Aumento do preço de alimentos: o que é necessário fazer?

Não é de hoje que o aumento do preço dos alimentos é sentido pelos trabalhadores, em particular da cesta básica. Em janeiro de 2024 a cesta subiu 0,36% em São Paulo em um ano. Agora em 2025, ela já tinha subido 10% na capital paulistana (DIEESE). Acima do reajuste de 7,5% do salário-mínimo e muito acima dos 4,86% da inflação geral.

Daí a sensação de aperto que muitos trabalhadores sentem. Afinal, 22% do orçamento familiar para quem ganha até dois salários-mínimos é gasto com alimentação (IBGE). Não é à toa que a esperança na melhora das condições de vida que impulsionou a vitória de Lula em 2022, dois anos depois, parece que ainda não se cumpriu para a maioria. É um dos fatores por trás da queda da popularidade do governo, como mostra uma pesquisa recente da Quaest, que, com razão, preocupa os petistas e o próprio governo. 

Lula fez uma reunião ministerial dia 20 onde o tema apareceu como uma das suas principais preocupações. Depois, em 22/1, o ministro Rui Costa disse que o governo procura um “conjunto de intervenções que sinalizem para o barateamento dos alimentos”. O que causou alvoroço do “mercado”. O que eles temem é que o governo adote medidas que beneficiem o povo em detrimento dos lucros. 

No mesmo dia o governo voltou atrás na expressão “intervenção” e, pressionado pelo mercado, têm aventado medidas muito limitadas. Uma delas é a redução do imposto sobre importação de alimentos, ou seja, um tipo de benefício fiscal para importadores. Já vimos esse filme. O próprio governo reconheceu no fim do ano passado que os benefícios fiscais fartamente distribuídos para grandes empresas não têm entregado os benefícios sociais prometidos, e com razão se falou em retirá-los. Agora seria diferente? 

Há, entretanto, outras medidas efetivas que o governo pode tomar para baixar os preços dos alimentos, como retomar os estoques reguladores, taxar exportações de certos setores e controlar o cartel dos supermercados.

Na eleição de 2022 Lula prometeu retomar os estoques reguladores, que foram encerrados no governo Bolsonaro. Essa política consiste no governo comprar produtos básicos como arroz, milho, café etc. quando os preços estão baixos e vender quando os preços sobem aumentado a oferta para baixar o preço.

O problema é que a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) não retomou os estoques. Não comprou quase nada de arroz, feijão, açúcar, farinha de mandioca, café e outras culturas nos dois primeiros anos do governo. Em dezembro de 2024 a CONAB tinha 416 toneladas de arroz e 46 toneladas de feijão estocadas, quando já teve mais de um milhão de arroz e 200 mil de feijão. De café, trigo, farinha de mandioca e outras culturas os estoques em dezembro eram zero.

No ano passado, o país bateu o recorde de produção de carnes, com 31 milhões de toneladas. Mas o preço das carnes subiu 20% no ano! As importações de carnes também foram recordes em 2024. No total, um terço de tudo que foi produzido saiu do país. O que é incentivado pela subida do preço do dólar o que aumenta o lucro com as exportações. Por isso, impor uma taxa para exportação de produtos alimentícios faria diminuir os preços no Brasil reconheceu, torcendo o nariz, um economista ligado a um grande fundo de investimento na Folha de São Paulo (28/1):  “A única medida capaz de gerar resultado de curto prazo seria taxar as exportações”.  

A Associação Brasileira de Supermercados afirma que 50 empresas dominam 60% de toda a receita do varejo alimentar no país e 10 redes de supermercados faturaram R$ 313 bilhões em 2023. O que mostra o grau de concentração do setor, ainda mais acentuado nos grandes centros urbanos. O que anda de mãos dadas com a grande concentração das indústrias alimentícias que, em certos casos, praticamente monopolizam setores inteiros com o caso da BRF e da Nestlé. 

Isso tudo favorece os preços altos. Os trabalhadores precisam “bater perna” para buscar lojas com preços mais em conta. O governo deveria agir para oferecer outras opções de compra de alimentos de pequenos produtores para combater essa concentração das grandes redes de supermercados e indústrias alimentícias.

O que o governo poderia fazer e teria um efeito concreto é conhecido. Isso mexeria nos lucros do agronegócio e de grandes empresas multinacionais. Tudo o que o “mercado” não quer. Mas, é isso que é necessário.  

Cristiano Junta

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