Tsunami de abstenção eleitoral atinge a França

As eleições regionais na França registraram verdadeiro tsunami de abstenções. De cada três eleitores, dois não foram votar no segundo turno, em 27 de junho, índice semelhante ao do primeiro, uma semana antes. A imprensa francesa registrou a amplitude do choque representado pelo resultado.

No jornal “Le Figaro” (21/6), pode-se ler: “É principalmente o nível de abstenção que se destaca como o grande vencedor das eleições. É histórico. No total, 68% dos eleitores não foram às urnas no domingo. Uma queda dramática em comparação com as eleições regionais de 2015, quando a abstenção chegou a 50,09%, e as de 2010, quando foi de 53,67%”.

Há uma preocupação nas cúpulas com essa situação, expressa claramente por um editorialista do mesmo jornal, segundo o qual “é o sinal de uma verdadeira ruptura do quadro democrático, o testemunho irrefutável do descrédito que atinge todos os partidos tradicionais, em primeiro lugar o de Emmanuel Macron”.

Nas eleições anteriores, a abstenção teve como conteúdo principal a punição aos partidos no poder. Agora, o significado é mais amplo. Quando 33 milhões de eleitores não comparecem às urnas, isso exprime o fato de que a grande maioria da população não espera nada, não vê solução nas eleições, nas instituições, no sistema atual.

Todos os partidos atingidos
Agitava-se antes o perigo da extrema direita, representado pelo RN, partido de Marine Le Pen, para passar a ideia de que, no segundo turno da futura eleição presidencial, a população teria como única alternativa um duelo entre Macron e Le Pen. Esse roteiro também foi abalado pela onda de choque da abstenção em massa, que não poupou ninguém.

Se todos os partidos foram duramente atingidos, o desastre é particularmente grande para o partido de Macron (LREM), relegado a níveis humilhantes. O chefe de Estado não representa mais do que 3% dos eleitores no segundo turno.

E é este governo ultraminoritário na população, isolado, que pretende manter a sua política destruidora das conquistas sociais e democráticas. De acordo com o sindicato FO, mais de 1.800 leitos hospitalares foram fechados de janeiro a março deste ano. O governo está desmantelando o que resta do sistema público de acesso ao ensino superior. Financia com bilhões de dólares os planos de corte de salários, destruição de empregos e de conquistas coletivas, exigidos pelos grandes grupos financeiros.

A questão é saber como o movimento operário transformará o que foi o resultado das eleições regionais em ultimato dirigido ao governo. Há uma raiva profunda, expressa em greves, manifestações, assembleias. Não é ainda algo generalizado, mas esses conflitos dão uma indicação do movimento de fundo que amadurece na classe trabalhadora, na juventude e em amplas camadas da população.

Correspondente

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas