Afirmando o PT, militantes dizem “chega de conciliação”
Há momentos em que uma questão secundária ganha relevância maior e concentra os desafios a serem enfrentados.
Foi o caso da eleição da presidência das mesas da Câmara e do Senado. Uma questão que vinha sendo tocada como há muito tempo – as bancadas são levadas a acordos de votação em nomes que ultrapassam limites aceitáveis, em nome de uma proporcionalidade que a rigor não existe e a vida continua. Mas, desta vez, a eleição foi atravessada pela combinação de existir um governo golpista e uma profunda crise interna no PT.
A resolução adotada pelo Diretório Nacional do partido, que admitia o voto do PT em candidatos golpistas e a imediata reação da militância revela duas questões centrais.
A primeira remete à permanência de uma política que alicerçou a crise partidária, sua fragilização e, portanto, abriu espaço para o golpe.
Adaptada às atuais instituições e, como se vivêssemos uma situação de normalidade, esta política levou a maioria do Diretório Nacional à posição de convivência com o golpe, através de acordos por cargo, enredando o partido no jogo das instituições golpistas.
Essa política se choca com a sobrevivência do PT como partido de massas ancorado nos interesses dos trabalhadores.
A segunda mostra que no PT, apesar dos erros e das derrotas sofridas em 2016, há uma expressiva militância que resiste e quer recuperar o partido como instrumento de luta da classe trabalhadora. Ao levantar-se com os meios que dispõe e numa situação em que as instâncias partidárias esvaziadas não lhe permitem controlar a vida do partido, a militância em peso, disse Não! Num contundente recado de unidade – apesar de certas manobras divisionistas – e de afirmação do partido, um chega de conciliação!
É a militância que, conectada aos trabalhadores, quer seu partido a serviço dessa luta, a única capaz de derrotar o golpe e todas as políticas que ele pretende avançar.
Contra a destruição da previdência, pelo cumprimento do piso salarial nacional, os professores decidiram ir à greve da educação a partir de 15 de março. A CUT decidiu propor às outras centrais um dia nacional de paralisação por nenhum direito a menos, no mesmo 15 de março.
São dois caminhos irreconciliáveis. Ou o PT, e seus parlamentares, se somam e ajudam a organizar – tarefa de um partido dos trabalhadores – a luta contra o golpe e seus ataques às conquistas de classe e de aniquilação da soberania, reatando assim com sua base social; ou, se permanece a atual política, o desenlace da crise que atravessa o PT, jogará água no moinho dos golpistas que querem entregar o país aos interesses imperialistas.
É nesta esquina que o partido prepara seu 6º Congresso.
Apesar dos reveses sofridos, o PT segue sendo o único partido que pode colocar o freio na ofensiva contra o país e sua maioria trabalhadora. À condição de livrar-se da política que o jogou na atual situação.
Não é tarefa fácil. Como mostrou o episódio das mesas, o uso do cachimbo entortou a boca de vários. Mas é uma tarefa necessária e, como também mostrou o episódio das mesas, há uma militância disposta a lutar por isso, trilhar o caminho de reconstrução do PT como um partido dos trabalhadores.
Por isso, nesse mês de fevereiro, renovamos o chamado à construção das chapas “Unidade pela Reconstrução do PT”, o que “não é tarefa exclusiva de nenhuma de suas correntes ou de suas direções. Na verdade, é a sua militância, maior que a soma de todas as correntes, que está chamada a protagonizar a resistência à regressão do país, que passa pela reconstrução do PT” (clique aqui e leia o Manifesto de cinco pontos para a reconstrução do PT). Foi o que se demonstrou no episódio das mesas, no quase uníssono “não votem em golpistas”, vindo de baixo, de todos os cantos do país.