Ao nos deparamos com essa doença nova nos encontramos frente a inoperância do Governo e Ministério da Saúde e a realidade do Sistema de Saúde Público, com diversos desafios para os trabalhadores ao enfrentar a situação.
No Brasil o primeiro caso ocorreu em 27 de fevereiro, e a pandemia foi anunciada em 11 março, e seguindo a progressão esperada teremos 10 vezes o número de casos a cada sete dias. Isso significa uma projeção para o final de março de 5000 casos confirmados no país. Os sintomas na maioria parecem ser leves, semelhantes a gripe (80% dos casos). Porém a maior mortalidade se dá nas faixas etárias acima de 60 anos e com doenças prévias cardíacas como pressão alta, diabetes, doenças pulmonares, pessoas imunossuprimidas como em tratamento para câncer.
70% da população depende do SUS
No Brasil há uma discrepância em atenção à saúde para quem usa o sistema público e o privado e uma discrepância regional de acesso a serviços e leitos. São 47 mil leitos de Terapia Intensiva (UTI) e o Sistema Único de Saúde Público tem apenas 44% desses leitos, sendo que 70% da população é atendida exclusivamente por essa faixa. O número de leitos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste é também muito reduzido em comparação às outras regiões. No Hospitais Públicos as UTIs já estão constantemente cheias, com 95% de ocupação.
Temos uma restrição há mais de três anos de investimentos no SUS, são mais 22 bilhões que não foram investidos e que gerarão impacto agora nos leitos, equipamentos, proteção dos trabalhadores e nossa sobrevida.
O ponto chave da atuação nessa pandemia mostrado pelos países atingidos foi a da implantação das medidas restritivas de isolamento social como a principal arma para combater a disseminação do vírus, e com isso impedir que o sistema de saúde colapse e que mais pessoas sejam contaminadas e mais mortes ocorram!
Medidas aquém da necessidade
Essas medidas vêm acontecendo muito aquém da necessidade! São Paulo e Rio de Janeiro, com casos já na comunidade desde 12 de março, decretaram somente dia 17 estado de emergência pública, e as escolas públicas em São Paulo só fecharam a partir do dia 23! O próprio Bolsonaro em isolamento se presta a cumprimentar e se aproximar de outros em manifestações no dia 15. E permanece a criticar as medidas tímidas e atrasadas dos Estados que deviam ser aplicadas por ele, e a minimizar a doença e os óbitos causados por ela. Absurdo, um crime!
Inúmeros problemas se colocam aos trabalhadores. Os trabalhadores da linha de frente, os da saúde, em São Paulo tiveram férias suspensas por 60 dias. Muitos deles principalmente nas Unidades Básicas, Ambulatórios, e UPAS denunciam a falta de Equipamentos para proteção Individual (EPI – máscara, avental, óculos, luvas) e estarem sendo coagidos a atender mesmo na ausência dessa proteção.
E na sequência o acometimento a toda classe de trabalhadores do início dos óbitos, são sete já confirmados (em 19/03) e muitos outros em investigação. Não temos leitos suficientes, os recursos estão contingenciados, medidas restritivas não estão sendo aplicadas com a devida seriedade pelo governo. Foi prometido pelo Ministério da Saúde 5 bilhões e 2.000 mil leitos de UTI, e até agora nem meio bilhão liberado!
A única saída para nós trabalhadores é cobrar a nossa garantia da seguridade social: saúde, direitos previdenciários e de assistência social, e a manutenção de renda e salário que garantam a sobrevida nesse período!
Juliana Salles, é dirigente do sindicato dos médicos de SP