Terminadas as eleições municipais, várias organizações sindicais e populares, como a CUT, organizam delegações para o G 20 Social que ocorre no Rio de Janeiro entre 14 e 16 de novembro, antecedendo a Cúpula de Líderes dos dias 18 e 19.
O Grupo dos 20 foi criado em 1999, por iniciativa do G 7 (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão), sendo integrado pelos ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais do G 7 e de outros 12 países: África do Sul, Argentina, Brasil, México, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia, Rússia e Austrália. Também participam a União Europeia e a União Africana.
O seu funcionamento baseia-se em reuniões ministeriais e reuniões de cúpula com chefes de Estado e governo. A do Rio é a 19ª reunião de cúpula. Os objetivos declarados do G 20, adotados em sua reunião de Berlim (2004), são: eliminação de restrições ao movimento de capital internacional; desregulamentação; condições de mercado de trabalho flexíveis; privatização; garantia de direitos de propriedade intelectual e de outros direitos de propriedade privados; geração de clima de negócios que favoreça investimentos estrangeiros diretos; liberalização do comércio global (pela OMC e acordos bilaterais de comércio).
Como se vê, são objetivos ligados aos interesses do capital internacional, associando os chamados países “emergentes”, como o Brasil, às potências imperialistas do G7, num “fórum para cooperação e consulta nas matérias pertinentes ao sistema financeiro internacional”, como o próprio G 20 se define.
Um mundo mergulhado em crises e guerras
O que as organizações sindicais e populares teriam a fazer em tal fórum? Em várias das reuniões anteriores do G 20 ocorreram mobilizações de denúncia de ataques de governos a direitos e conquistas dos trabalhadores, contra situações de guerra e opressão aos povos do mundo, contra a destruição do meio ambiente promovida por grandes grupos capitalistas, etc.
Agora, por proposta do governo Lula, que assume a presidência temporária do grupo e sedia a sua 19ª cúpula, criou-se o G 20 Social, como um “espaço para a participação ativa da sociedade civil no debate, possibilitando que organizações e indivíduos contribuam diretamente para as discussões e formulações de políticas da cúpula”.
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, explica no site da central que a inovação do G 20 Social é que “a participação dos movimentos passa a ser institucional”. O que se dará em inúmeras “atividades autogestionadas”, mesas de discussão que façam sugestões que poderão ou não ser aceitas pelos governos.
Nobre dá como exemplo que “o movimento sindical vai apresentar uma proposta muito interessante que é a geração de 575 milhões de novos empregos formais e também a formalização de um bilhão de empregos no mundo todo até 2030”.
Um bilhão de empregos formais até 2030! Alguém em sã consciência pode acreditar que essa proposta será acolhida pelos governos que participam do G 20?
Vivemos num mundo marcado por uma terrível crise em todos os planos – econômico, climático, político – que é resultado da política do imperialismo promotora de guerras, como na Palestina e na Ucrânia. Nesse mundo real, só a luta e resistência dos povos pode derrotar o imperialismo e abrir caminho não só para empregos formais, mas para o futuro da humanidade.
Independentemente de intenções, que podem ser as melhores, na prática o chamado G 20 Social é um mecanismo de integração das organizações populares e sindicais a um fórum de governos, aos quais, em meio a uma multidão de ONGs sempre presentes em reuniões desse tipo, elas poderão fazer “sugestões” que serão ou não acatadas. Não deixa de ser uma tentativa de neutralizar a ação dessas organizações, dando-lhes “participação institucional”.
Todo o esforço feito para participar e trazer gente aos debates sobre o tema geral desse G 20, “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”, poderia ser melhor utilizado, por exemplo, em atos de massa contra a política de guerra do imperialismo, contra o genocídio praticado por Israel na Palestina e Líbano, cujos cúmplices, governos dos EUA e da União Europeia, estarão presentes no Rio de Janeiro.
Julio Turra