A intervenção no Rio de Janeiro, decisão inédita desde a promulgação de Constituição de 1988, foi decretada dois dias depois de findo o carnaval e quatro dias antes da pretensa votação da contrarreforma da Previdência que comprovaria que Temer não tinha os 308 votos necessários para aprova-la.
O estado agora tem um governador “café com leite” e um interventor que responde diretamente a Temer.
A questão da segurança no Rio de Janeiro, não é segredo para ninguém, é consequência direta da ausência do Estado e de políticas públicas, que atinge diretamente o povo das comunidades que agora se vê constrangido por tanques, revistas e fichamento.
Em 2017, com o pior resultado do país, o Rio fechou mais de 92 mil vagas com carteira de trabalho assinada, e em meados do mesmo ano, “mais de 14 mil pessoas estavam em situação de rua na cidade do Rio. Em 2013, eram cerca de 5.580 – um aumento de 156% nesse período, que reflete a queda no nível de emprego e na renda da população” (Estadão 13/02).
Um estado onde os hospitais não conseguem mais atender doentes, servidores da saúde trabalham sem receber, professores e aposentados mendigam cestas básicas por falta de salário, a Polícia não tem dinheiro para combustível, e o governo golpista – que impôs o Regime de Recuperação Fiscal que só piora a situação – agora manda tanques e milicos para cima do povo pobre!
Ninguém acredita, nem os interventores!
O comandante do Exército, general Villas Boas, depois de decretada a intervenção, referindo-se à operação do Exército na comunidade da Maré, declarou: “ficamos lá 14 meses. Do dia em que saímos, uma semana depois, tudo havia voltado ao que era antes”.
Mas, o mesmo Villas Boas, perfilado à nova missão, apela para o Judiciário e Ministério Público “para proporcionar condições para atingirmos o âmago do crime organizado”. Milicos e Judiciário juntos, uma parceria contra os direitos e as condições de vida do povo trabalhador.
A intervenção não vai resolver o problema que aflige as famílias trabalhadoras. Pois o terreno onde o crime prospera é aberto com a destruição do estado, dos empregos e do enxugamento com os gastos sociais patrocinadas pelo golpista Temer.
Como diz a Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), “Precisamos de escolas e creches, hospitais, projetos de geração de emprego e renda e políticas sociais voltadas principalmente para juventude. Precisamos de uma intervenção que nos traga a vida e não a morte”.
A intervenção não vai resolver o problema do povo, mas pode estar preparando a solução aos interesses golpistas.
O interventor nomeado, general Walter Souza Braga Neto, declarou: “O Rio de Janeiro é um laboratório para o Brasil”. Um governo fraco, que pagou o fiasco de não entregar a contrarreforma da Previdência, mas que avança medidas que destroem as condições de vida do povo e atacam a soberania do país, tem 3% (sua popularidade) no tamanho do pavio que pode explodir o barril.
Nem aqui, nem no Haiti
Villas Boas chamou a imprensa a “estar presente, para verificar nosso modus operandi consolidado em 13 anos no Haiti”. Como lembra a Faferj, “essas mesmas forças intervencionistas estiveram recentemente em missões de paz no Haiti e favela da Maré onde podemos observar que grande parte das ações foram marcadas por violação de direitos humanos.”
De fato, a intervenção no Rio de Janeiro se baseia no “laboratório” feito no Haiti (ocupado em 2004 sob comando das tropas brasileiras) e na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), criada no governo petista. Um elemento de reflexão que faz parte da batalha por um novo governo do PT, de Lula, pelo qual lutamos.
No carnaval, a indignação do povo contra o golpe se manifestou de maneira inconteste. O PT, que votou contra a intervenção, poderá apoiar-se nesta indignação para aliviar o povo do Rio de Janeiro deste soco na cara que recebeu depois das folias de carnaval.