Qualquer pessoa minimamente informada sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro, quando um bando fascista vandalizou as sedes dos três Poderes, em Brasília, visando criar as condições para uma intervenção militar, sabe que os destacamentos da PM e do Exército presentes foram coniventes e até ajudaram os golpistas – imagens de fotos e vídeos são muito claros.
Pois até agora, apesar da prisão e persecução penal de parte dos vândalos, os militares envolvidos estão sendo protegidos ao máximo pela cúpula das Forças Armadas. Apesar de todas as evidências, o inquérito militar aberto, após meses de investigação, isentou as tropas envolvidas de culpa e apontou “indícios” de responsabilidade… do governo federal, ou mais especificamente, do seu Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Pela conclusão do inquérito, o GSI deveria ter previsto os acontecimentos e pedido tropas para proteger o Planalto e os demais edifícios. O fato de que há imagens de militares incentivando os golpistas, abrindo portas, levando água a invasores e confraternizando foi solenemente ignorado. O inquérito foi montado para esconder o papel das Forças Armadas e a sua simpatia à tentativa de golpe.
Mauro Cid, do Exército Brasileiro
Enquanto isso, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, preso por ter fraudado cartões de vacinação de sua família e da do ex-presidente (decidido a se “sacrificar”, para proteger o chefe), agora se vê enrolado com movimentações inexplicáveis de milhões de reais, envolvendo outro militar: o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, também preso. Chamado a depor na CPI dos atos golpistas, comparece de uniforme militar, sob silêncio dos chefes do Exército, expressando claramente que suas motivações se identificam às da sua corporação
Apesar de vocês
No final de julho, em palestra para o Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, referindo-se ao 8 de janeiro, afirma que “nossa democracia foi preservada”. Faltou completar… contra as ações das Forças Armadas.
Ainda disse que é preciso “tirar do imaginário das pessoas a percepção de ameaça” à democracia. É conversa para empurrar a sujeira para baixo do tapete até uma próxima tentativa de assalto ao poder.
Há risco sim, enquanto prevalecer a forma pela qual o artigo 142 da Constituição descreve o papel das Forças Armadas na “garantia da lei e da ordem”, ou seja, como forças voltadas para a repressão interna, para o enfrentamento ao povo brasileiro.