Publicado por Hacen Quali no “El Watan” (Jornal Argelino) em 16 maio
Estranho paradoxo. Em plena insurreição popular que inflama o país inteiro reivindicando a mudança radical do sistema político, Louisa Hanoune, a dirigente histórica do Partido dos Trabalhadores, foi presa por um tribunal militar e acusada de “complô para mudar o regime”.
Uma dura prova infligida a uma militante de longa data que, desde sua juventude, se envolveu politicamente na luta contra o autoritarismo, enfrentando o implacável regime do partido único e sua política aterrorizante.
Ela, que naturalmente deveria celebrar com seus compatriotas revoltados nesses tempos de encantamento revolucionário o desfecho de um incansável combate pela democracia, encontra-se no banco dos réus da justiça militar.
Guiada por seu senso de responsabilidade política, Louisa Hanoune não tem outra coisa em mente a não ser ajudar a evitar os perigos ao país. Este é o significado de seu compromisso militante desde sempre e que a levou, quando tinha apenas 29 anos, à prisão de El Harrach.
Foi condenada, em 1983, a seis meses de prisão pela Corte de Segurança do Estado por “colocar em perigo a segurança do Estado”, uma sentença que ela cumpriu em companhia da heroína da Guerra de Libertação Nacional, Fatma Ouzeguène.
O encarceramento não a destruiu. Se, obviamente, deixou sequelas, ele certamente reforçou sua convicção e cimentou sua disposição de luta.
Ela nasceu para lutar. Saída de seu meio social na vila de Chakfa em Jijel, que ela e sua família foram obrigados a deixar pois sua casa fora bombardeada pelo exército colonial, Louisa teve que lutar com seus pais para poder estudar. Já se mostravam então as características de uma mulher de caráter forte.
Louisa Hanoune, que quiseram assassinar simbolicamente nesta maldita quinta feira, 9 de maio, ao apontá-la para a vingança popular através de imagens transmitidas repetidamente pelos canais de televisão, foi bastante digna, é uma mulher de garra. A calúnia lançada sobre ela desde sua prisão não poderia atingi-la. Ela já viveu e viu situações piores. Ela é da mesma estirpe que suas valentes irmãs da luta da Libertação Nacional. É nesta mesma linhagem e com a mesma coragem que se inscreve seu combate.
Enquanto caminhava nos corredores do tribunal militar de Blida era toda uma luta que desfilava. O momento deve ter sido uma eternidade para ela, que devia pensar: “O que estou fazendo aqui?”, sobretudo porque não sabia se iria sair livre ou se seria colocada atrás das grades.
Confiando em sua luta pontuada de vitórias e de amarguras e segura de si mesma, a passionária da esquerda argelina teve que enfrentar essa provação com a dignidade própria dos valentes lutadores pela liberdade. “Ela não tem nada de que se envergonhar, não cometeu nenhum crime, Louisa é uma líder política que faz política. Ela está detida por suas opiniões, é uma presa política”, insiste seu braço direito no partido, Ramdane Youssef Tazibt. “Se ela está presa por querer mudar o regime, então deve-se prender todos os argelinos”, ele continua.
Uma mulher de muitas lutas
Louisa Hanoune é uma mulher à parte, uma militante política excepcional, pois, se ser mulher em nossa sociedade já é difícil, ser uma mulher política com ideias julgadas subversivas é um duplo desafio com múltiplos riscos.
Firmemente comprometida com a esquerda radical, aquela que Hocine Aït Ahmed apelidou afetuosamente “Dda Louisa” por causa de suas posições extremamente arriscadas durante a década escura, teve que enfrentar situações extremas quando liderou batalhas que poucos homens políticos tiveram a coragem de se envolver. “Eu sei que posso levar uma bala na cabeça ou ser atropelada por um carro a qualquer momento”, ela repetia a cada vez.
Figura política carismática cuja aura ultrapassou as fronteiras nacionais, a dirigente do Partido dos Trabalhadores que ela fundou com, entre outros, o veterano do Movimento Nacional Mustapha Ben Mohamed, é uma mulher de múltiplos combates.
Radical, mas nunca dogmática; tática, mas sem perder de vista sua estratégia e especialmente sua perspectiva histórica, o estabelecimento de uma ordem democrática baseada no progresso social para todos e o respeito à dignidade humana. Seus adversários políticos criticam sua “proximidade” – suposta ou real – com o regime de Bouteflika, tentando apagar seu longo histórico de lutas. Para Louisa, Bouteflika, que ela poupou em alguns momentos, é apenas o “representante temporário de um sistema político agonizante.”
Lutando abertamente pelas liberdades democráticas, Louisa Hanoune faz parte dos raros dirigentes da classe política que assumem plenamente suas posições a favor de todas as liberdades individuais, da igualdade entre os sexos, do reconhecimento da língua e da identidade amazigues…
Sua oposição ao islamismo político não a impediu de se colocar contra a interrupção do processo eleitoral em 1992 e de defender os direitos políticos dos membros do FIS (Frente Islâmica de Salvação) dissolvido. Mas, seu coração de batalha está na classe operária e nos menos favorecidos. É esta a base ideológica de seu partido político.
Militante internacionalista, Louisa Hanoune constantemente relaciona os acontecimentos nacionais às convulsões mundiais.
Defensora ardente da causa palestina, anti-imperialista, ela é uma grande adversária das monarquias do Golfo; há 64 anos Louisa Hanoune encarna uma corrente de combate global. Ao colocá-la atrás das grades, é toda essa grande jornada que hoje se aprisiona.