Comunicado do Partido Operário Independente sobre as eleições na França

Paris, 1º de julho de 2024

Comunicado

A decisão de dissolver a Assembleia Nacional e de organizar eleições legislativas antecipadas vai consagrar a etapa final do colapso do presidente Macron, a pedra angular das instituições da Quinta República. “Chamados a esclarecer suas escolhas e renovar sua confiança em Emmanuel Macron, quase oito em cada dez franceses expressaram um franco e maciço Não. Um repúdio terrível, o fracasso é amargo”, relata o editorial do jornal financeiro L’Opinion (1º de julho). No entanto, ele veiculou a campanha do bloco presidencial nas últimas semanas. O fracasso é tanto mais retumbante quanto a participação nestas eleições nunca foi tão elevada no último período (+19 pontos do que em 2022), o que aprofunda a dimensão do colapso de Macron.

Por que o colapso de Macron?

Reforma da Previdência, queda vertiginosa dos salários devido à inflação, ofensiva sem precedentes para destruir serviços públicos (a começar por escolas e hospitais), o questionamento das liberdades democráticas, a lei de imigração, a política de guerra na Ucrânia e na Palestina… E uma quantidade de medidas reacionárias impostas durante sete anos por Macron a serviço do capital financeiro, que não angariaram qualquer apoio e só foram implementadas à custa de decisões autoritárias que o arsenal da Quinta República permite, tal como recorrer vinte e três vezes ao artigo 49.3 (mediante o qual o presidente se sobrepõe ao debate no parlamento, a menos que ele derrube o gabinete – NdT). Tudo o que inevitávelmente provocou o seu rechaço.

Macron, ao fazer pleno uso do arsenal midiático, ao organizar campanhas odiosas de calúnia contra a França Insubmissa (LFI) e, em particular, Jean-Luc Mélenchon, ao aplicar pelo menos parte do programa do Reagrupamento Nacional (o RN de Le Pen), conseguiu fazer do RN o receptáculo de parte da revolta e da rejeição que se manifestam contra ele. A que preço? À custa de afundar o seu próprio campo, abrindo ao RN a possibilidade vir a assumir o lugar central de defensor das instituições da Quinta República em nome do capital financeiro.

Mas há um mas…

Para que esta nauseante operação política chegasse à sua conclusão, a LFI teria de ser erradicada, o que era inicialmente o objetivo não declarado da dissolução antecipada do parlamento. Também neste terreno, Macron sofreu uma amarga derrota. Em primeiro lugar, devido à formação da Nova Frente Popular (NFP) para a qual, desde o início, a LFI se encontrou no centro, com mais de 55.000 novas adesões desde as eleições europeias de 9 de junho.

Dos 32 deputados eleitos pela NFP agora no primeiro turno (por maioria absoluta na circunscrição eleitoral – NdT), 19 são LFI, cinco vezes mais do que no primeiro turno das legislativas em 2022. Além dessas reeleições, 111 candidatos da LFI estarão presentes em primeiro ou segundo lugar, agora no segundo turno. Os dados provenientes das circunscrições indicam que os candidatos da LFI alcançaram resultados muito importantes nos bairros operários. Este é o resultado da orientação de ruptura implementada, em particular, por ocasião da reforma da Previdência, durante as revoltas contra a violência policial e, ultimamente, para exigir um cessar-fogo imediato na Palestina. É a LFI quem tem a confiança dos milhões que decidiram aproveitar o voto para expressar sua rejeição às políticas de Macron, sua rejeição ao sistema, seu desejo de que “saiam todos!”

No primeiro e segundo turnos, o POI, obviamente, não está pedindo voto para candidatos de toda a direita: os de Macron-Attal (seu primeiro-ministro), Horizon de Edouard Philippe, Ensemble (Juntos, de Macron), LR (Republicanos), etc.

O POI endossa a posição da França Insubmissa, particularmente adaptada ao contexto da luta eleitoral, formulada por Jean-Luc Mélenchon na noite da apuração: “Nossa instrução é simples, direta e clara: nem um voto, nem mais uma cadeira para o RN!”, “caso o RN saia na frente (na circunscrição) e nós fiquemos apenas em terceiro lugar, vamos retirar a nossa candidatura”.

O POI está convencido de que a posição assumida por Olivier Faure (secretário do PS) de pedir o voto em Elisabeth Borne (primeira ministra até há pouco), como indicou nas primeiras horas após a apuração, é susceptível de semear problemas e confusão. Depois dos resultados dos chamados ao voto em Chirac (voto na direita contra a extrema-direita – NdT), e depois em Macron para supostamente barrar a ascensão do RN, com as consequências verificáveis por todos, repetí-lo é a prova de uma incrível cegueira, para dizer o mínimo.

O POI está surpreso com a rapidez com que os macronistas pediram o voto em François Ruffin (ex-deputado LFI em choque com a LFI – NdT). Para este último, é mais sensato refletir e questionar o fracasso frente ao RN em seu próprio feudo, em vez de continuar nos conchavos usuais da Quinta República.

Enfim, o POI entende a ferocidade com que todas as vozes da direita se apressam a buscar acordos para seus fins, com o que chamam de “forças democráticas” ou “republicanas”, ao lado da Nova Frente Popular, mas com exclusão da LFI em razão de que Jean-Luc Mélenchon, vistos os resultados já alcançados pela LFI, segue sendo insultado, difamado e atacado incansavelmente.

O POI também entende a tentativa desesperada do presidente Macron de estudar caso a caso possíveis acordos com aqueles candidatos do NFP que lhe pareçam compatíveis. Para se salvar de uma goleada e torcer pelas tramóias do segundo turno.

Em 7 de julho, com a LFI, vote na Nova Frente Popular

Nada é mais urgente hoje do que respaldar essa força, do que fortalecer a LFI, lutando para eleger o máximo de deputados da LFI em 7 de julho. Seja como for, e seja qual for a maioria que saia das urnas, quaisquer que sejam as manobras e artimanhas postas em prática, não demorará muito para que as medidas anti-trabalhadores coloquem as massas contra quem as tomar, contra o RN ou qualquer outro (o mandato presidencial de Macron iria até 2027 independente da nova maioria parlamentar – NdT). No que nos diz respeito, com a LFI, apoiamos todos os processos de rejeição dessas medidas, e todas as demandas essenciais que as massas buscarão impor, que são e serão a marca da situação.

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