Pandemia: “Não podemos permitir a normalização da barbárie”

Ultrapassamos 111 mil óbitos no Brasil. Enquanto os trabalhadores da periferia e da saúde morrem, testes sem reagentes ficam encalhados no ministério sem ministro.

A pandemia permanece nas periferias e estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) confirma que donas de casa, profissionais autônomos e usuários do transporte público são as maiores vítimas na cidade de São Paulo.

Os pesquisadores cruzaram os dados de mortes nos 96 distritos da capital com o perfil dos usuários do Metrô, em que incluíram profissão, meios de transporte utilizados e o tempo de viagem.

Dos dez distritos com mais mortes pelo coronavírus, nove também lideram o número de viagens por transporte público. Nesses locais, de acordo com o Metrô, há grande presença de autônomos e donas de casa. Para o professor Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades da Unifesp, e responsável pelo estudo, os dados confirmam a percepção de que os trabalhadores com menores rendas e informais, vivendo nos bairros mais periféricos, são a maioria dos acometidos.

E seguimos com números recordes de profissionais da saúde infectados e mortos, segundo a Confederação Nacional de Seguridade Social (CNTSS).

O Memorial do Sindicato dos Médicos de São Paulo já possui registro de 217 médicos falecidos na linha de frente.

O observatório da enfermagem até dia 10 de agosto contabiliza mais de 30 mil casos e 341 mortes entre os profissionais os enfermeiros, técnicos e auxiliares.

No último dia 4, o Supremo Tribunal Federal enquadrou a doença por Covid-19 como acidente de trabalho, mas para isso o profissional terá que preencher a CAT – Comunicado de Acidente de Trabalho. Essa informação está pouco difundida e muitos não preencheram o documento. O preenchimento desse informe é o que garante o recebimento durante afastamento para tratamento, a redução do risco de ser demitido, e o recebimento do benefício do INSS.

Ao mesmo tempo Bolsonaro vetou integralmente o Projeto de Lei nº 1.826/2020, que estabelecia uma indenização no valor de R$ 50 mil (cinquenta mil reais) para os profissionais da saúde que ficassem incapacitados ou falecessem por conta da Covid-19, cedido também aos companheiros ou dependentes.

Testes encalhados
Nenhuma organização real para o enfrentamento da pandemia é feita por esse governo. Prova disso é a denúncia feita por um jornal de grande circulação de que o Ministério da Saúde acumula estoque de 9,85 milhões de testes. O número é quase o dobro dos cerca de 5 milhões de exames distribuídos até então aos estados e municípios pelo governo federal. Isso porque esses testes foram comprados sem os insumos para processar os exames, e o governo ainda não resolveu esse problema.

Apesar da confusão dos resultados e dos tipos de testes, eles são um recurso importante para ampliar a identificação dos infectados e tentar frear a propagação da doença. Sem seu uso amplo continuamos com subnotificação, e não sabemos o real número de vítimas. Deveríamos estar processando 110,5 mil testes por dia, segundo a própria projeção do ministério da Saúde. Porém a média diária em julho foi de 15,5 mil exames.

Arthur Chioro, ex-ministro da saúde do governo Dilma, no último dia 8 de agosto ressaltou que “temos apenas 2,7% da população mundial, mas mais de 13,5% dos óbitos por Covid-19”, e se solidariza com todas as vítimas e todos os profissionais de saúde que estão na frente de batalha. No dia em que alcançamos a marca das 100 mil mortes ele reafirma que “não podemos permitir a normalização da barbárie”.

Juliana Salles

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