Artigo publicado em 15 de junho
Ontem o Ministro da Saúde caiu, embora o governo tenha se preocupado em louvá-lo, a soma da má política da saúde, a teimosa recusa em ouvir os setores que estão envolvidos com a saúde e mais o estilo “patrão” de fundo, acabaram com o seu período antecipadamente. O empurrão final foi quando uma investigação jornalística revelou que os números de mortalidade foram superiores aos oficialmente reportados.
O número real era pouco mais de 5.000 no total e foi o que era reportado à OMS, enquanto no Chile eram divulgados números muito menores e se exaltava como bom o resultado do controle.
A pandemia, longe de diminuir, continua a avançar e o Chile conseguiu superar os Estados Unidos a quantidade de mortes por milhão de habitantes.
Por causa das responsabilidades que cabiam ao ex-ministro, setores políticos e sindicais propõem acusa-lo constitucionalmente, já que há três meses foram propostas medidas que poderiam ter salvado vidas e não obtiveram respostas.
O governo, por sua vez, continua a tecer sua teia e chega a um acordo com quase todos os partidos, assinando o Acordo Nacional de Emergência que consiste em uma extensão da renda familiar de emergência, renda que para os beneficiários atingirá $100.000 (US$126,47) que está abaixo da linha de pobreza (US$170.851); assinatura de recursos para municípios e fundos adicionais para o setor de saúde entre os mais importantes.
A desconfiança que inspira o mundo político já faz pensar que deve haver uma “letra miúda” e não seria estranho que uma surpresa aparecesse.
O estado de catástrofe acaba de ser estendido até setembro, numa tentativa de controlar a pandemia que também funciona como um freio às mobilizações. E terminará na véspera do plebiscito de outubro (sobre a constituinte, NdT), que já está gerando algumas opiniões na direita no sentido de adiar ou simplesmente não realizá-lo.
O Ex-presidente da União Democrática Independente (UDI, partido da direita) Pablo Longeira, atualmente sendo processado por suborno, junta-se a Andrés Allamand do Renovação Nacional (centro-direita) na ideia de pular o plebiscito e fazer o Congresso aprovar uma nova constituição.
O drama é vivido nos setores populares onde há pessoas que morreram em suas casas esperando por atendimento e a pandemia da fome está se tornando cada vez mais latente, o que, por sua vez, desencadeou uma rede de solidariedade nacional e internacional. O governo tentou diminuir a pressão, entregando caixas de mercadorias, o que se mostrou insuficiente, e desencadeou uma onda de protestos das populações mais carentes.
Por enquanto acredita-se, segundo especialistas, que a etapa mais difícil virá nos próximos dois meses e os grêmios, organizações sociais e sindicatos estão exercendo pressão sobre o governo e Congressistas para questões mais caros aos chilenos, como a revogação do DL 3550 (Fim da AFP, previdência privada coom fundo de pensão), tributação aos super ricos, a renda básica e universal, fortalecimento da saúde pública, crise da água, rechaço a criminalização dos protestos sociais, retirada do projeto tpp11 (tratado transpacífico) e, certamente, o plebiscito que se aproxima, entre outras coisas.
Javier Marquez.