O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em sua recente visita ao Brasil, depois de elogiar o envolvimento do Brasil em “missões de paz”, falou como quem manda, indo direto ao ponto: “’Buscamos que vocês reconheçam a diferença entre interferência indevida nos assuntos de outros países e o aprofundamento da democracia e dos direitos humanos quando eles estão sob ataque’, afirmou, dizendo que o Brasil poderia desempenhar papel importante em transições no mundo árabe”. (OESP, 30/05).
Para os EUA não há interferência indevida quando seus interesses estão em jogo. Todas as ações armadas, como no norte da África, ou as ingerências, como nas recentes eleições venezuelanas, são feitas em nome da democracia.
Na Líbia, no Mali (norte da África) e na Venezuela, o governo brasileiro não se alinhou com o governo dos EUA na sua “cruzada democrática” para espoliar as nações. “Cruzada democrática” em nome da qual as bases estadunidenses na Espanha se preparam para uma eventual intervenção na Argélia.
Discurso gasto é verdade, mas é o mesmo que serve de pretexto para as “missões de paz”, como a da ONU no Haiti.
A declaração de Joe Biden foi feita na véspera de completar nove anos da presença de tropas estrangeiras no país, esmagando a soberania do povo. Ocupação decidida pelo governo Bush e que o governo Lula aceitou comandar, com o envio de tropas ao Haiti.
Esse ataque à soberania do povo foi combatido na conferência continental pela retirada das tropas do Haiti, nos dias 31 de maio e 1º de junho em Porto Príncipe, que decidiu dirigir-se a todos os governos com tropas no país para que respeitem o direito dos haitianos à sua auto-determinação e se retirem.
O elogio do porta voz do imperialismo ao Brasil, foi a porta de entrada para dar o recado, e elevar a pressão: não basta o Haiti, é preciso o alinhamento total à política de pilhagem das nações. No plano externo e também interno.
Sim porque internamente são essas pressões que se expressam no cerco que se monta para que o governo faça ainda mais do que já fez para colocar o país à serventia das necessidades do capitalismo em crise.
Chega de salários altos! Chega de consumo excessivo! Chega de direitos! Chega de riquezas nacionais sob o controle do Estado! Essas são as palavras de ordem dos capitalistas. O recente aumento dos juros pelo Banco Central, o pacote de privatizações em execução, a ampliação das desonerações, aos patrões, da folha de pagamento, respondem a essas pressões. Isso tem que parar.
O porta voz de Obama veio aqui para cobrar. Não apenas o apoio do governo às guerras que promove. Ao falar em “o começo de uma nova era na relação Brasil-EUA”, o imperialismo está de olho em nossas riquezas, como o nosso petróleo, e querendo tirar da frente qualquer obstáculo aos seus interesses.
Mas há outra cobrança dirigida ao governo que vem dos trabalhadores do campo e da cidade. Chega de privatizações! Chega de desonerações da folha de pagamento! Chega de impunidade aos criminosos da ditadura! Chega de privilégios aos latifundiários!
É a essa cobrança que Dilma deve uma resposta. Mais do que nunca, quando as pressões estadunidenses se elevam, é hora de romper com a política imperialista no plano interno e externo, duas faces da mesma política que provocou a crise que sacrifica e ameaça os povos em todo mundo.