Depois de passar o ano defendendo uma “frente ampla”, quando se esperava o apoio à candidatura de Lula, o PCdoB lançou a deputada estadual gaúcha Manuela D´Ávila para a presidência da República.
Não se discute o direito do partido lançar o nome, mas a oportunidade política.
Entrevistada, Manuela negou que sai para negociar uma vice de Lula ou outro candidato, e tentou escapar da questão de ser, então, ela o nome para encabeçar a “frente ampla”, respondendo que “tem segundo turno”, sem explicar o que quer dizer.
Mas o PCdoB não pode fingir que vamos a uma eleição normal. O favorito nas pesquisas, Lula, pode ser impedido pelo Judiciário no 1o turno ou 2o turno. E vistas as relações do PCdoB com Lula, sobra o argumento para a Lava-jato que “nem o PCdoB acredita na candidatura Lula”!
Mais que cálculo eleitoral, essa é hoje a questão central para todo movimento de massas contra o golpe – é só Lula candidato quem pode vencê-los.
Mas parece que o PCdoB que não era Lula antes das Caravanas – associava Ciro Gomes à uma “frente ampla” – continua não sendo Lula depois, agora vai de Manuela, não se sabe bem aonde.
O senador Lindberg (PT-RJ), que na juventude militou no PCdoB, acerta ao comparar à atitude do velho PCB stalinista contra o governo progressista de Vargas, em 1954. As forças pró-imperialistas, então, queriam derrubá-lo e o partido pediu sua “renúncia”. Depois do suicídio de Vargas, as massas enfurecidas empastelaram a sede de seu jornal no Rio.
Hoje, é preciso confrontar cada Diretório do PCdoB a esse grave erro, cada quadro e cada militante. Eles costumavam afluir às Caravanas de Lula, como ficarão nas próximas?
“Esquerda”?
Entre os petistas, as reações foram em geral desconfiadas.
Alguns desorientados, órfãos do “marxismo-leninismo” (stalinismo), saudaram a candidatura do PCdoB porque levaria “à esquerda” a frente com Lula. Não se sabe porque atribuem esse dom ao PCdoB, mais conhecido pelas estranhas alianças, como o voto em Rodrigo Maia (DEM) para presidente da Câmara, quando tentou atrair o PT.
Um blogueiro chegou a comparar Manuela com a proposta de candidatura do poeta Pablo Neruda pelo PC chileno nos anos 70, que teria levado à esquerda depois, o candidato comum do PC com o PS e outros na “Unidade Popular”, Salvador Allende. Deixemos de lado a comparação entre o significado de Neruda e Manuela para o povo – não para as letras, é claro -, o que já é “forte”. Não temos espaço aqui para examinar o freio stalinista do PC, inclusive sobre o PS de Allende. Concentremos no que propõe a candidata do PCdoB: “Não há razão para o mercado se assustar com o PCdoB. Vamos procurar os setores econômicos vinculados à indústria nacional. O PCdoB é um partido sério”.
Bem, os trabalhadores estavam fartos de “partidos sérios” como esse, quando se identificaram com o PT, partidos que corriam atrás da miragem de um setor burguês para aliar (erro que o PT parece começar a entender).
O interesse dos trabalhadores é realizar a mais ampla unidade ao redor da candidatura de Lula, inclusive com o PCdoB que se declara anti-imperialista, e deve ser possível trazê-lo outra vez.
Markus Sokol