Não à ingerência e aos novos ataques do imperialismo contra a Venezuela!
Após receber informações de nossos camaradas da Venezuela sobre a grave situação no país apresentamos nossas primeiras reflexões sobre a situação.
Não é uma simples coincidência que o agravamento da situação na Venezuela ocorra no mesmo momento em que avança o processo de desagregação da Ucrânia (veja mais informações neste site). Na Venezuela como na Ucrânia trata-se de uma ofensiva do imperialismo para recuperar o pleno controle sobre as riquezas dos povos. Hoje, sem condições de valer-se da intervenção direta, sua ofensiva busca provocar o caos valendo-se dos seus intermediários locais: da burguesia e da pequena-burguesia, com largo acompanhamento dos meios de comunicação e, nas condições particulares do continente, acompanhado por grupos que se apresentam como “de esquerda”.
O imperialismo organiza o ataque contra a nação venezuelana e seu povo através de conhecidos métodos de desestabilização e em condições tais que passado um ano da eleição de Maduro, Obama não reconheceu seu governo. E foi o mesmo Obama quem, na recente reunião de cúpula dos países da América do Norte em Toluca (México), ao lado do presidente do país Penã Nieto e de Stephen Harper (Canadá) declarou cinicamente: “em vez de tentar distrair a atenção de suas próprias falhas ao fazer acusações contra os diplomatas dos Estados Unidos, o governo (venezuelano) deveria preocupar-se em atender as queixas legitimas do povo Venezuelano.”
Foi nesse contexto e depois das eleições municipais em que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) alcança aproximadamente 49% dos votos tornaram-se mais agudas as diferenças políticas no interior do MUD (da direita venezuelana) onde, Leopoldo López do Partido Vontade Popular (VP) e a deputada Maria Carina Machado lançam em 2 de fevereiro uma campanha sob a palavra de ordem “a saída está nas ruas” e, como parte dessa campanha, em 4 de fevereiro realizam-se os primeiros protestos de estudantes onde, nenhuma reivindicação é levantada além da exigência da saída de Maduro.
Mas, o pano de fundo é que a Venezuela vive uma situação de caos econômico com desabastecimento, escassez de alimentos e inflação em alta. O trabalho precário alcança 40% da população economicamente ativa onde a juventude é a principal atingida. Os menores de 35 anos, a maioria com título universitário também estão entre os desempregados.
Com 80% de sua economia baseada no petróleo, a Venezuela vive uma situação em que se combina a contínua queda na produção do óleo e a queda dos seus preços causando uma diminuição na entrada de dolares. Há ainda uma significativa diminuição na entrada de recursos nos país a partir da decisão do Banco Central dos Estados Unidos (FED, sigla em inglês) de diminuir a emissão de sua moeda ( o chamado quantitative easing).
Esse quadro só fez aumentar a pressão sobre a economia venezuelana o que levou Maduro, assim como outros governos do continente, a desvalorizar sua moeda, o bolívar. O problema é que, mesmo com poucos recursos, o governo chavista optou por pagar a dívida com os especulares internacionais e não pagar os credores internos. Num país que depende da exportação de petróleo e importa boa parte de tudo que consome o que se viu foi agravamento do desabastecimento o que alimentou a revolta dos setores médios.
Um artigo do “The Wall Street Journal” explica assim a decisão do governo: “Na hora de escolher entre sua própria gente e Wall Street, o governo socialista da Venezuela optou pelo segundo, pelo menos no que se refere ao pagamento da dívida. O país sul-americano paga os possuidores de bônus de maneira religiosa. “No entanto, o governo deve uns U$50 bilhões a empresas privadas que prestam serviços à sua economia.”
No mesmo artigo o jornal explica que os fundos de renda fixa que investem no país obtêm os mais altos rendimentos verificados pelo Índice Global de Bônus de Mercados Emergentes. São maiores dos que oferecem a Argentina e Equador, que, em algum momento de sua história, suspenderam o pagamento de suas dívidas, algo que a Venezuela nunca fez. Os bônus venezuelanos rendem mais de 16% enquanto a Ucrânia, por exemplo, paga 11%.
Ao lado do boicote e da sabotagem da burguesia, a questão que está na raiz é a recusa do governo (antes Chaves e agora Maduro) de avançar na via da ruptura com o imperialismo. Claro que reconhecemos e apoiamos todas as medidas de resistência tomadas no passado, com o apoio das massas venezuelanas. Mas frente à nova situação essas medidas mostraram-se totalmente insuficientes e estão a exigir outras. É forçoso reconhecer que ao não avançar na vida da ruptura com o imperialismo (que se expressa no pagamento da dívida) não há como enfrentar o caos na economia e o desabastecimento e nem como atender as reivindicações dos trabalhadores. Essa situação é que permite à burguesia e o imperialismo manipular com os interesses dos setores médios e da pequena-burguesia e contra os interesses da classe operária e do povo venezuelano.
É, portanto, a partir da grave situação econômica e do descontentamento de setores das massas que o imperialismo, com a ajuda dos lacaios da direita consegue oxigênio para seus provocadores golpistas. E ainda pode contar com a ajuda dos igualmente golpistas da CTV (central sindical controlada pela direita) e da denominada FADESS, que faz a ligação entre a CTV e os esquerdistas no terreno sindical. Esses acabaram de publicar um “manifesto pelos direitos humanos e o diálogo social” onde se vê claramente um alinhamento desses com os interesses do imperialismo. O documento, sob o pretexto de se posicionar “contra a violência venha de onde vier” apoia as manifestações dos provocadores além de chamar o “diálogo social” porque, segundo eles, “sem consensos não haverá progresso”. Hora, isso é o mesmo que dizer que não há saída sem acordo com a burguesia e o imperialismo.
Estamos incondicionalmente ao lado do povo e da nação venezuelana contra os ataques do imperialismo em defesa da democracia, da soberania nacional e de seu governo legitimamente eleito pelo povo. E é exatamente por isso que se coloca a luta pela ruptura com o imperialismo.
Num contexto onde não há indícios de que se desenvolve um processo de auto-organização das massas e tampouco existe uma expressão independente da classe trabalhadora nem no terreno sindical nem partidário, as palavras de ordem baseadas na linha de “avançar rumo ao socialismo”, “contrôle operário”, “socialização dos principais setores da economia”, “expropriação dos capitalistas”, desenvolvidas por alguns setores, embora justas em geral, não traduzem a situação concreta. E ao contrário de ajudar as massas a avançar na via da ruptura com o imperialismo, abrindo, aí sim, para a auto-organização e medidas contra o capital, terminam por paralizar a ação da classe operária cujo movimento é a única força capaz de fazer frente às tentativas golpistas.
Portanto, na situação atual onde está colocada a exigência de que o governo Maduro interrompa com o pagamento da dívida e com esses recursos resolva os problemas de abastecimento, de investimentos na indústria nacional e assim, garanta o atendimento das reivindicações da juventude e da classe operária. A defesa da independência do movimento sindical e popular, hoje, se expressa na exigência de que o governo Maduro, depois de expulsar os embaixadores e funcionários estadunidenses envolvidos na provocação, seja consequente e rompa com o imperialismo para tender as reivindicações do povo. Apoio popular para isso não lhe faltará.
Carmen Zamora