O governo Trump, depois de ter “reconhecido” Juan Guaidó como “presidente interino”, decidiu congelar todos os bens da Venezuela nos EUA, em particular da subsidiária da estatal PDVSA (petróleo), a Citgo, seguido por outros governos, como o do Reino Unido que decidiu apropriar-se das reservas de ouro venezuelano depositadas em Londres.
Medidas de pirataria para asfixiar a economia venezuelana, que já custaram ao país vizinho 34 bilhões de dólares. Elas se somam ao envio de uma pretensa ajuda humanitária à fronteira com a Colômbia.
Pela primeira vez em território latino-americano a “questão humanitária” é usada para derrubar um governo e preparar uma intervenção externa. A criação, como pretendem Trump e seu títere Guaidó, de um “corredor humanitário” levaria à quebra do Estado nacional venezuelano, tal como ocorreu na Líbia há poucos anos.
A defesa da soberania e da integridade da nação venezuelana, contra o cerco econômico e as ameaças de agressão externa, é uma questão central para a luta pela emancipação dos povos do jugo imperialista, seja qual for a opinião que se tenha sobre o governo de Nicolás Maduro.
Por isso mesmo, essa questão é um divisor de águas, tanto para os governos – cerca de 50 acompanham a posição de Trump, que, no entanto, não é endossada pela ONU – quanto por partidos e organizações que se dizem de “esquerda”.
Vimos como a mal chamada “Internacional Socialista” se alinhou, uma vez mais, com o imperialismo, mas lideranças importantes, como Jeremy Corbin do Partido Trabalhista britânico, não a acompanham. Corbin declarou-se a favor do diálogo, que é o povo venezuelano que deve decidir seu futuro, opôs-se às sanções contra o país e à ingerência dos EUA.
Havia expectativas sobre a iniciativa dos governos do México e Uruguai de patrocinar um diálogo para superar a crise na Venezuela. Mas, a reunião de Montevidéu em 7 de fevereiro acabou dividida. Os representantes europeus, com o governo Sánchez (PSOE) da Espanha à cabeça, adotaram um documento exigindo “eleições imediatas sob controle internacional”, que ganhou a adesão do governo uruguaio da Frente Ampla. Já os governos de Obrador do México, o da Bolívia e de países do Caribe (Caricom) adotaram outro texto, insistindo no diálogo entre o governo e a oposição.
Pilhagem “humanitária”
A agência oficial dos EUA de “ajuda” (USAID) mandou para Cucuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, caminhões carregados com víveres num valor de 20 milhões de dólares. A grande mídia internacional faz um estardalhaço contra a “ditadura de Maduro” que quer impedir que o povo receba tal ajuda ao fechar a ponte de Tienditas. Ora, essa ponte está fechada desde 2015 para impedir o contrabando de combustível barato da Venezuela para a Colômbia!
Corretamente, o governo da Venezuela recusa tal “ajuda humanitária”, pretexto para a intervenção na nação soberana, e responde à essa provocação exigindo a devolução dos bilhões que foram sequestrados nos EUA e Inglaterra e que pertencem ao povo venezuelano.
O objetivo de Trump e dos que o rodeiam é apropriar-se das riquezas do país que possui 20% das reservas mundiais de petróleo e a primeira de ouro. John Bolton, secretário de segurança dos EUA, às vésperas da reunião de Montevidéu, declarou que “a hora da negociação acabou, é hora de ação”, com Guaidó recusando-se a negociar com o governo e convocando o povo a ir buscar a “ajuda humanitária” dos EUA na fronteira.
Do lado oposto, mobilizações populares em defesa da soberania da Venezuela contra a agressão imperialista ocorrem em todo o país, reavivando o chamado “chavismo de base”, disputando palmo a palmo o terreno com aquelas convocadas pelo autoproclamado Juan Guaidó. Essa mobilização popular em defesa da nação deve ser reforçada com medidas concretas do governo para minorar os efeitos da crise econômica junto ao povo.
Mais do que nunca, a luta contra a ingerência do imperialismo na Venezuela deve ser a luta de todos os defensores da soberania nacional e do direito dos povos de decidirem seu próprio destino. Atos e manifestações estão se realizando em vários cantos do mundo com esse eixo, como as ocorridas no Brasil, no consulado de São Paulo e na embaixada da Venezuela em Brasília no último 8 de fevereiro.
Trump, tire as patas da Venezuela e da América Latina!
Lauro Fagundes