Disseminação ilegal de calúnias pelo WhatsApp é a última cartada para tentar evitar vitória de Haddad
“No Brasil, as instituições estão funcionando normalmente”, afirmou no domingo, 21, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral(TSE), Rosa Weber, depois que foi divulgado vídeo em que Eduardo Bolsonaro, filho do candidato a presidente, dizia que basta um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Normal, segundo ela.
A declaração foi dada durante entrevista coletiva que abordou a denúncia sobre um esquema ilegal e milionário de distribuição de notícias falsas (fake news) para favorecer Jair Bolsonaro. Sobre isso, nada de efetivo foi encaminhado, porque, segundo a ministra, não existe uma “solução pronta” para se coibir a circulação de informações falsas.
É um enorme escândalo. A eleição,que já estava fraudada pela retirada de Lula da disputa, é atingida agora por outra fraude, de proporções industriais. Empresários apoiadores de Bolsonaro financiaram esquema de disparo de centenas de milhões de mensagens pelo WhatsApp,com a difusão de calúnias contra a campanha de Haddad. O valor de cada contrato é de até R$ 12 milhões. A prática revela no mínimo três crimes: a doação de empresas,utilização de caixa 2 e uso de base de usuários compradas, que a legislação eleitoral proíbe.
As mensagens, cheias de mentiras,eram dirigidas especificamente aos eleitores segundo seu perfil – para alguns, acusações de corrupção;para outros, denúncias de ordem moral etc. É o esquema aplicado na campanha de Trump (leia abaixo). E as postagens explicariam a súbita“onda” em favor de Bolsonaro no primeiro turno. A tal “onda conservadora” não passou de fraude.
A resposta do candidato foi dizer que não tinha controle sobre o assunto. Seus seguidores, como é de hábito, xingaram e ameaçaram a repórter que apurou a informação,Patrícia Campos Mello, da “Folha de S. Paulo”.
Haddad informou que há indícios de envolvimento de 156 empresários no esquema, e acusou Bolsonaro de ter criado “uma organização criminosa com empresas mediante caixa 2”. O abuso de poder econômico praticado deveria levar à impugnação da chapa de Bolsonaro.
Só que a Justiça, que já havia sido alertada pelo PT para o problema,nada fez. Ou melhor, fez o oposto: proibiu o programa de TV da campanha Haddad que mostrava o apoio público de Bolsonaro à prática de tortura e informava quem foi Brilhante Ustra, torturador homenageado pelo candidato inúmeras vezes. Quer dizer, censura a divulgação de informações verdadeiras e se omite quanto à difusão de mentiras e calúnias.
Perseguições
Há também as perseguições e ameaças que marcam a campanha de Bolsonaro. De acordo com a Fundação Perseu Abramo, apenas no período de 1° a 15 de outubro houve pelo menos 83 agressões em razão da disputa eleitoral, 52 das quais com os autores identificando-se como eleitores de Bolsonaro. Fora as ameaças, como odiosas pichações de teor racista.
Em diversas empresas, os patrões fazem pressão sobre os trabalhadores. O caso que mais repercutiu foi o da Havan, cujo proprietário, Luciano Hang, foi processado pelo Ministério Público do Trabalho por coagir seus funcionários a votar em Bolsonaro.
Em reportagem do jornal “Valor” (17/10), empresários do campo dizem que apoiam Bolsonaro porque, com ele, as ocupações de terras serão reprimidas, os fazendeiros estarão armados e “vai acabar com a farra da multa ambiental”. Um dos entrevistados não se incomodou em relatar a pressão contra um empregado que sempre votou em candidatos do PT: “Eu fui mostrando a realidade para ele. E tem a segurança do emprego. Bolsonaro perdeu, eu vou embora”.
Cláudio Soares