Direção omissa frente à escalada contra o PT

Reunida no dia seguinte à prisão de José Dirceu, Executiva se cala

No dia 27 de julho o todo poderoso juiz Sérgio Moro decreta a prisão preventiva de José Dirceu. No despacho se lê “não há como não reconhecer a presença de risco à ordem pública, a justificar a prisão preventiva para interromper o ciclo delitivo”. Em 3 de agosto, quatro dias depois do atentado à bomba contra o Instituto Lula, Dirceu, que cumpria pena em prisão domiciliar, condenado no fraudulento julgamento da Ação Penal 470, é levado preso novamente e está agora em Curitiba, numa prisão por tempo indeterminado.

Um processo montado com as delações premiadas que, ultrajando a presunção da inocência, estabelece agora que todos – os petistas em particular – “são culpados até que se prove o contrário”. Moro decretou que Dirceu é um “risco à ordem pública” e, para interromper o “ciclo delitivo”, o condena a nova prisão.

Foi um deleite para os porta-vozes da burguesia.

Editoriais do Estadão comemoram: “José Dirceu, acusado de ser um dos principais articuladores do esquema de corrupção urdido para dar base de sustentação financeira ao projeto de poder do PT”. O jornal afirma que a Operação Lava Jato – assim como antes o “mensalão” – “demonstra que para a elite do PT vale meter a mão para financiar seu projeto de poder e, de quebra, enriquecer antigos guerreiros desse mesmo povo brasileiro” e comemora o “sepultamento do mito de ‘guerreiro’”. Não faltaram também declarações de que as investigações vão chegar a Lula, retomando inclusive a teoria do domínio do fato, a mesma que serviu para condenar injustamente a José Dirceu.

A burguesia sabe o que quer. O “risco à “ordem pública”, o “ciclo delitivo” que pretender acabar não tem nenhuma identificação com qualquer interesse público, da nação ou do povo.

Só não vê quem não quer

No dia 4, reuniu-se a Executiva Nacional do PT. Na nota adotada assume uma postura de avestruz. Como quem se “desvencilha” de um incômodo, de maneira vergonhosa a nota não menciona o nome de José Dirceu e não presta a solidariedade necessária a um companheiro que, nesse momento, concentra o alvo da ofensiva contra o partido. Uma omissão que semeia ainda mais confusão entre os petistas, enxovalhados pelos reacionários e sem meios de reagir.

Nenhum erro cometido, como, aliás, foram muitos os erros que levaram à Ação Penal 470, cujas portas foram abertas pela política de alianças de colaboração com a burguesia, se sobrepõe à necessidade de fazer frente ao processo em curso no país, manietado pelos interesses dos que querem varrer do cenário qualquer obstáculo aos apetites do imperialismo para subjugar a nação. É isso que está em jogo!

Numa só tacada, a Operação Lava Jato, visa o PT para sepultar “o mito” de que trabalhador possa se organizar em partidos e sindicatos e impor medidas que correspondam a seus interesses e aos da nação, como o passo que foi dado durante o governo Lula, no regime da partilha para a exploração do Pre-Sal. A Operação Lava Jato serve para enfraquecer a Petrobras, a serviço das multinacionais petrolíferas.

A que interesses correspondiam o monitoramento pelo Departamento de Estado dos EUA, através de suas embaixadas, dos negócios feitos pela Odebrecht em vários países e de viagens de Lula, entre 2007 e 2010?

A vida segue?  

Frente à prisão de Dirceu, a reação de porta-vozes do governo foi lamentável. O ministro da Defesa, Jacques Wagner, disse, como se o país vivesse em situação de normalidade: “as investigações seguem, e o país também segue funcionando e com a economia funcionando. O ambiente é que a gente tem que tentar melhorar para poder estimular investidores e estimular a economia a crescer”.

Um descalabro! A Lava Jato já está enfraquecendo a Petrobras (hoje submetida a um plano de desinvestimento promovido pela direção da empresa), já provocou milhares de demissões e, sob o comando de Moro, dois dirigentes do PT, José Dirceu e João Vaccari, estão injustamente presos. E o país segue funcionando?

É uma capitulação criminosa frente à ofensiva hoje contra o PT, mas mirando as organizações dos trabalhadores, para estimular, não o crescimento, mas a pilhagem da nação.

Os “justiceiros”, como qualificou o Senador Requião (PMDB-PR) ao condenar a prisão de José Dirceu (o que era de se esperar dos parlamentares e dirigentes petistas), encastelados na Operação Lava Jato, são a ponta de lança da “guerra” do imperialismo dos EUA para recuperar o terreno perdido no continente, destruir as conquistas arrancadas com a luta dos trabalhadores e bloquear qualquer avanço.

A defesa do PT e a solidariedade aos companheiros injustamente presos, diz respeito a todos que lutam em defesa dos direitos dos trabalhadores e de uma nação soberana.

Misa Boito 


 

 

Com as mãos atadas

Caminho da ofensiva contra o PT foi aberto pela falta de reação da cúpula na AP 470

A imprensa diz que, ao contrário da postura na Ação penal 470, quando a direção do partido teria defendido os companheiros transformados em réus no mensalão, agora toma distância diante da prisão de Dirceu. Errado, a cúpula, adaptada às instituições, se calou nos dois casos.

Em 2012 e 2013, enquanto se desenvolvia o espetáculo midiático do julgamento de José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha e Delúbio Soares, a direção assistia passivamente. Justiça seja feita, contava para isso com o apoio de outras correntes, como a Mensagem ao Partido, que, em nome de uma pretensa ética universal, condenava internamente os réus, o que levou inclusive à expulsão de Delúbio Soares, o que não contou com o apoio da Corrente O Trabalho.

No estouro do mensalão, com a denúncia jamais comprovada de Roberto Jeferson, começava a “cruzada moralista”, que hoje segue se desenvolvendo com a Operação Lava Jato, por um juiz inspirado pela Operação Mãos Limpas na Itália, desencadeada em 1992 e que resultou no governo de Sílvio Berllusconi.

O apelo à moral, o pretenso combate à corrupção, apoiando-se em instituições e partidos a serviço da submissão do país ao imperialismo, é um artifício usado não só no Brasil e não apenas hoje, embora nos dias atuais avultem exemplos.

Já no curso da ofensiva, após a reeleição de Dilma, quando já era clara a operação política que animava a Lava Jato, a direção aprovou uma resolução, para mostrar “bom comportamento”: “O PT reafirma a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção. Qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser expulso”. E a palavra foi dada a Sérgio Moro!

Ao acuar-se diante da fraude que foi a Ação Penal 470, a direção desnorteou a militância, atou as mãos do partido, e assim pavimentou um caminho que busca “extirpar” o PT do cenário político, como já disseram dirigentes do PSDB.

Os trabalhadores, os militantes, poderão julgar aqueles que, ao invés de viver para seu movimento, vivam do seu movimento, por exemplo, fazendo lobby legal. Mas julgarão também, com certeza, os que se omitem diante de um processo brutal para destruir o partido que construíram na luta para “transformar a ordem econômica, social e política” do país.

Artigos originalmente publicados na edição nº 771 de 13 de agosto do jornal O Trabalho

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