Veja a amplitude da greve geral que sacode a França

Publicamos a tradução de um suplemento do jornal Informations Ouvrières (Informações operárias), editado sob responsabilidade do Partido Operário Independente francês. A publicação saiu na noite do dia 5 de dezembro e mostra a força e a enorme amplitude do movimento, que continua.

Os relatos mostram a forte adesão dos trabalhadores organizados em diversas regiões do país, principalmente no setor de transporte, petróleo e educação, além de outras categorias, para lutar pela retirada do projeto de reforma da previdência.


 

Um maremoto! Em todo a frança, manifestações extremamente massivas, extremamente determinadas, juntaram centenas de milhares pela retirada do plano Macron-Delevoye. Lado a lado nos desfiles: jovens, assalariados de todos os setores, do público como do privado, Coletes amarelos, aposentados. Em Paris, durante várias horas, vários milhares de manifestantes caíram na armadilha das forças da polícia na praça da República. E, no entanto, mais de 250 000, com determinação, desfilaram até ao fim.

Neste 5 de Dezembro, milhões decidiram fazer greve.Setores inteiros estão paralisados.

A greve é quase total na RATP (transportes públicos) e na SNCF (caminhos de ferro). As percentagens de grevistas são massivas em toda a Educação Nacional, na EDF (Eletricidade de França), em centenas de empresas da metalurgia, da química, da grande distribuição…
Centenas de assembleias gerais tiveram lugar.

Uma exigência: ganhar, obrigar a dobrar Macron. Retirada!

Eles não querem jornadas de ação que conduzem ao impasse, querem decidir, controlar o seu movimento.

Numerosas assembleias gerais na SNCF, na RATP, na Educação Nacional, na Saúde, nas empresas do privado, decidiram continuar a greve.
Em algumas destas AGs, foi constituído o comitê de greve.

Entre as palavras de ordem mais retomadas nas manifestações: «O que fazemos amanhã, O que fazemos segunda feira, Continua-se!»

Há dois anos e meio, no segunda turno da eleição presidencial, a abstenção atingira um nível record. Uma abstenção massiva exprimindo a rejeição, a vontade de correr com todos os partidos, todas as forças institucionais que se sucederam no poder, desde há décadas, sempre contra os trabalhadores, sempre ao serviço do capital financeiro.

Macron representa apenas 20% dos eleitores inscritos na primeira volta, igualmente a sua maioria parlamentar.

Milhões decidiram fazer greve hoje. O que fará o Governo?

Um comunicado da Presidência, acaba de indicar «o chefe de Estado está calmo e determinado a levar a cabo esta reforma, escutando e consultando os parceiros sociais (…)».

No que diz respeito aos trabalhadores, reforçados pela amplitude do que se passou no dia 5, há as assembleias gerais para eles próprios decidirem, com as suas organizações, de continuar a greve pela retirada da lei, a greve até à sua retirada.

Publicamos neste suplemento as decisões tomadas hoje por dezenas cestas assembleias gerais.

A redação

TRABALHADORES FERROVIÁRIOS
Uma continuidade massiva da greve. Ecos de algumas Assembleias Gerais:

– Gare de Leste: 130 ferroviários,  intervenções da CGT, do SUD e da FO, unanimidade pela retirada do plano Macron-Delevoye, continuação da greve por unanimidade.

– Gare do Norte: 98% de grevistas nos condutores, criação de um comitê de greve votado por unanimidade com os sindicatos SUD, CGT, FO e Unsa. 107 votantes a favor da continuação da greve.

– Gare Saint-Lazare: Intervenções de sindicatos. 81 a favor da continuação da greve, 4 abstenções.

– Paris-Saint-Lazare (Achères): intervenções da CGT, do SUD e da FO. 120 participantes, 119 a favor da continuação da greve.

– Gare Montparnasse: 80 ferroviários acompanhados por 40 agentes RATP. Unanimidade pela continuação da greve.

– Gare de Austerlitz: 92 presentes com FO, SUD, a CGT e a Unsa. Continuidade por unanimidade.

– Paris-Sudeste (centro técnico sudeste europeu): 40 participantes com a FO, SUD e a CGT. Unanimidade pela continuação da greve amanhã (6).

– Centro técnico Paris Leste: A continuação da greve  por unanimidade.

– Creil: 80 participantes FO, CGT, Unsa e CFDT. A continuação da greve por unanimidade.

– Versailles: 170 presentes votam a continuação da greve.

– Chartres: mais de 120 ferroviários decidem a continuação da greve por unanimidade.

– Le Mains: 120 participantes com SUD, CGT e FO. Continuação por unanimidade.

