Ato de comemoração dos 40 anos de O Trabalho

Ato político em São Paulo discutiu os desafios atuais da classe trabalhadora e a crise do PT

Em 18 de novembro, no auditório lotado do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, militantes de O Trabalho, sindicalistas e petistas de diferentes correntes, participaram do ato comemorativo dos 40 anos da Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional. Mais que uma comemoração do passado, foi um diálogo ente militantes sobre as tarefas do presente.

A mesa, dirigida por Renê Munaro (direção de OT e CUT-SC), foi composta por Julio Turra, que falou em nome da corrente, Luís Eduardo Greenhalgh e o deputado federal Vicentinho, que trouxeram testemunhos da luta comum contra a ditatura e na construção do PT e da CUT, além de Sarah Lindalva, militante de OT que é diretora da UNE.

Na abertura, Andreu Camps, em nome do Secretariado da 4ª Internacional, fez uma saudação por vídeo ao ato que abria o 33º Encontro Nacional da Corrente O Trabalho. Abaixo trechos das falas da mesa. “O JOGO

“Ainda não acabou”, Julio Turra

Depois de retomar a história da corrente O Trabalho, Julio falou dos desafios atuais, “Nascemos na luta contra o regime militar e hoje lutamos contra um estado de exceção, por uma combinação perversa de uma ‘ditadura’ do Judiciário com os interesses do imperialismo em remover um obstáculo à aplicação plena de sua política, o governo encabeçado pelo PT, para entronizar um usurpador, Temer, que aplica um conjunto de medidas cujo objetivo é liquidar, em tempo rápido, os direitos e conquistas arrancados pela luta da classe trabalhadora brasileira.

Não sem resistência, ao contrário de 1964, com uma resistência que continua e que nosso objetivo é reforçar, mas não podemos deixar de fazer o balanço do que favoreceu essa ofensiva golpista.  A política nacional de aliança com o PMDB levou a uma situação que não é nova na história: a colaboração com a classe inimiga leva ao impasse e, no limite, à destruição das organizações dos trabalhadores.

No meio do primeiro mandato de Dilma – jornadas de junho de 2013 – sua resposta foi positiva: Constituinte para reformar o sistema político. Mas quem vetou? O vice Temer, o STF, o Congresso, ou seja, as instituições herdadas da ditadura, recauchutadas pela Constituinte de 1988.

A adaptação do PT a essas instituições está na base da deriva do partido, cada vez mais institucional.

A quantidade se transforma em qualidade, neste momento o PT está ameaçado de desaparecer, se não se reorienta, apoiando-se em sua própria e rica história.

Os mesmos milhões que levaram o PT à presidência da República, se desencantaram com o partido. O impacto na militância petista da derrota nas eleições municipais foi até maior do que o do impeachment da Dilma, onde se podia dizer que foram os 300 picaretas que a afastaram, não o povo. O PT perdeu 10 milhões de votos em relação às eleições de 2012 para a abstenção, nulos e brancos. O PT foi sancionado por aqueles que votavam no PT.

Quando as pesquisas davam 10% para a Dilma, muito antes do impeachment, elas refletiam a aplicação de um plano de ajuste fiscal que não ficava nada a dever aos planos da União Europeia que atacam os povos de lá: cortes de gastos e subsídios para os empresários que criaram um rompo nas contas públicas.

A direita viu o que acontecia e chegou com tudo, entrando na brecha entre o governo e sua própria base eleitoral. Houve resistência, milhares nas ruas, mas qual foi o grande problema?  As fábricas estavam frias, o morro não desceu, a periferia não veio.

Como recuperar essa base social? Esse é o desafio, que não é só brasileiro. O mundo está endireitando? Essa é uma visão unilateral e parcial das coisas, que encobre o balanço necessário dos erros da esquerda.

Estamos numa situação defensiva, o nosso relógio passou a ser o da situação mundial. Uma situação de defesa de conquistas e direitos, pois eles querem liquidar tudo, inclusive a existência de organizações da classe trabalhadora.

Mas o jogo ainda não acabou, as com Luís Eduardo, Julio, Renê, Sarah e Vicentinho tradições que o imperialismo gera com sua política obrigam os povos a resistir para não serem liquidados fisicamente. É nessa resistência que queremos nos apoiar.

Nos orgulhamos que em 40 anos de existência asseguramos uma continuidade, baseada em princípios que são caríssimos ao movimento operário: independência de classe e internacionalismo.

Queremos agradecer a presença de companheiros de outras correntes do partido,  parlamentares, dirigentes sindicais que nos prestigiam nessa comemoração e dizer: contem conosco para resgatar as melhores tradições do PT, para reconstruirmos o partido como instrumento de luta da classe trabalhadora e do povo oprimido no Brasil e para estabelecer laços de solidariedade no plano internacional com aqueles que tem o mesmo desafio que nós: defender-se dos ataques do imperialismo e preparar a contraofensiva para a construção de uma sociedade sem  explorados e sem exploradores”.

