“Não vamos retroceder”, é o sentimento das massas para as eleições de abril
A comoção popular que tomou as ruas da Venezuela depois da morte de Hugo Chávez afirmou um claro conteúdo político: nas filas para prestar a última homenagem ao ex-presidente se repetiam declarações de que a “luta continua”, de que “não retrocederemos”.
Foi uma resposta do povo venezuelano à declaração de Obama de que se abriria “um novo capítulo” e de seu “compromisso com políticas que promovam princípios democráticos”, pois o povo sabe que tais “princípios” cobrem uma política de ingerência do imperialismo dos EUA em seu país, a mesma que apoiou em 2002 à tentativa de golpe de Estado da oposição, quando foram as massas populares que levaram Chávez de volta ao poder.
Um novo presidente será eleito em 14 de abril. A partir da experiência que viveu nos últimos anos de luta, em que arrancou melhorias consideráveis nas suas condições de vida (saúde, educação, moradia) com o investimento da renda do petróleo em programas sociais, o povo trabalhador venezuelano vai votar maciçamente em Nicolás Maduro, o atual presidente designado como sucessor por Chávez.
CONTRADIÇÕES DO CHAVISMO
E o fará apesar de todas as contradições do chavismo e de sua expressão política, o PSUV, partido que abriga em seu interior empresários que se beneficiam de negócios com uma burocracia governamental, que abriga governadores que muitas vezes se chocam e reprimem as lutas sindicais e populares.
Contradições que se devem a uma ruptura parcial com o imperialismo por parte do governo Chávez, pois na Venezuela não existe monopólio do comércio exterior, há multinacionais presentes em vários ramos da economia, muitas vezes associadas ao capital estatal, e a propriedade privada dos grandes meios de produção foi preservada. São contradições que se expressam em todos os terrenos. Assim, em abril de 2003 o movimento operário constituiu a União Nacional dos Trabalhadores (UNETE) como central sindical independente. Entretanto, as forças políticas ligadas ao governo tudo fizeram para inviabilizar a nova central,sem lograr este objetivo, acabando por formar, com o patrocínio de Chávez, uma central atrelada ao Estado e ao PSUV (a CST, criada em 2011).
No plano internacional, Chávez denunciou o golpe contra o presidente Aristide do Haiti em 2004, recusando-se a participar da ocupação militar promovida pela ONU (Minustah). Entretanto, ao longo do tempo, seu governo deixou de combater a ocupação, preferindo entender-se com os governos da região que lá mantinham tropas, chegando a convidar o presidente Martelly, fruto da fraude eleitoral no Haiti em 2011, a integrar a ALBA (aliança econômica com a Bolívia, Equador, Nicarágua e outros países do Caribe, promovida por Caracas).
UMA VEZ MAIS
A 4ª Internacional e suas seções sempre que o governo Chávez adotou medidas de ruptura com o imperialismo, por mínimas que fossem, ou que foi ameaçado pelo imperialismo dos EUA e seus lacaios, colocou-se incondicionalmente ao lado do povo e do governo venezuelanos. Ao mesmo tempo, sempre o fizemos com uma posição independente, por considerar que o avanço no processo revolucionário na Venezuela, como em todos os países do mundo, só pode se dar a partir da organização da classe trabalhadora no seu terreno de classe, em oposição ao imperialismo mundial e à burguesia local, tanto no terreno sindical, na batalha pela consolidação da UNETE, como na necessária organização de um partido operário independente, lugar que o PSUV está longe de ocupar.
Em 14 de abril, o povo trabalhador, numa polarização com o candidato do imperialismo Capriles, vai votar em Nicolás Maduro, numa situação em que há sérias interrogações sobre a evolução da situação no país. Por exemplo, o governo acaba de desvalorizar a moeda, o que tem um impacto imediato na alta dos preços dos produtos de primeira necessidade, nos preço dos produtos importados. Mas vai votar em Maduro com a férrea vontade de aprofundar o processo de libertação nacional contra o imperialismo. Nós estaremos, uma vez mais, ao lado do povo venezuelano nas eleições de 14 de abril para barrar o retrocesso e para avançar nas suas conquistas.
Julio Turra
Texto publicado originalmente na edição 726 do Jornal O Trabalho, de 21 de março de 2013