RATP (Rede Autónoma de Transportes Públicos)
A GREVE CONTINUA ATÉ “SEGUNDA-FEIRA”

A greve na RATP contra a lei das reformas foi reconduzida “até segunda-feira” pela quase totalidade dos grevistas nas assembleias gerais quinta-feira de manhã (5 de Dezembro de 2019) soubemos de fontes sindicais.

A mobilização, muito forte na 5ª-feira será “igual até 2ª-feira” estimou Thierry Babec, da Unsa, principal sindicato da RATP. “A determinação” dos trabalhadores “traduz-se por uma rede quase paralisada, uma situação que prosseguirá nestes próximos dias se o governo não ouvir as suas reivindicações de abandono do projecto Delevoye da lei das reformas”, previne num comunicado a CGT segundo sindicato da RATP.

NA EDUCAÇÃO NACIONAL
– Bordéus – na assembleia geral dos professores de 5 de Dezembro na Bolsa do Trabalho: 310 presentes votaram por unanimidade (menos uma abstenção) a continuação da greve, e apelam a participar nas assembleias inter-profissionais e nas manifestações que serão organizadas em Bordéus.

– Lyon – uma AG de professores, às 15 horas, votou por 412 votos a favor uma moção (*) pela continuação da greve. Uma sondagem sindical referia 200 escolas fechadas. Delegados deram conta da sua determinação em fazer greve mas também das hesitações de colegas. O voto final ganhou.

– Nantes – 240 professoras na AG, 227 a favor da continuação da greve. O mesmo em Saint-Nazaire, numa AG, reunindo 80 professores.

– Toulouse – aquando da AG, voto da continuação até 3ª-feira 10, incluída: 250 a favor e 35 abstenções.

– Angers – voto na AG: 177 a favor, 35 abstenções.

– Paris – AG ensino básico, Paris, 250 presentes precedida de uma AG no bairro. Voto a favor da continuação até 3ª-feira 10: 250 a favor, assim como a criação de uma bolsa de greve e para discutir nas AGs de bairro a constituição de greve.

– Yonne – Houve AG, com cinquenta participantes “uma maioria de mãos levantou-se a favor da continuação do movimento de greve desde 6ª-feira, 6 de Dezembro” (fonte da imprensa regional).

– Le Mans – 300 professores grevistas reunidos em AG decidem a continuação da greve a partir de 3ª-feira (fonte Le Monde.fr).

– Haute Loire – as 4 assembleias de sector do ensino básico da Haute Loire, com FO e Snuipp, representando 130 escolas, votaram a favor da continuação da greve até 2ª-feira à tarde. Dois liceus de Puy-en-Velay votaram também a favor da continuação. A manifestação é marcada por um desfilar que relembra 1995: milhares e milhares! A AG dos 150 delegados do ensino básico e secundário e do ensino agrícola com FNEC, FP, FO, FSU, Solidaire e CGT, confirma o voto das AGs de sector e de escola da manhã; recondução na 6ª-feira e na 2ªfeira. Um comité de greve constitui-se.
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(*) – “Moção de 200 membros do pessoal da educação nacional e do ensino agrícola do Haute Loire reunidos em AG departamental 5ª-fª 5 de Dezembro com as Federações sindicais FNEC FP FO, CGT Educação, FSU e SUD Educação: A AG do pessoal da educação nacional e do ensino agrícola, reunidos após a manifestação no Puy-en-Velay de 5 de Dezembro, por iniciativa das organizações sindicais FO, CGT, FSU e Solidaires, composta de professores auxiliares de educação e delegados do sector e das escolas, felicita-se pela enorme mobilização de 5 de Dezembro em termos de manifestação e greve: 115 escolas fechadas e mais de 80% de grevistas no ensino básico, 75% de grevistas dos colégios e liceus.
A AG felicita-se pela recondução da greve em numerosos sectores (SNCF, RATP, Hospitais …) e informa da sua decisão de prosseguir a greve na 6ª.Fª 6 e na 2ª-Fª 9 de Dezembro. Apela a todos os colegas a juntarem-se.
A AG decide organizar-se em comité de greve sob a forma de delegados mandatados pelas assembleias de sector e de escola, com as organizações sindicais. A AG decide mandatar 3 delegados para participarem na intersindical-interprofissional de 5ª-Fª à tarde.
Decide reunir o comité de greve 2ª-Fª 9 de Dezembro às 14horas e decide da realização de uma AG 3ª-Fª 10 de Dezembro.
Moção adotada por unanimidade dos participantes e das federações sindicais FNEC, FP FO, FSU, CGT Educação e SUDV Educação.”
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SETE DAS OITO REFINARIAS ESTÃO EM GREVE
Sete das oito refinarias francesas estão em greve e, “nenhum produto sai, através de pipeline ou através de carga de caminhão”, indicou 5ª-Fª à FP (agência France Press) Emmanuel Lépine, secretário federal da CGT química.

