As manifestações não pararam no Chile

Em 2 de julho de 1986 ocorreu o caso “quemados” (queimados) no Chile. Nesse dia uma patrulha militar deteve dois jovens: Carmen Gloria Quintana e Rodrigo Rojas de Negri, em meio a um protesto nacional.

Depois de golpeá-los brutalmente começaram a encharcá-los com combustível e incendiaram-nos, e posteriormente, acreditando que estavam mortos, abandonaram-nos em um local de difícil acesso.

Rodrigo não conseguiu sobreviver às graves queimaduras e Carmen, até hoje sofre as sequelas da cruel ação dos militares.

Todos os anos são realizados diferentes atos de lembrança e nos dias 2 e 3 de julho várias organizações populares convocaram a realização de protestos de diversos tipos como o acendimento de velas, panelaços e com palavras de ordem como “Com fome não tem quarentena”, “Pela libertação dos presos políticos da revolta”, “Protesto Popular”; “Renuncia Piñera”,  etc.

Em Chillán foi realizada uma marcha com distanciamento social pelo centro da cidade e que foi fortemente reprimida com vários manifestantes detidos.

Em Melipilla, perto das manifestações, um cidadão haitiano morreu vítima de um tiro.

Na Vila Olímpica de Santiago a manifestação pacífica foi reprimida com balines (um tipo de bala usada pela polícia com 20% de borracha e 80% de metal, incluindo chumbo, NdT.) e gases. Uma moradora dessa Vila foi levada à força pela polícia a um ônibus sem identificação, sendo maltratada e exposta a gases lacrimogênios no interior do veículo. Foi finalmente liberada minutos antes do toque de recolher, que obrigou-a a correr, foi socorrida por um vizinho.

Esses são alguns casos ocorridos nestas jornadas em que o governo mostra seu real propósito aproveitando a pandemia como desculpa:

Por todos os meios buscam eliminar qualquer tipo de mobilização, protesto ou exigência de qualquer setor que seja.

No plano político ameaçam vetar qualquer proposta que não seja do gosto político desta nova ditadura.

Insistem e reiteram o caráter urgente do projeto que facilitar as forças armadas e os órgãos de inteligência que, no fundo, quer silenciar as organizações (sociais e sindicais) e seus líderes.

Nas cidades a repressão é direta. Quando centenas de moradores saem às ruas ou se manifestam das suas casas são atingidos com gases, espancados e capturados.

As pessoas reclamam espontaneamente contra a má condução da crise social e sanitária, denunciando o abandono do Estado, das péssimas e desiguais condições de saúde, do pobre apoio econômico às famílias, da brutal repressão e militarização das cidades.

As e os trabalhadores em geral seguem sendo os que estão pagando pela crise. Milhares de desempregados em conjunto com os setores mais necessitados tem sido abandonados à própria sorte, sendo as mulheres as mais prejudicadas. As ajudas oferecidas giram apenas em torno de empréstimo “flexíveis”, que contrastam com o socorro milionário aos grandes empresários, ao mercado financeiro e outros.

A maioria dos cidadãos aguarda ansiosamente o fim da pandemia e o plebiscito de outubro para iniciar a construção de um novo Chile e acabar de uma vez por todas com este sistema corrupto que nos aprisiona.

Santiago 5 de julHo -JAVIER MARQUEZ

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