Peru: governo à deriva, massas em luta

Em 21 de abril realizou-se a Paralisação Agrária Nacional que, por 24 horas, bloqueou rodovias em todo o sul do país – Puno, Junín, Áncash e Ayacucho – e na região da capital, Lima.

Os manifestantes, convocados por organizações nacionais do setor agrário e popular, além de exigir melhoras para o setor agrícola, levantam três exigências: fechamento do Congresso nacional, uma lei anti-monopólios e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Este “paro” preventivo é o concentrado da situação crítica que atravessa o Peru desde a eleição e posse do presidente Pedro Castillo em julho de 2021.

Em menos de um ano de governo, Castillo sobreviveu a três propostas de “vacância”- um tipo de impeachment – apresentadas pela extrema-direita, graças a acordos que passou com as bancadas de centro-direita. Ao mesmo tempo Castillo trocou de primeiro ministro várias vezes, provocando crise e divisões no partido que o elegeu, o Peru Livre (PL). A inoperância e falta de propostas concretas de seu governo provoca grande decepção na base popular que o apoiou contra os políticos tradicionais, de esquerda ou de direita, derrotados nas eleições de 2021.

“Huancayazo” é um marco na situação
No início de abril, em Huancayo, província berço do Peru Livre que elegeu Castillo, uma verdadeira explosão social uniu camponeses, transportistas, sindicalistas e pequenos comerciantes revoltados contra a política abusiva de monopólios privados que dominam os preços do petróleo, alimentos e fertilizantes.

Os manifestantes exigiram a presença do presidente Castillo, que não foi à região, mandando seus ministros em 7 de abril para dialogar sobre as exigências de cumprimento da promessa eleitoral de nacionalização das terras (reforma agrária) e da convocação da Constituinte. Nada resolvido.

O suplemento do jornal “El Trabajo” de abril, tribuna livre impulsionada por militantes peruanos da 4ª Internacional, destaca que: “Nessa situação de convulsão social, qual é a resposta do governo Castillo? Parece que está sem norte político, não tem maioria parlamentar e nem partido político. Busca tranquilizar os ‘golpistas’ com o conto do ‘consenso e governabilidade’, mas não tem qualquer resposta para enfrentar a sabotagem dos monopólios de alimentos. Assim aumenta o desencanto e a indignação de lideranças e das massas que o fizeram presidente para cumprir as promessas eleitorais que fez em sua campanha”.

Como se viu em Huancayo no início do mês e agora também se vê no “Paro agrário”, é preciso devolver a palavra ao povo peruano para que seja eleita uma Assembleia Constituinte Soberana, que substitua o atual Congresso controlado pela direita, que tenha plenos poderes para atender as urgentes demandas populares e à qual o presidente Pedro Castillo submeta o seu mandato. Só com a organização por baixo de assembleias populares em todo o país e sua centralização a nível nacional, se poderá impor tal saída à crise que se aprofunda no Peru.

Lauro Fagundes

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