Duas sociedades operando com pipelines, Trapil e SPSE estão igualmente paradas bem como o depósito e o porto petroleiro de FOS, assim como o porto petroleiro do Havre. “É algo nunca visto”, declarou à FP o responsável do sector químico da CGT.

Na Seine-et-Marne, a refinaria Total, situada em Grandpuits-Bailly Carrois está parada.

Cerca de 40 pessoas juntaram-se no local e foram instalados piquetes de greve. “Fazemos com que nenhum produto entre ou saia da refinaria, que funcione com o serviço mínimo”, explica Marin Guillotin (FO). “As nossas expectativas são simples: que Macron atire a sua lei para o caixote do lixo”, confirma Adrian Cornet (CGT). A greve foi votada a 90% e será reconduzida a 6 de Dezembro às 14 horas (fonte Le Parisian).

Com índices de grevistas no sector petroquímico “nunca atingidos desde os anos 1970”, Daniel Bretonne, secretário geral da CGT do complexo petroquímico de Lavéra em Martigues – 900 assalariados – prognostica um bloqueio quase total dos depósitos petrolíferos de Berre. Anuncia “100% de grevistas hoje na Esso, 100% em LyondelleBasell” (fonte do Le Monde).

ECOS DE LOIRE ATLANTIQUE
Na região Loire Atlantique, terão lugar amanhã 6 de Dezembro:
– 31 AGs em colégios e liceus;
– Numerosas AGs no sector público e privado para decidir.

Encontro às 14h30 na casa dos sindicatos com as delegações dos sectores em greve.

PÓLO EMPREGO (empresa)
AG do pessoal de Nantes: 50 presentes continuação por unanimidade.

EDF (Electricidade de França)
Continuação validada no Maine-et-Loire, com manifestação intersindical desde o dia seguinte com desenvolvimento dentro e fora das empresas. Continuação comprometida desde o dia seguinte em Enedis no Aube e nas Ardenas … Os outros departamentos reúnem-se para decidir! Continuação também votada em AG no Haute-Loire, no Loiret, em Ille-et-Vilaine…

HOSPITAIS
– Saint-Nazaire (44): 500 trabalhadores em AG decidiram a continuação da greve até 2ª-Feira inclusive.

– Nantes (44): a AG do CHU (400 presentes), com os sindicatos FO, CGT e Solidaires, vota por uma grande maioria a continuação até 2ª-Feira 9 inclusive.

– Langeac (43): continuidade da greve até 17 de Dezembro pela AG do hospital.

ECOS DE DIEPPE
140 trabalhadores dos hospitais votaram a continuação, as comunas decidiram a continuação, idem em Auchan e nos trabalhadores ferroviários.

O secretário da União Local CGT apelou, à saída da manifestação, continuar a greve por toda a parte “para derrubar Macron”.

Foram desde já anunciados no fim da manifestação:
– Trabalhadores do sector territorial: continuação no 6 de Dezembro (350 na manifestação);

– Trabalhadores dos hospitais: continuação votada em AG;

– Ferroviários: continuação votada (com CGT, FO e Solidaires);

– Auchan: continuação.

MAINE-ET-LOIRE
Moção da assembleia dos sectores em greve com as uniões departamentais CGT, FO, FSU, Solidaires com a UNEF e a UNL:

“Reunimos hoje, 5 de Dezembro de 2019, cerca de 250 representantes e grevistas dos sectores em greve contra o projeto lei das reformas Macron-Delevoye.
A manifestação que nos juntou esta manhã era particularmente massiva, sem dúvida uma das mais importantes que se realizaram em Angers desde há décadas. Desde já, os seguintes sectores decidiram a continuação da greve: a SNCF, a Educação Nacional (básico e secundário), o centro hospitalar do Loire, o Cesame, Ehpade da saúde privada entre os quais três do grupo VYV, o C3RF, Angers Loire Métropole, cidade de Angers e CCAS, Enedis, os sapadores bombeiros, o Pólo de Emprego, a Segurança Social (CPAM-CAF-USAF).
Outros setores estavam presentes na assembleia e alguns de entre eles realizarão as suas AGs, amanhã 6 de Dezembro, ou 2ª-Fª:

– Systéme U, a Scania, Valeo, DGPP, Elivia, Thyssen, Mendes, AXA, CBI, PCM…
Vários liceus da cidade de Angers foram bloqueados pelos alunos. Isto prova, se necessário fosse, que o projeto de lei dos regimes da reforma que nos quer impor o governo é rejeitado pela maioria da população e no seu seio, pela imensa maioria dos assalariados do setor público e do privado e da juventude. Nós sabemos, só poderemos obrigar o governo reforçando a relação de força através duma greve massiva e reconduzida, bloqueando o país!”
Aprovado por maioria com 3 votos contrae 2 abstenções.

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