O presidente francês Emmanuel Macron enfrenta sua mais grave crise, iniciada a partir da revelação de que um assessor próximo, Alexandre Benalla, agrediu manifestantes no 1º de Maio. A partir desse fato, outros vieram à tona, revelando que, por trás da aparência de força, o governo e o próprio regime da 5ª República (que vigora na França desde 1958) se decompõem.
Um incidente pode às vezes concentrar uma crise ampla. O poder de Macron poderia parecer aos observadores da mídia como algo sólido. Mas essa é a superfície das coisas. Há um ano, os trabalhadores, com seus sindicatos, se mobilizam contra os decretos destruidores do Código do Trabalho. Houve mobilizações de funcionários de hospitais, de servidores etc. Depois, ocorreu a greve dos ferroviários, que recebeu amplo apoio da população.
E, então, surge o caso Benalla. É a centelha que desencadeia um incêndio, incapaz de ser apagado por Macron. É um caso de Estado, que abala todo o Estado.
Aos 25 anos, Benalla era segurança de Macron durante a campanha eleitoral. Depois da eleição, tornou-se responsável da segurança do novo presidente, diferentemente de todo o procedimento usual, em que a polícia (civil) e a gendarmeria (força militar policial francesa) assumem essa responsabilidade. Houve vários problemas com os responsáveis da polícia e da gendarmeria, aos quais ele pretendeu dar ordens. Dispondo de carro oficial, apartamento funcional de luxo e um salário de 8 mil euros (R$ 35 mil), Benalla era conhecido também por ter agredido jornalistas ou opositores durante comícios ou visitas de Macron.
No 1º de Maio, enviado como observador pela Presidência, ele estava com uma braçadeira da polícia, o que é ilegal, e agrediu manifestantes com a ajuda de um outro homem. A Presidência, avisada do fato no dia seguinte, o escondeu. Foi apenas em meados de julho, quando apareceu o vídeo que mostra as agressões, que o caso se tornou público.
O presidente manteve-se em silêncio, sua maioria parlamentar ficou desorientada, a tal ponto que a Assembleia Nacional suspendeu a discussão sobre o projeto de reforma constitucional apresentado por Macron.
Sem base real
Há pouco mais de um ano, apoiando-se na rejeição da população aos partidos de direita e de “esquerda” que há décadas se sucedem no poder e aplicam a mesma política, Macron fez campanha dizendo que iria agir em nome do “povo”, do qual ele se considerava a encarnação.
Sem base real, sem um verdadeiro partido, com características de um pequeno bonaparte, ele apelou à “sociedade civil” para constituir seu movimento “A República em Marcha”. O que é a “sociedade civil” de Macron? São “autoempreendedores”, executivos, comerciantes, banqueiros.
Com seus decretos, mecanismo antidemocrático da 5ª República, Macron quis aprovar à força as mudanças no Código do Trabalho, dizendo que tinha um mandato do povo. Em nome do povo, e tentando aplicar métodos empresariais, questiona todas as normas, regulamentos, administração, hierarquia do Estado.
Ao fim de um ano, ele se chocou com a realidade, a da resistência que surge de toda a sociedade, expressa particularmente na greve dos ferroviários, determinados a defender seu estatuto, a defender a empresa pública. O caso Macron-Benalla vai agudizar a crise de decomposição da 5ª República e a rejeição, pela população trabalhadora, de toda essa gente e de sua política, ou seja, no terreno da luta de classes. E estamos apenas no início de um processo.
Correspondente