Saudação aos mineiros negros de Marikana (Azânia/África do Sul)

Saudação aos mineiros negros de Marikana (Azânia/África do Sul) que, com sua greve de 40 dias com seu sindicato AMCU, não cederam diante da vergonhosa e sangrenta repressão do governo sul-africano e acabam de obrigar o truste mineiro Lonmin a recuar.

Saudação aos mineiros negros de Marikana, bem como aos mineiros das minas de ouro que continuam sua greve e combatem contra a superexploração selvagem imposta pelos trustes mineiros a mais de um milhão de mineiros negros da África do Sul. Eles enfrentam não apenas os patrões, mas também o governo sul-africano presidido por Zuma e todos que condenaram o seu movimento pretendendo falar em nome dos trabalhadores e povo negro da África do Sul.

Os trabalhadores de todo o mundo ficaram revoltados quando tomaram conhecimento, há um mês, do ignóbil massacre cometido em 16 de agosto, em Marikana, pela polícia do governo Zuma contra seus irmãos sul-africanos, engajados na linha de frente do combate internacional da classe operária contra o imperialismo.

Vergonha para esse governo tripartite Congresso Nacional Africano (CNA)-Partido Comunista-COSATU, presidido por Zuma, que ousou ordenar à polícia metralhar os grevistas com armas automáticas, abatendo 34 operários e fazendo prisões em massa!

Vergonha para os dirigentes do Partido Comunista Sul-Africano (SACP) que, desde 17 de agosto, difundiram um chamado ao assassinato de sindicalistas da AMCU, ao apresentá-los como « provocadores » na pior tradição dos « amarelos » formados na escola stalinista da burocracia do Kremlin!

Vergonha para os dirigentes do NUM [1] que, depois de haver tentado quebrar a greve, de apelar ao exército e à polícia para « restabelecer a ordem », depois de ter condenado as reivindicações dos grevistas como « irresponsáveis » e de ter organizado o locaute junto com os patrões, acabam de declarar que o acordo assinado pelo AMCU em 18 de setembro « recompensa a anarquia » !

Vergonha para esses dirigentes que ousam, em acordo com o patronato das minas, alarmar-se de que o acordo arrancado ao preço de sangue em Marikana « pode se estender para outros lugares, pois os trabalhadores podem dizer que “Se eles conseguiram, nós podemos fazer o mesmo”. » ! Declarações que os dirigentes da COSATU (que acaba de reunir o seu congresso) não condenaram !

Não causa qualquer surpresa a atitude da Internacional « socialista » – da qual o CNA é membro – que realizou seu congresso em 30 de agosto na África do Sul, de silêncio cúmplice com aqueles que acabavam de fazer correr o sangue dos operários de Marikana, congresso que reelegeu por unanimidade Georges Papandreou como presidente, o homem que contribuiu por três anos a impor ao povo grego os planos assassinos da troika (FMI-União Europeia-Banco Central Europeu).

Mas, os trabalhadores de Marikana abriram a via aos trabalhadores das minas de ouro e platina de Modder East, de KDC West, de Rasimone, das minas do grupo Amplats em Rustenburg que entraram também em movimento ! Essa greve, essas greves tomam hoje um significado mundial.

Em todo o mundo, para salvar o regime capitalista baseado na propriedade privada dos meios de produção, a classe capitalista, seus governos, suas instituições internacionais (FMI, Banco Mundial, OMC, União Europeia…) lançam uma ofensiva geral em nome da « redução do custo do trabalho », uma ofensiva para esfomear os povos, destruir suas conquistas e organizações, quebrando toda barreira à exploração ilimitada.

Para atingir seus objetivos, a classe capitalista não tem outra escolha senão apoiar-se na cumplicidade daqueles que, falando em nome dos operários e povos oprimidos, submetem-se nos fatos à bota de ferro do regime capitalista agonizante. Que trabalhador – qualquer que seja o seu país – não reconhece nos obstáculos contra os quais os trabalhadores de Marikana se chocaram, os mesmos com os quais se enfrentam, sob formas particulares, na luta de classe em seu próprio país ?

Nisso, a greve de Marikana, tal como as greves em curso em outras minas, para a classe operária internacional e para sua vanguarda reveste-se de uma importância maior.

Os trabalhadores de Marikana tiveram razão, para obter suas reivindicações, de utilizar a única arma que dispõem os oprimidos : a organização independente da classe operária.

Os trabalhadores de Marikana tiveram razão de reunir-se aos milhares em 19 de setembro, calmos e determinados, para ouvir os dirigentes do sindicato AMCU prestar contas de seu mandato nas negociações, a fim deles mesmos decidirem sobre a saída da greve.

Em todas as línguas da nação azaniana, em zulu, tswana, xhosa, sotho… , no estádio onde estavam reunidos, os mineiros unidos gritaram « Avante AMCU, avante ! ». Os trabalhadores de Marikana, assim, lembraram que o proletariado negro das minas da África do Sul – um milhão de trabalhadores – ponta de lança da luta contra o regime odiado do Apartheid, continua não só a ser o coração da classe operária, mas também o da nação azaniana, isto é da imensa maioria negra.

A greve de Marikana e as greves em curso, ao se chocarem diretamente com o governo Zuma, abalam vinte anos de subordinação dos dirigentes das principais organizações saídas da luta contra o Apartheid (CNA, PC, COSATU) à pretensa « transição democrática » dos anos 1991-1994, concluída pelos acordos de Kempton-Park.

Os mineiros sabem que foi em nome de uma disposição incluída nos acordos da CODESA [2] que os patrões de Lonmin organizaram o locaute dos grevistas. Eles sabem que foi em nome de uma lei, que continua em vigor, do regime do Apartheid, que o procurador ousou, num primeiro momento, acusar os 270 grevistas presos pela morte de seus 34 colegas assassinados pela polícia (sendo depois obrigado a recuar nesse ponto).

Os acordos de Kempton Park tiveram o único objetivo de preservar os interesses da minoria capitalista branca – instrumento dos grandes grupos imperialistas -, a propriedade privada das minas, o controle das terras por uma minoria de grandes proprietários brancos. Foram os acordos de Kempton-Park que garantiram a continuidade do pagamento da dívida do regime do Apartheid, sob controle das instituições internacionais.

A 4ª Internacional saúda o combate de sua seção azaniana, engajada ao lado de outros militantes na construção do Socialist Party of Azania (SOPA), partido que se colocou de imediato ao lado dos mineiros em greve.

A 4ª Internacional considera que a greve dos mineiros confirma a justeza do combate levado pelos militantes trotsquistas intervindo no SOPA, que há vinte anos nunca deixaram de caracterizar os acordos de Kempton Park como a negação das legítimas aspirações da imensa maioria negra à democracia, isto é, à instauração do poder da maioria negra, a República negra. Perspectiva inseparável das aspirações legítimas da maioria negra a estabelecer sua soberania sobre as riquezas da nação, isto é, a passagem das minas, das terras para as suas mãos.

22 de Setembro de 2012

Notas

[1] NUM: Sindicato nacional dos mineiros, filiado à COSATU.

[2] CODESA: Convenção por uma África do Sul democrática, que agrupou os herdeiros do regime do Apartheid e os dirigentes das principais organizações negras, e desembocou nos acordos de Kempton Park (1994).

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