Sobre o anúncio de uma volta à CUT

É o que indica artigo de dirigente sindical ligado ao PSOL

Em 5 de agosto foi publicado no site “esquerdaonline” o artigo de Mauro Puerro, da corrente Resistência do PSOL, intitulado “40 anos da CUT: passado, presente e, futuro”, ilustrado por uma enorme bandeira da CUT ondulando no céu de São Paulo. (https://esquerdaonline.com.br/2023/08/05/40-anos-da-cut-passado-presente-e-futuro/)

Mauro participou de todo o processo de lutas que levou à criação da CUT em 28 de agosto de 1983 e, como membro da Convergência Socialista e depois do PSTU, militou no quadro da central até 2004, quando sobreveio a ruptura que originou a Conlutas.

O sentido geral do seu artigo é o de anunciar o regresso à CUT de um conjunto de militantes que a abandonaram há quase 20 anos. É o que se depreende da parte final do mesmo, em que se fala dos desafios colocados diante da central ao completar seus 40 anos, seguidos pela frase: “Nós estamos dispostos a essa batalha”. O que só pode ser motivo de felicitação.

Entretanto esse anúncio de retorno se faz sem qualquer balanço sobre a ruptura realizada em 2004 pelo que viria a ser a Conlutas e depois a CSP-Conlutas (2010), cuja política sectária e divisionista tinha como objetivo declarado combater a CUT, através da desfiliação de sindicatos, enfraquecendo-a e no limite a destruindo. Política que fracassou e que está na origem de uma crise terminal da própria CSP-Conlutas, como é visível na recente desfiliação do Andes-SN da mesma.

Ao invés de um balanço claro do erro que foi abandonar o terreno de luta no interior de uma central de massas e com origem na luta de classe como a CUT, o artigo adota o caminho tortuoso de atribuir à postura “governista” da sua direção nos 14 anos de governos Lula e Dilma a ocorrência de “várias rupturas importantes ainda que minoritárias”, omitindo a responsabilidade dos que tomaram a iniciativa de fazê-las (PSTU no caso da Conlutas, PSOL no da Intersindical, que depois se dividiu). Em seguida admite que, mesmo que “as duas centrais do passado transformaram-se em mais de 10”, por razões políticas e financeiras, a CUT “continuou e continua como a maior delas”.

O que justificaria então o retorno à CUT? O fato de ela continuar a ser “a maior das centrais”? Ou teria mudado o “governismo” da maioria de sua direção? Aqueles que, como nós, lutam cotidianamente nos marcos da CUT pela independência da central diante dos governos e patrões e sua autonomia diante dos partidos políticos, sabemos que essa é uma batalha permanente, que não se resolve da noite para o dia.

Então o que justificaria a volta à CUT, segundo o artigo de Mauro Puerro? A política de “Frente Única” do Comitê Fora Bolsonaro que a CUT teria impulsionado a partir do Fórum das Centrais e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que, ainda que não tivessem tido a força de derrotar o governo nas ruas, ajudaram a vitória de Lula nas eleições de 2022. “Frente Única” que deve ser prolongada, diz o artigo.

O curioso é que esse elogio à “frente única” que se estende ao “Fórum das Centrais”, é feito num momento em que, no debate do 14º congresso da CUT, se coloca em questão a subordinação da mesma a consensos com os setores mais retrógrados do sindicalismo, numa política voltada à pressão de corredores no Congresso e nos Ministérios, sem qualquer mobilização das bases sindicais para o combate no terreno direto da luta de classes.

Assim, ao invés da mobilização desde as bases para revogar a reforma trabalhista imposta desde o governo Temer, o “Fórum das Centrais” propõe apenas revisar alguns de seus pontos numa mesa tripartite com os patrões, mediada pelo governo.

É claro que é preciso lutar pela unidade de ação de todas as centrais em torno de reivindicações concretas, preservando a independência de cada uma delas, a começar pela própria CUT. Isso seria a frente única, voltada para ação de massas e incluindo os movimentos populares. Mas não é isso que se dá no “Fórum das Centrais”, que funciona como uma espécie de “direção acima das direções” priorizando acordos de cúpula com a UGT e Força Sindical, herdeiras do bloco pelego que há 40 anos combateu ferozmente à criação da CUT, para apresentar projetos institucionais de temas trabalhistas e sindicais.

Assim, ao fazer o elogio da ampla “frente única” que a CUT teria impulsionado, dando a entender que esta é a razão para a “volta à CUT” de militantes sindicais de sua corrente do PSOL, o artigo de Mauro acaba embelezando o “Fórum das Centrais” que atua em aberta contradição com as bases sobre as quais a própria CUT foi fundada há 40 anos: um sindicalismo independente e combativo, um sindicalismo de luta de classe.

Julio Turra

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