Markus Sokol: o momento da “democracia” furta-cor

Fernando Haddad foi ao ato virtual “Direitos Já” (DJ) dia 26, puxado por um setor do PSDB, no qual também falaram o deputado do PT Padilha (CNB) e o vereador Eduardo Suplicy. As estrelas foram o ex-presidente FHC e Luciano Hulk, ladeados por vários chefes do PSDB.

Além de Ciro Gomes, estavam presentes Boulos e a deputada Fernanda Melchiona, líder do PSOL, mais o governador Flavio Dino e outros líderes do PCdoB, entusiasta do evento, com nada menos de 16 partidos. Lula, Dilma e Gleisi não foram.

Haddad disse ao apresentador que queria “tornar pública as conversas com você ao redor do movimento DJ”, defendeu o impeachment de Bolsonaro e a restituição de plenos direitos políticos para Lula. Correto. Mas na longa lista de 100 convidados, a grande maioria de golpistas que exaltaram a “democracia”, nenhum se moveu. FHC é contra o impeachment, por exemplo, para não falar dos direitos sociais.

Para que prestigiar este “movimento”? Os internautas (9500 oficialmente, portanto, mais amplo por cima que por baixo) viram líderes golpeados ao lado de golpistas, como se nada fosse. Ora, “passar o pano”, é o que essa direita parlamentar derrotada precisa para se levantar.

É possível um amplo ato unitário pontual pela democracia? Sim, mesmo sem direitos sociais, mas à condição de ter pelo menos um objetivo democrático concreto. Como foi nas Diretas Já e no Impeachment de Collor na época. Mas este DJ não tem um objeto!

Ao mesmo tempo!?
Foi lançada a campanha virtual “Brasil pela Democracia e pela Vida” pela OAB e várias centrais sindicais. Sérgio Nobre, presidente da CUT, explica que “a democracia é muito mais do que o direito de voto. A democracia é uma sociedade promotora de direitos”. Mas seu manifesto não tem Fora Bolsonaro (impeachment) ou outra reivindicação concreta, nem social nem democrática. Para que, então?

Já as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo estão pedindo adesões para lançar um “impeachment popular”, que ainda não foi publicado, e lançam uma campanha Fora Bolsonaro.

Há ainda as “Janelas Pela democracia” do PSB, PDT, Rede e PV, pelo impeachment, mas que recusa a presença do PT nos atos virtuais e serve para as diatribes de divisão de Ciro Gomes contra o Lula.

O PT, com o PSOL, juristas e entidades, lançaram uma “Frente Impeachment Já, Fora Bolsonaro”, pedindo adesões a um abaixo-assinado popular. Na última informação, tinha 70 mil adesões.

Uma questão se impõe. Não há uma concentração de energia, e não só devido à pandemia, nem porque Bolsonaro acalmou o jogo esta semana.

É evidente a dispersão da oposição por cima que não cria um forte movimento por baixo. Alguns temem uma ruptura institucional. Outros querem apenas capturar o PT.

Essa oposição não levanta objetivos concretos como o impeachment, não sai na rua, e fica no discurso da democracia em geral. O próprio PT é puxado por deputados numa direção, por sindicalistas em outra, movimentos noutra etc.

Difícil para o povo se encontrar. Sem uma agenda de rua, mais difícil. Mas vai passar. Será por seu próprio movimento que cedo ou tarde o povo imporá a centralização contra o odiado regime bolsonarista.

Markus Sokol

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