Por que manifestantes saem às ruas contra Bolsonaro apesar da Covid
No maior ato pelo “Fora Bolsonaro”, dia 19 na avenida Paulista, a presença do PT foi um pouco maior. Sem Lula no palanque, o orador do partido foi o ex-candidato a presidente, Haddad. Ele disse, e a mídia registrou, que “só o impeachment vai salvar a democracia”. Será?
Um impeachment poria na presidência o vice general Mourão. Isso é democracia? Na verdade, isso é funcionamento das desacreditadas instituições atuais.
A Campanha Fora Bolsonaro não convocou o povo pelo impeachment nos dois primeiros atos de rua. A massa não veio por essa razão, veio pelo Fora Bolsonaro, por Vacina e por R$ 600. Veio contra a fome, a carestia e o desemprego. Impeachment foi o tema de dezenas de atos virtuais e manifestos que deram em nada. Nos preocupa que agora o PT e a própria convocatória do terceiro ato para 24 de julho voltem a focar no impeachment.
Afinal, quem acredita que Artur Lira (PP), o presidente da Câmara – que tem poder para isso -, vai instalar o impeachment? Como fez Cunha (MDB) contra a então presidente Dilma. Quem acredita que Rodrigo Pacheco (DEM), o presidente do Senado – que tem poder para isso -, vai depois presidir o julgamento do impeachment? Como fez Renan Calheiros (MDB) contra uma mulher honesta, Dilma.
Nós não acreditamos em Papai Noel. E notamos que os líderes golpistas não veem aos atos.
O povo viu este Congresso Nacional reacionário votar as contra reformas trabalhista e previdenciária, o teto de gastos, e, agora, a privatização da Eletrobras. Estamos vendo o Congresso preparar, em benefício próprio, uma ampla reforma eleitoral, como se fosse uma Constituinte, mas sem mandato e consulta popular.
Da maioria reacionária do Congresso do “Centrão” é improvável sair a solução. O povo não espera daí uma saída política. O imperialismo de Biden não está interessado, tampouco os bancos, os latifundiários e grandes empresários que estão tendo grandes lucros. As milícias e as máfias do Estado também não querem mexer nada. No momento, todos eles não querem precipitar nada, querem seguir até 2022.
Todos podem ver o circo da CPI da Pandemia no Senado. Tem trapezista, palhaço e bailarina, tem discurso, demagogia e mentira, mas não tem medida prática. Os mortos continuam mortos, as vacinas estão em falta, assim como os testes. Mas ninguém é punido.
Tutela militar, o nó da República
O ponto alto do espetáculo foi o depoimento de Pazuello, o general da ativa ex-ministro da Saúde que mentiu várias vezes. Ele subiu no palanque do presidente contra o regulamento do Exército. Instalado inquérito, ele foi absolvido pelo comandante da arma, absolvido “com louvor”, pode-se dizer, pois ganhou um cargo no Palácio do Planalto!
O comportamento militar mostra quem manda. Está aí o nó: a tutela militar sobre a República. E não é de hoje na história do Brasil, vem desde o golpe militar da “proclamação” da República. E nunca houve uma Constituinte Soberana e Democrática no país. O nó foi contornado pelo PT nos 13 anos de governo. Até se prestigiou o Exército com a missão de ocupação do Haiti.
Na Constituição de 1988, a tutela está no artigo 142 que diz que as Forças Armadas, “a pedido” de um dos três poderes, serão acionadas para garantir a lei e a ordem. Uma aberração, pois na democracia deveriam defender a soberania nacional, não a ordem interna.
Bolsonaro quer se alçar a um poder autoritário, bonapartista, por cima das instituições. Ele tem uma base antiga nas PMs, mas a aventura depende de arrastar os generais deste Exército, cuja tradição autoritária é de “poder moderador” acima dos demais poderes, também de tipo bonapartista. Eles podem se chocar aqui e ali, mas se completam na escalada autoritária em curso.
No Dia do Exército (19 de abril), Bolsonaro discursou à cúpula militar: “Passa por vocês. Vocês é que decidem em qualquer país do mundo, como aquele povo vai viver”. No seu “mundo”, quem decide são os generais de Bolsonaro!
Fora Bolsonaro é Abaixo o Governo
Foi contra o governo dos generais que o povo saiu às ruas, sem pedir autorização a ninguém. Saiu apesar da pandemia, mas também da campanha pelo “fique em casa” de muitas lideranças.
Primeiro, a juventude começou a sair, de forma real mas ainda limitada pelas lideranças sindicais e políticas pouco ou nada engajadas. Muitas delas estavam até ontem pregando a arrecadação de alimentos – o que não é tarefa de partido nem central sindical –, ao invés de exigir cestas básicas dos governos. Muitas lideranças da Oposição (PSOL, PCdoB e PT) e de movimentos e centrais (MST, CUT, Força, CTB, CSP) estão paralisadas. Ou esperam as eleições de outubro de 2022, ou condicionam a mobilização à vacinação da maioria.
Falando claro: até dia 18, véspera do último ato, as centrais sindicais “mobilizavam” pela sua “agenda legislativa”, a qual propõe aos três poderes – com Bolsonaro, portanto! – formarem um “Comitê gestor da crise” num tipo de união nacional. Isso tem que mudar. Todos juntos para pôr abaixo o governo, já!
Esperar um ano e meio, é dar um ano e meio para Bolsonaro preparar uma eleição mais trapaceada que a de 2018. Se é que não prepara um autogolpe. A coisa é séria. Ele subiu o tom, tenta confundir o povo sobre o “voto impresso”. Em choque com o Judiciário, agora abriu guerra com o Tribunal Superior Eleitoral denunciando fraude em 2018 e até em 2014… enquanto faz campanha ilegal com camiseta Bolsonaro 2022!!!
Bolsonaro excita a desconfiança popular, lucra com a passividade da Oposição e, na condição de derrotado por Lula nas pesquisas, joga no caos para se impor.
Mas dá prá ganhar o jogo. Se se mobilizar realmente o povo – inclusive com paralisações – pelo Fora Bolsonaro, para reverter as contrarreformas, pelo emprego, pelas verbas para a educação e a saúde, pela reforma agrária, o fim da pilhagem da Amazônia, pela reforma radical do Estado de cabo a rabo, através de uma Constituinte Soberana, com um governo digno do povo, e Lula Livre na cabeça.
Markus Sokol