Mais de cinco mil delegados vindos de todo o país, do campo e das cidades, num enorme esforço de organização, confluíram para o congresso de fundação da Central Única dos Trabalhadores, em 28 de agosto de 1983, em São Bernardo do Campo.
A decisão de se fundar a Central se deu, por maioria, em agosto de 1981 na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora realizada na Praia Grande (SP). Nessa CONCLAT delinearam-se dois blocos opostos: o “Combativo” ou do “Novo Sindicalismo”, que emergiu das greves de 1978 no ABC paulista que se espalharam por todo o país, criando lideranças que confluíram na fundação do PT, em 1980; e de outro lado, a “Unidade Sindical”, com os sindicalistas do PCB ou “partidão”, PCdoB e MR-8, junto com os pelegos da estrutura oficial. As resoluções adotadas foram uma grande vitória do bloco combativo e a fundação da CUT então marcada para 1982.
Mas na Comissão nacional Pró-CUT, que era paritária, o bloco da “Unidade Sindical” fez de tudo para inviabilizar o Congresso em 1982, conseguindo adiá-lo para 1983. Nesse ano, marcado pela greve geral em solidariedade aos petroleiros de Paulínia, novamente os pelegos e seus aliados tentaram adiar o Congresso. Porém, dessa vez, com maior organização e apoiado pelo Encontro Nacional dos Sindicalistas do PT, o bloco “combativo” resolveu bancar a fundação da CUT.
Assim, a CUT foi criada em ruptura com a ditadura militar e com a estrutura sindical oficial, e, vale dizer, contra o controle do Ministério do Trabalho sobre a organização sindical via unicidade e imposto sindical. A CUT nasceu na luta pelas liberdades democráticas, pela liberdade e autonomia sindical, como uma Central voltada para a luta de classe. Todas as demais centrais sindicais surgidas posteriormente tiveram o objetivo de combater, de uma forma ou de outra, a CUT e seus princípios e prática sindical combativa.
Os desafios atuais
Hoje a CUT está sendo chamada a reaprender com sua própria história e nela encontrar os elementos para superar uma situação de crise do sindicalismo que também a afeta. A ofensiva do capital para flexibilizar e destruir direitos inclui pressão contra os sindicatos e seu papel de defesa da classe, em favor da individualização das relações de trabalho.
Os problemas da CUT não vêm de hoje, mas em 2015, quando a direita levantou a cabeça contra a reeleição de Dilma, ela ainda foi capaz de ser o eixo da resistência ao golpismo nas mobilizações de rua, ajudando a constituir frentes com os movimentos populares e outras centrais. Não foi o suficiente para impedir o golpe, o governo Temer e a eleição de Bolsonaro a que se seguiu, porém a CUT contribuiu para preservar a capacidade de luta do movimento sindical e popular no Brasil.
Hoje, no entanto, apesar da heroica vitória eleitoral de Lula para a qual também contribuiu, a CUT se encontra com um baixo perfil na luta de classe, com a ação de sua cúpula voltada para a busca de consensos com os setores mais retrógrados do sindicalismo no Fórum das Centrais Sindicais, quando o necessário seria uma mobilização ampla desde as bases para, por exemplo, organizar uma Marcha à Brasília pela revogação da Reforma Trabalhista de Temer, que liquidou com os direitos e conquistas de nossa classe.
O 14º Congresso Nacional da CUT, neste ano em que ela completa 40 anos de vida, está chamado a reorganizar de alto a baixo o movimento sindical cutista para a luta em defesa dos interesses da classe trabalhadora, inspirando-se para tanto em sua própria e rica história de luta.
Julio Turra