Maduro é proclamado reeleito, oposição direitista não aceita e fala em fraude
Publicamos abaixo trechos da nota que nos foi enviada por Alberto Salcedo, membro da Coordenação Autônoma e Independente dos Trabalhadores (CAIT), sobre as eleições em seu país. No fechamento desta edição a situação seguia tensa na Venezuela, com governos direitistas da América Latina e a OEA se alinhando com a oposição de extrema direita de Maria Corina Machado na acusação de fraude eleitoral. Em qualquer caso, cabe somente ao povo venezuelano, sem nenhuma ingerência externa, decidir o seu próprio destino.
“Em 28 de julho ocorreram as eleições presidenciais. No seu primeiro boletim oficial, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com base em 80% das urnas apuradas, informou que Nicolás Maduro obteve 5.150.092 votos (51,20%) e o candidato opositor Edmundo González, 4.445.978 votos (44,2%), com os demais 8 candidatos somando 462.704 votos (4,6%). A participação foi de 59 % do total de eleitores (o voto não é obrigatório). O CNE informou ainda que sofreu ataques de “hakers” na transmissão de dados e na sua página na internet. A oposição dirigida por Maria Corina, após o anúncio do CNE, denunciou fraude eleitoral em coordenação com a mídia dos EUA e a direita internacional.
Recordemos que o país sofre sanções econômicas de governos dos EUA, desde Obama e Biden, passando pela “mão dura” de Trump, e de governos da União Europeia, numa política agressiva e de ingerência que inclui o congelamento de seus ativos no exterior. Ao longo desse período, Maria Corina fez campanha pela intervenção de tropas estrangeiras para um golpe de Estado contra Maduro, chegando em 2018 a solicitar ao primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, apoio para tais planos.
Lembremos também que a antessala desse processo eleitoral foram as negociações entre o governo Maduro e os EUA sobre a exploração do petróleo venezuelano, as quais desembocaram nos acordos de Barbados entre governo e oposição, que flexibilizaram as sanções e anteciparam essas eleições presidenciais.
No dia 29 à tarde, o CNE declarou Maduro reeleito com base nos 80% de votos apurados. Ocorre que a diferença anunciada entre Maduro e Edmundo González foi de 704.114 votos, enquanto os 20% restantes de votos a apurar somariam 2.514.694, cifra que poderia modificar o resultado final.
Crescem as tensões
Esse atraso deu munição à oposição direitista que, após panelaços e protestos em alguns setores populares de Caracas, convocou mobilizações contra Maduro denunciando fraude eleitoral. Tais mobilizações deixaram um saldo de 12 mortos e 749 detidos, segundo o procurador da república Tarek William Saab.
O governo Maduro denunciou um intento de golpe de Estado dessa direita com apoio externo e também convocou manifestações. O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez (PSUV), pediu a prisão de Edmundo González e de María Corina por “conspiração fascista”, enquanto as Forças Armadas cerraram fileiras com Maduro.
De nossa parte, desde a CAIT, condenamos qualquer ingerência do imperialismo e seus aliados nos assuntos que dizem respeito apenas à nação venezuelana, que não merece estar submetida às aspirações de uma figura marcada por conspirações golpistas como Maria Corina.
Chamamos a todos os setores a recolocar a disputa no terreno constitucional com mais democracia. Para tanto seria necessário que o CNE fizesse a comprovação de 100% dos votos emitidos pelo povo. Neste 31 de julho Maduro anunciou que seu partido, o PSUV, entregaria à justiça eleitoral 100% dos boletins de urna recolhidos pelos seus fiscais, instando os demais partidos e candidatos a fazer o mesmo.
Como dissemos, como participantes da “Outra Campanha” (ver OT 934), a campanha eleitoral foi vazia de conteúdo e nenhum dos candidatos representou os interesses e anseios da classe trabalhadora. Em qualquer cenário político que venha a ocorrer, nosso compromisso é o de abrir caminho para a organização independente de uma referência política própria dos trabalhadores, baseada no respeito aos direitos e conquistas presentes na Constituição Bolivariana, conformando um polo de resistência que levante um programa de defesa do povo trabalhador e da soberania nacional.
Rechaçamos e condenamos as ingerências do imperialismo contra nosso país e, junto ao nosso povo, seguiremos exigindo a recuperação do bem-estar social, dos salários, pensões e aposentadorias dignas.
Não à ingerência do imperialismo e suas instituições contra a nossa nação!”
Alberto Salcedo