Itália: greve na ArcelorMittal defende empregos

A siderúrgica ArcelorMittal aproveitou a pandemia para aumentar o número de seus funcionários na Itália em situação de desemprego técnico (redução de jornada e de salários). Isso ameaça a continuidade dos contratos de trabalho. Em resposta, os trabalhadores da empresa iniciaram movimento de greve em 15 de maio. No dia 18, realizaram manifestação unitária em Gênova, com distanciamento social e uso de máscaras. Em virtude da lei de emergência sanitária, organizaram um “passeio” até a prefeitura. A empresa, que pretende se retirar da Itália, ameaça colocar todos os 1.002 funcionários em desemprego técnico, caso a greve não seja interrompida.

Publicamos entrevista concedida a Veronica delle Ginestre por Armando Palombo, delegado da Fiom-CGIL, a federação dos metalúrgicos da central sindical CGIL, e representante da Comissão de Empresa da ArcelorMittal de Gênova-Cornigliano.

A entrevista foi publicada originalmente no jornal francês “Informations Ouvrières”.

Armando Palombo – A ArcelorMittal havia retomado gradualmente as atividades durante a pandemia, a começar pela produção da folha de flandres, em março, e a de chapa galvanizada, no início de maio, chegando assim a colocar 600 operários em trabalho, de um total de mil. Mas, em meados de maio, recuou, alegando uma crise de mercado. Sabemos que as consequências econômicas da pandemia aceleram a reestruturação europeia da siderurgia, mas havia trabalho na fábrica. O comitê de empresa contestou a medida, julgando-a falsa e incorreta. No dia 18, a empresa recusou-se a autorizar uma assembleia dos trabalhadores. Nós paramos o trabalho e fomos dar um “passeio” até a prefeitura. De 21 a 25 de maio, organizamos a greve por oficinas, com bloqueio das passagens portuárias para impedir a saída da mercadoria vendida.

Informations Ouvrières – A manobra da ArcelorMittal, que consiste em utilizar a crise sanitária para não honrar os seus compromissos, foi uma surpresa para você?

AP – É a utilização cínica de uma ferramenta criada em defesa da saúde para fazer entrar dinheiro. Num dia, nós éramos “essenciais” para a nação e tivemos até de fazer greve para obter garantias de segurança sanitária na fábrica (em 13 de março – NdR). No outro dia, somos nós que devemos pagar com os nossos salários pelas decisões empresariais da ArcelorMittal durante a pandemia.

IO – Agora, parece que Gênova e Tarento (as duas maiores fábricas da ArcelorMittal na Itália), assim como outras unidades, estão em vias de construir uma reação comum.

AP – Gênova, Novi, Coni e Milão são muito coordenadas e têm tradição em lutas sindicais, com forte representação da Fiom. Em Tarento, a Fiom tem presença minoritária de 10%, e há fracas tradições sindicais. Foi positivo o fato de ter havido, em 25 de maio, quatro horas de greve em todo o grupo. Mas ainda não é o suficiente.

IO – Pode-se vislumbrar que outras fábricas da ArcelorMittal na Europa entrem nesse movimento?

AP – Nós criamos a “Coordenação europeia dos conselhos de fábrica da siderurgia”, com as regiões de Fos-sur-Mer, Dunquerque, Bremen, Duisbourg, Liège e muitas outras. Mas esse é um trabalho de longo fôlego que levamos juntos, com tenacidade, a partir da base, dos sindicatos nas fábricas, que são a expressão mais autêntica dos trabalhadores. A exigência da Coordenação europeia é vital para a defesa imediata dos trabalhadores, mas estamos atrasados.

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