário, fosse o início de toda a implosão dispositivo União Europeia (UE)?

FazendoTsipras capitular com uma arma na têmpora, os credores decidiram, com uma violência e cinismo sem precedentes, executar a Grécia e condenar seu povo à miséria sem fim, comparável às ondas de migrantes desesperados que chegam sua costa.

Ao exigir que o parlamento grego vote neste 15 de julho uma capitulação incondicional e renuncie de todas as prerrogativas de um Estado soberano,  os Líderes europeus decidiram, literalmente, explodir o governo.

Como entender um ato dessa magnitude, sem precedentes desde a guerra em solo europeu, exceção ao destino que se deparou, há vinte anos, os países da ex-Iugoslávia?

O jornal Le Fígaro de 14 de julho responde a essa pergunta: “Há uma mensagem subliminar para a França e todas as economias “irresponsáveis” na área do euro deverão entender o recado. Quando a Europa tem que “quebrar os pratos” ela cobra caro […] A tutela e a austeridade redobrada que Atenas vai sofrer deve servir como um alerta para nós. Que a Europa é cruel ” E eles que o dizam!

O terror na Europa como um meio para tentar estabilizar uma “ordem mundial” aos cacos!

Todos os correspondentes de imprensa estão surpresos com a violência incomum nas discussões e com a desorientação neste fim de semana, em discussões entre os homens de Estado acostumados a negociar. Os ministros das Finanças, escreve Les Echos em 13 de julho, chamados a abrir suas carteiras, mostraram-se desorientados, assustados com a magnitude das novas necessidades económicas da Grécia …”

Por que? O que está acontecendo?

Quem responde é Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI: “Por mais dramática que seja a situação grega, a Grécia representa menos de 2% do produto interno bruto da zona do euro […] num mundo altamente endividados nesse período pós-crise haverá outros episódios desse tipo em que um único choque baste para que se dispare a dinâmica da dívida de um país, mas também das instituições financeiras. “

Embora procurando mostrar tranquilidade, Olivier Blanchard continua: “A crise da dívida grega poderá ser apenas o começo. Temos que nos preparar para outros episódios desse tipo.”

Em suma, por mais que você tente evitá-lo, o espectro da falência do Lehman Brothers continua a pairar sobre o sistema financeiro global. Não se trata da Grécia, que é apenas o primeiro elo de todo um sistema que acaba de escapar da crise que o ameaça através de endividamento com a injeção de centenas de bilhões de euros pelos bancos … é a próxima crise e a até a explosão da “bolha financeira” assim criada.

Nos dizem que neste confronto haviam dois campos. O Merkel-Schäuble e o de Hollande – partidário de apoiar a Grécia e aqueles que queriam mantê-la na zona do euro.

Embora a Alemanha, que tem cerca de 80.000 milhões contaminados pela dívida grega, tenha um bom motivo para ficar longe … as razões para a inflexibilidade de Merkel devem ser procuradas um pouco mais longe. Tanto Merkel como Hollande estão muito preocupados com a situação interna que os espera em 2017.

Em uma Alemanha preocupada com a ameaça que a recessão na economia mundial representa para suas exportações, Merkel tem para tentar acabar com os enfrentamentos que agitam seu próprio partido, a CDU e, para isso, precisa mostrar-se “inflexível”. Está em jogo sua reeleição como chanceler.

Hollande, preocupado acima de tudo, em reunir “a esquerda” nas eleições presidenciais, revestiu-se de defensor da “dignidade” da Grécia e seu povo. Um “defensor” muito peculiar, porque foi ele quem enviou seus “técnicos” para ajudar Tsipras a elaborar o seu ato de capitulação na linguagem entendida por Bruxelas.

É difícil dar uma imagem mais marcante de processos de decomposição que golpeiam todas as cúpulas da Europa, literalmente nocauteados e em pânico pelo que sentem que está por vir como registra o diário Les Echos, talvez sem medir a extensão do que decidiram.

Na Europa, abre-se um período de conflitos gigantescos. Para zombar eleitores gregos que votaram NÃO em 5 de julho. Le Fígaro escreve: “Enquanto os eleitores acreditavam que para resolver os problemas bastava mandar os credores e o horrível mundo financeiro passear, a partir de agora já sabem o que vale esse tipo de promessa”.

E se fosse verdade?

E se a intolerável agressão que acabam de perpetrar contra o povo grego;  e se o ocorrido contribuir para que façam sua própria experiência os milhões e milhões de trabalhadores em toda a Europa, na luta classe, os trabalhadores terão os meios de derrotar a ofensiva do capital financeiro e revogar os tratados da UE que são os seus instrumentos.

O Partido Operário Independente (POI) e os seus militantes dedicam a esse objetivo todas as suas forças e com mais energia do que nunca.

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