Um 1º de Maio contra os efeitos da guerra

Na Europa, continente diretamente afetado pela guerra na Ucrânia e seus efeitos na inflação e ataques aos serviços públicos, enquanto aumentam os gastos militares por parte dos governos que participam da OTAN, o 1º de Maio de 2023 foi marcado por grandes mobilizações puxadas pelas organizações sindicais na Inglaterra, na Alemanha – dois países que vivem uma onda de greves -, na Itália, Espanha, Portugal…

Mas foi na França que ocorreram as maiores manifestações, convocadas em unidade por todas as centrais sindicais contra a imposição do aumento da idade de aposentadoria pelo governo Macron.

2,3 milhões de manifestantes na França
No comunicado da Intersindical nacional de 2 de maio podemos ler: “2,3 milhões de jovens, assalariado(a)s e aposentado(a)s desfilaram em toda a França, fazendo deste 1º de Maio de 2023 um dos mais importantes de nossa história social. Uma centena de sindicalistas dos 5 continentes juntaram-se à nossa manifestação parisiense em apoio à mobilização francesa. (…) Esta 13ª jornada unitária contra a reforma das aposentadorias demonstra a determinação dos trabalhadores e trabalhadoras em derrotar essa reforma. Há três meses recordes de números de manifestantes e de grevistas vem sendo batidos seja no setor público, seja no privado.”

De fato, a resistência contra a imposição pelo governo Macron de uma reforma impopular através de métodos autoritários, coloca em questão as próprias instituições da 5ª República francesa. É uma resistência impressionante e que serve de exemplo para a classe trabalhadora de toda a Europa e além dela.

Entretanto a nota da Intersindical francesa citada acima, ainda que reafirme a exigência de retirada da reforma, joga expectativa num eventual referendo sobre a reforma de Macron que teria que passar pela Assembleia nacional e demoraria meses para ser feito, quando nas bases sindicais a discussão é a de bloquear o país com uma greve geral por tempo indeterminado como única saída efetiva para o impasse. Uma nova jornada de ação comum, de greves e manifestações, foi convocada pelas centrais sindicais para 6 de junho.

Coréia do Sul, contra a desregulamentação do trabalho
A central sindical KCTU anunciou 130 mil manifestantes no 1º de Maio em 15 cidades do país asiático, dos quais 30 mil na capital Seul, questionando os ataques desregulamentadores ao Código do Trabalho promovido pelo governo Yoon Seok-yeol, aliado do governo Biden dos Estados Unidos, inclusive na tensão militar crescente deste com a China.

A central coreana afirmou estar pronta para organizar uma greve geral em julho para acabar com a destruição da legislação trabalhista, por aumento de salários e em defesa do emprego. Um dirigente do sindicato da construção em Gangwon-do, ameaçado por um processo, imolou-se com fogo para protestar contra a repressão à atividade sindical promovida pelo governo.

A imprensa informou também que a FKTU, a outra central coreana, realizou nas proximidades da Assembleia Nacional um Congresso nacional do trabalho que culminou em passeata aos gritos de “fim das reformas anti-operárias”.

Manifestação em Seul no 1º de Maio

Peru: 1º de Maio exige fora Boluarte, Constituinte!
Milhares de manifestantes de centenas de sindicatos, organizações populares e partidos de esquerda tomaram as ruas de Lima, capital do Peru, neste 1º de Maio, desafiando a proibição de manifestações baixada pelo prefeito de extrema-direita López Arriaga.

Na véspera a CGTP, principal central sindical, havia promovido junto a outras organizações de luta do povo peruano, um Encontro nacional buscando centralizar a luta contra o governo de Dina Boluarte.

Uma grande marcha percorreu o centro histórico de Lima, dirigindo-se ao monumento ao pioneiro do socialismo e fundador da CGTP, José Carlos Mariátegui, onde tomou a palavra o seu atual secretário geral, Geronimo López, que destacou o objetivo de forjar uma frente única de massas para lutar pelos direitos dos trabalhadores e para que “esta ditadura vá embora e tenhamos novas eleições”.

O jornal “El Trabajo” nº 240, difundido na ocasião, trazia as propostas adotadas pelas organizações sindicais e populares que se reuniram no norte do país: construir um comando nacional de luta para botar abaixo o governo Boluarte, fechar o congresso reacionário e abrir a via para uma Constituinte soberana, preparando uma nova marcha a Lima vinda de todas as regiões para o dia 19 de julho.

Manifestação do 1° de maio no Peru

Líbano: contra as políticas do governo
Uma grande manifestação convocada pela Federação Nacional dos Empregados do Líbano ocorreu no dia 1º de Maio diante da sede do governo em Beirute, “contra todas as políticas econômicas, financeiras e sociais do governo, que são as políticas do FMI”, como dizia a sua convocatória.

Um comunicado de Reda Youssef Saad, presidente do sindicato dos trabalhadores do couro, membro da Fenasol, evoca o “empobrecimento do povo e a pilhagem organizada feita pela classe política corrupta e seus aliados dos cartéis sobre os bens da nação e a riqueza do povo, cujo dinheiro está hoje confiscado pelos bancos (…). Por trinta anos eles fizeram uma política que nos levou à situação atual de pobreza, fome, desemprego e baixos salários.”

Julio Turra

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