PMDB desembarca para acelerar o golpe

E as ratazanas gritam “Fora PT” e “Temer presidente”

O desembarque do PMDB do governo Dilma, onde ocupava sete ministérios e a vice-presidência da República, já era dado como certo muitos dias antes de seu anúncio oficial.

Em apenas três minutos o Diretório nacional do PMDB aprovou, por aclamação, o seu rompimento com o governo e a entrega dos cargos que detinha (cerca de 600 segundo a imprensa) e dos ministérios (até o momento, quatro dos sete ministros do PMDB iriam entregar seus cargos. Dos outros três, Kátia Abreu da Agricultura e Celso Pansera da Ciência e Tecnologia disseram que ficam no governo).

Depois de 13 anos de aliança com governos encabeçados pelo PT (Lula e Dilma), o PMDB, numa reunião presidida por Romero Jucá tendo ao seu lado Eduardo Cunha, rompe com o governo aos gritos de “Fora PT” e “Brasil para frente, Temer presidente”.

Tal desenlace seria cômico se não fosse trágico, para o PT no caso. Afinal, diziam os dirigentes petistas, a aliança com o PMDB era fundamental para a governabilidade, pois dava maioria parlamentar ao governo.

Como os interesses de classe representados no PMDB do “é dando que se recebe” sempre foram os das oligarquias regionais e setores da classe dominante (como ruralistas ou empresários), o apoio que o partido dava aos governos presididos pelo PT sempre foi muito relativo, embora o preço cobrado em matéria de cargos sempre fosse muito salgado.

Sabotagem permanente.

Nas eleições presidenciais de 2014, nas palavras de Eduardo Cunha ao final do 2º turno, o PMDB dividiu-se ao meio entre Aécio e Dilma, apesar de ter Temer como vice na chapa vitoriosa.

Dentro do governo, o PMDB sabotava iniciativas do governo quando essas colocavam em questão os interesses que representa. Basta lembrar da iniciativa de Dilma, em resposta ás jornadas de junho de 2013, de propor um plebiscito sobre a convocação de uma Constituinte para a reforma política, torpedeada por Temer e a direção do PMDB de forma imediata.

Agora, atendendo às “vozes das ruas” e às exigências do “mercado”, Temer já negocia com os tucanos um governo de transição até 2018, cujo programa seria o da “ponte para o futuro” – um ataque em regra a direitos sociais e trabalhistas, mais privatizações e desvinculação de receitas para saúde e educação, entre outras coisas – e um ministério baseado num condomínio PMDB-PSDB.

Só há um problema neste cálculo do PMDB, que depende do impeachment de Dilma para realizar-se. O problema é que as organizações dos trabalhadores e da juventude estão em luta contra o golpe, atraindo setores democráticos, intelectuais, artistas e juristas num grande movimento nacional.

O ministro Jacques Wagner declarou que o desembarque do PMDB “abre espaço para um novo governo”. Um novo governo teria que começar a aplicar uma nova política, baseada no programa de emergência do PT, para recuperar toda sua base social para a luta contra o golpe e assim abrir uma saída positiva para a crise. Ainda é tempo!

Júlio Turra

Artigo originalmente publicado na edição nº783 do jornal O TRABALHO de 31 de março de 2016.

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas