EUA: protestos se intensificam e ganham relevância mundial

Uma relevância mundial
Não é uma explosão localizada, mas uma insurreição simultânea no país

Por Devan Sohier, para o Informations Ouvriéres

Um grafite escrito às pressas em um tapume de Mineapolis: “2018: França, 2019: Hong Kong e Chile, 2020: Mineapolis”. Ao inscrever as manifestações em curso na continuidade dos Coletes Amarelos, das manifestações de estudantes de Hong Kong e das mobilizações de massa no Chile, este manifestante anônimo ilustra o alcance mundial da explosão social em curso.

Explosão que se produz no coração dos Estados Unidos, o imperialismo mais poderoso. Essas não são as primeiras revoltas que ocorrem nos Estados Unidos, mas a situação atual tem um caráter particular: não é um confronto comunitário, mas, ao contrário, a união dos negros americanos, dos latinos, de uma ampla camada da juventude branca; não é uma explosão localizada, mas uma insurreição simultânea em todas as grandes cidades do país – mais de 150!

A classe operária americana foi dividida pelo imperialismo: entre raças, entre Estados, entre profissões. Ao reagrupar, sobre a base do reconhecimento da situação particular dos negros americanos, todas as componentes da população, estas manifestações marcam um passo na reconstrução da sua unidade.

As imagens terríveis da morte de George Floyd provocaram essa ira determinada de toda a população negra dos Estados Unidos e além. Esse novo assassinato resume a brutalidade do regime estadunidense contra todos os trabalhadores e, de forma singular, contra os negros. É essa mesma brutalidade que jogou, nas últimas semanas, dezenas de milhões de americanos no desemprego, na miséria e na doença. Os negros são os mais afetados, sempre, porque são os mais precarizados; mas é um ataque frontal a todos os trabalhadores e à população. E existe consciência disso entre os manifestantes.

A crise do aparelho de Estado estadunidense fica evidenciada por essas manifestações. Vemos os policiais e guardas nacionais (os militares reservistas chamados para vir em socorro pelos governadores de mais de vinte estados) se juntarem aos manifestantes. Essas cenas de confraternização expressam a crise que dilacera as instituições americanas. Em face do crescimento dos protestos, Donald Trump ameaça os governadores dos estados de destacar o exército para reprimir o movimento que eles não conseguem conter.

Em Nova Iorque, em Miami, em Portland (Oregon), em Lexington (Kentucky), e mesmo em Washington, policiais com equipamento de choque e guardas nacionais se ajoelham no chão entre os manifestantes. Ajoelhar-se é, desde 2016, um gesto adotado em protesto contra as mortes de negros pela polícia. Em outras cidades, em Flint (Michigan), em Nova Jersey, a polícia uniformizada se junta às manifestações e até levam os cartazes. Acima, policiais se ajoelham no chão perto da Casa Branca
Em Nova Iorque, em Miami, em Portland (Oregon), em Lexington (Kentucky), e mesmo em Washington, policiais com equipamento de choque e guardas nacionais se ajoelham no chão entre os manifestantes. Ajoelhar-se é, desde 2016, um gesto adotado em protesto contra as mortes de negros pela polícia. Em outras cidades, em Flint (Michigan), em Nova Jersey, a polícia uniformizada se junta às manifestações e até levam os cartazes. Acima, policiais se ajoelham no chão perto da Casa Branca.

Todo o sistema político estadunidense está sendo questionado, dos republicanos aos democratas, que perpetuaram todos a opressão dos negros nos Estados Unidos. A morte de George Floyd é um estopim dessa revolta dos negros, dos latinos, de uma ampla camada da juventude branca que, juntos, querem enfim respirar(1) e contestam a política dos dirigentes dos Estados Unidos. E não se trata de uma questão apenas dos Estados Unidos, ela tem uma dimensão mundial.

(1)As últimas palavras de Floyd foram repetir aos policiais que o estavam matando: “Eu não consigo respirar”. Em toda parte, nas manifestações, cartazes que foram agitados e clamavam “Eu não consigo respirar” tornaram-se um slogan geral.


Protestos se intensificam a cada dia
Manifestações entram no nono dia e atingem dezenas de cidades

Por Pablo Valente, correspondente nos EUA

Os protestos começaram após o assassinato de George Floyd, um homem negro de 46 anos, no estado de Minnesota, meio-oeste do país. Floyd, desarmado, foi morto por um policial branco, que o sufocou por quase nove minutos, apesar de repetidas vezes ele ter dito que não conseguia respirar. O assassinato, capturado pela câmera de um celular, foi recebido com choque e indignação ao redor do país. Esse episódio brutal se soma aos assassinatos recentes de outras duas pessoas negras em diferentes cidades, Ahmaud Arbery e Breonna Taylor, gerando uma onda de revolta.

Nos protestos ocorridos em todos os 50 estados do país, milhares de pessoas negras e brancas, majoritariamente jovens, entoam palavras de ordem como “Sem justiça, não há paz” e “Fora a polícia racista”, além de lembrar o nome e as últimas palavras de George Floyd: “Não consigo respirar”. Até o dia 2 de junho, milhares de pessoas haviam sido presas nos protestos e cinco manifestantes foram mortos em circunstâncias ainda pouco claras. Em diversas partes do país foi decretado o de estado de emergência e toque de recolher, mas as manifestações não cessam. Na capital Washington, milhares de pessoas se reuniram ao redor da Casa Branca, residência de Trump.

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O protesto mostrava a revolta dos manifestantes com Trump, que chamou manifestantes de “marginais” e os ameaçou dando a entender que saques ao comércio deveriam ser recebidos a tiros pela polícia

Lideranças do Partido Democrata, como o pré-candidato presidencial Joe Biden, expressaram solidariedade com a morte de George Floyd, o que não acalma a população.
Nas ruas, sabe-se que, apesar das palavras de apoio, vários prefeitos e governadores Democratas tem estimulado violência policial contra manifestantes. Como na cidade de Nova Iorque, de prefeito e governador Democratas, onde carros policiais foram flagrados atropelando dezenas de manifestantes no último final de semana, com a cumplicidade dos governantes.


Algumas referências

– Início do século XVII: Os primeiros africanos, arrancados à força de seu continente, desembarcaram na América para serem escravizados.

– 1776: Quando da independência dos Estados Unidos em relação à Grã-Bretanha e a proclamação dos direitos humanos, a escravidão não é abolida.

– 1860-1864: A guerra civil entre os estados do norte e do sul resultou na vitória dos primeiros e na abolição da escravatura. Mas a segregação e a opressão dos negros continuam, mais forte no Sul, mas também no Norte.

-1948: Algumas medidas são tomadas que “atenuam” a segregação.

– 1955: Início das mobilizações dos negros pelos seus direitos.

– 1965: Derrogação das leis segregacionistas.

-1968: Na sequência das grandes mobilizações dos negros por direitos civis, Martin Luther King, um dos líderes desse movimento, é assassinado, causando protestos em todo o país.
Início da década de 1970
Novas medidas contra a segregação são tomadas, como o fim do ônibus escolar separado entre brancos e negros, com o pretexto da existência de escolas para os negros separadas dos brancos. Mesmo que atualmente a diversidade esteja instaurada, a segregação permanece social: os negros estão concentrados em bairros pobres e, portanto, as escolas não são tão mistas.

– 2020: A situação não melhorou. O racismo institucional, a segregação encoberta, a precariedade e a pobreza são o quinhão dos negros americanos.

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