“Está faltando espaço para a militância do PT” Luiz Eduardo Greenhalgh

“A Corrente O Trabalho, de fato, contribuiu e contribui, construiu e constrói o PT, a CUT, se relaciona com a classe operária de uma forma mais próxima do que muitas de nossas correntes internas do partido. E esses 40 anos de existência demonstram isso. ”

Após mostrar materiais de seu arquivo pessoal, relativos à história de nossa corrente, Greenhalgh abordou o momento atual:

“Ontem eu vi prisões de pessoas no Rio. Não tenho nenhum motivo para defender os que foram presos, mas não pensei que depois de tudo o que fizemos de luta nesse país, pela democracia, pelos direitos humanos, eu pudesse ver a cena de uma pessoa hospitalizada, sendo arrancada da mulher e da filha por agentes da Polícia Federal, da polícia civil e da PM de dentro de um hospital, com um diagnóstico médico dizendo que tinha que fazer um cateterismo.

Mais do que o golpe de 64, que foi um golpe militar, este movimento de ruptura democrática que estamos vivendo, é mais profundo, complexo e eficaz. Quem não atentar para isso, vai equivocar-se na análise de conjuntura.

É verdade o que o Julio falou, a favela não desceu, o povo não veio, só quem veio? A gloriosa militância do PT. E veio sozinha, veio pela estrela e pelos sonhos. Está faltando espaço para a militância do PT dialogar, dar opinião.

Está faltando espaço para reunião, para ouvir análises de conjuntura, para ela falar o que se passa no bairro. Não pode a militância do PT ficar na dependência do Jornal Nacional, da Folha de São Paulo, temos que voltar a conversar com nossa militância.

Aonde nós temos ido com o Diálogo Itinerante, a gente sente isso.  Falamos 10 minutos e escutamos uma hora. É impressionante a dignidade, coragem, dedicação e lealdade da militância do partido com esse sonho, com esse instrumento. A gente quer multiplicar esse Diálogo Itinerante.

Só tem uma saída, a nossa própria militância. Somos nós que vamos construir nosso próprio caminho e sair dessa situação de defensiva em que nos encontramos”.

“O compromisso de classe Vicentinho (deputado federal PT, ex-presidente da CUT)

“Era muito bom ver os debates naquele período [refere-se à formação do PT e da CUT], aquilo foi como uma aula para nós, jovens naquele tempo. Fomos caminhando, fomos aprendendo e fomos nos construindo como representantes da classe, que é o que é mais importante nessa trajetória de 40 anos.

Estou aqui para manifestar o meu mais profundo respeito aos nossos irmãos e irmãs de O Trabalho. Na CUT sempre foram muito parceiros, também críticos, porque respeitar a classe e seus representantes é ter a humildade de compreender que nenhum de nós é melhor do que ninguém, pois o compromisso é de classe. Nossa esperança é os que não votaram em ninguém, quem sabe eles estão querendo ouvir algo. É importante que os companheiros de OT continuem agindo com suas críticas e construindo o partido, porque este é o nosso partido. Eu não vou sair do meu partido, como também não vou fazer campanha com material, azul, verde, amarelo, que não seja o da cor do PT”.

“Essa história vai continuar marcada por muita luta” Sarah Lindalva

“A história da Corrente O Trabalho foi de muita luta, e eu estou muito feliz em dizer hoje que essa história vai continuar sendo marcada por muita luta. Nós sofremos um golpe para destruir os direitos dos trabalhadores e da juventude.

Nós, jovens, já sentimos isso, mas não só sentimos, resistimos. Por isso tantas escolas foram ocupadas, tantas universidades estão sendo ocupadas, com assembleias abarrotadas de estudantes, como jamais se viu. Mas sabemos que essa mobilização não pode ser descasada dos trabalhadores, tem que ser junto com eles para derrotar todas as medidas que retiram nossos direitos e derrotar esse governo golpista.

O nosso combate, como trotskistas, além de ajudar os jovens a se organizarem em defesa de suas reivindicações nas suas entidades, é também para que a juventude possa se organizar de forma autônoma. Por isso impulsionamos a construção da Juventude Revolução, para ajudar os jovens a derrotar o capitalismo na via do socialismo”.

SAUDAÇÕES DO PLENÁRIO

Tomaram a palavra para breves saudações, Devanir Ribeiro, metalúrgico do ABC aposentado e ex-deputado federal do PT; Antônio Donato e Juliana Cardoso, vereadores PT, Laura Capriglione do “Jornalistas Livres” e Rodrigo Cesar, da Tendência do PT Articulação de Esquerda.

O Ato encerrou-se ao som do refrão da “Internacional” cantado pelos presentes, sendo seguido por uma confraternização no saguão do sindicato, decorado com as capas de 40 edições históricas do jornal “O Trabalho”.

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