Mudança de rumos

Não é possível se guiar exclusivamente por pesquisas de opinião, mas ao mesmo tempo, não é prudente ignorá-las. Três pesquisas publicadas na última semana indicaram queda na aprovação do governo Lula.

Será necessário aprofundar a análise da situação, mas uma coisa é fato. Enquanto Lula mantém a iniciativa na política externa, no plano interno, quem tem a iniciativa são os bolsonaristas.

O ato convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista que reuniu milhares em 25 de fevereiro, contando com as máquinas dos governos estaduais e municipais de São Paulo, com o apoio de outros governadores, de Minas, Goiás, Santa Catarina, com as igrejas convocando os fiéis, e sabe-se lá com o apoio de quantos empresários, agrupou uma massa considerável.

O que demonstra uma capacidade de mobilização bastante ofensiva, ainda que Bolsonaro tenha apresentado a questão de forma defensiva (pedido de anistia “aos pobres coitados” do 8 de janeiro).

O ato na Paulista, portanto, não deve ser minimizado, mas isso não significa que deva servir de instrumento para uma defesa oca da democracia, esta “democracia” mantida com a tutela militar, um Judiciário reacionário e um Congresso que não representa o povo.

Quem se mobilizaria para defender as atuais instituições?

Para retomar a iniciativa, o governo deveria apresentar alguma proposta concreta, com conteúdo social, que permita mobilizar o povo.

A realidade, no entanto, é que 15 meses depois da posse, Lula não apresentou nenhuma reforma estrutural, nem voltou a acenar, como fez na campanha, no sentido de revogar as nefastas medidas das reformas trabalhista, da previdência, a lei das terceirizações, que prejudicam a classe trabalhadora cotidianamente.

Há quem diga que Lula faz o que pode diante do Congresso mais reacionário da história, onde o governo tem acumulado derrotas.

Para citar apenas as últimas, depois do sequestro de boa parte do orçamento por Lira, a nomeação para presidência de comissões importantes da Câmara, como a CCJ e Educação, para a qual foram nomeados Carolina de Toni e Nikolas Ferreira respectivamente, dois bolsonaristas “quatro quilates”, são exemplos.

Não há dúvida que o Congresso reacionário é um obstáculo formidável para que sejam atendidas as demandas populares. O mesmo vale para o Judiciário. E duas vezes mais para a mais que centenária tutela militar.
Mas é preciso, antes de tudo, reconhecer o obstáculo. E enfrentá-lo, em vez de afagá-lo.

Quanto mais o governo cede para o “centrão”, mais o “centrão” exige.

Quanto mais o governo pacifica com os militares – até mesmo se recusando a organizar as rememorações dos 60 anos do golpe e a instalar a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – mais fácil será para os militares prepararem a sua contraofensiva, no momento oportuno.

Uma mudança de rumos para que o governo atenda os anseios populares – para o que é necessário enfrentar as podres instituições e a histórica tutela militar – é urgente e necessária.

É isso que deve ser apresentado como exigência, desde os atos de 1° de abril, quando, junto com os militantes do Diálogo e Ação Petista, vamos dizer: 60 anos do golpe, basta de impunidade! Punição a Bolsonaro e todos os generais envolvidos!

Vai no mesmo sentido, de exigência de mudança de rumos, a preparação do 1° de maio, principalmente, da Marcha a Brasília que será organizada pela CUT, outras centrais, confederações e sindicatos, no dia 22 de maio, para exigir do Congresso, do Judiciário e principalmente de Lula, a revogação da reforma trabalhista, da previdência e da Lei das terceirizações.

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