As instituições estão funcionando, contra o povo. Essa afirmação não é nova neste jornal, longe disso. Mas ela se atualiza de tempos em tempos, cada vez mais curtos.
No Congresso segue a farra das Emendas Parlamentares, enquanto avançam projetos que negam direitos básicos às mulheres, quanto ao aborto legal, mesmo em casos de estupro e em crianças. No Supremo Tribunal Federal, enquanto dois ministros (Cristiano Zanin e Gilmar Mendes) já votaram a favor das escolas cívico-militares do governador Tarcisio de Freitas de São Paulo – o mesmo da PM que jogou um jovem de uma ponte – o chamado contrato de trabalho intermitente (que alterna períodos de atividade e inatividade, onde os trabalhadores não recebem salário), da contrarreforma trabalhista de 2017, foi validado. O ministro Nunes Marques cinicamente declarou: “instrumento válido para abrir novas possibilidades ao trabalhador”.
Os generais, envolvidos até o pescoço junto a Bolsonaro na trama que previa golpe de Estado e até o assassinato de Lula, mais Alckmin e Alexandre de Moraes, embora com alguns indiciados, seguem impunes. Impunes estão desde os crimes da Ditadura Militar (1964-85). E, de conciliação em conciliação com os generais, almirantes e brigadeiros, seguem tutelando a República via Artigo 142 da Constituição, o da GLO (Garantia da Lei da Ordem). Da trama todos eles sabiam. Todos são culpados e devem ser julgados, com o devido processo legal, por conspiração no golpe contra um governo eleito, pela execução e participação no plano, prevaricação ou omissão.
Mas omissão não se espera do presidente Lula que, urgentemente, precisa falar à nação sobre o plano dos milicos contra a democracia, o voto do povo e até a sua própria vida.
O que generais, altos juízes e a maioria do Congresso Nacional têm em comum? Por trás de si têm a Faria Lima, os banqueiros, o agronegócio…a mão do imperialismo dos EUA.
E o governo eleito em 2022, em meio a uma gigantesca onda de fraudes eleitorais? Tem a força do povo, se buscar ligar-se a ela enquanto há tempo.
Por hora, o Pacote Fiscal anunciado pelo ministro Haddad é a contramão disso. Os cortes vão na raiz do que 67% dos trabalhadores do país dependem (ver pág. 7). É no salário-mínimo, no Abono Salarial e no BPC (Benefício de Prestação Continuada). A possibilidade de mexer nos privilégios dos militares foi retirada de cena no momento.
A via tem que ser outra. Que Lula responda aos especuladores que não vai cortar nada. E aos trabalhadores que vai restituir os direitos e entrar na trincheira da luta para revogar as reformas que os atacaram. A luta não é fácil, mas fica impossível subordinando-se às intuições anti-povo, ao invés de enfrentá-las.
OLHO: Girar à esquerda, enquanto há tempo!