A Executiva e o Diretório Nacional se reuniram nos dias 12, 13 e 14 de março, numa hora crítica no país e no mundo. Os membros do Diálogo e Ação Petista se abstiveram de votar as principais resoluções, Internacional e Nacional. O DN também adotou uma curta nota com propostas para enfrentar a pandemia, outras decisões administrativas, e uma boa resolução por candidaturas próprias do PT no Nordeste, com a deputada Marília Arraes em Recife (contra 5 votos da DS com o senador Humberto Costa).
A longa e ambiciosa resolução internacional adotada diz coisas certas sobre a crise capitalista, outras emendáveis, mas é completamente omissa sobre a representação política dos trabalhadores. Não aborda os problemas concretos na França – coletes amarelos, rejeição dos partidos e insucesso das greves – ou no Chile – explosão, rejeição do partidos tradicionais, Constituinte –, ignora a crise da socialdemocracia e o esvaziamento dos PCs em muitos países, assim como não fala nada das contradições – para dizer o menos! – dos “governos progressistas” na América Latina. Ela denuncia ataques imperialistas, mas não discute problemas da resistência, como se não houvessem!
Como esta é uma questão complexa para se resolver pelo voto contra ou a favor de uma emenda a um texto de véspera, o DAP declarou sua abstenção.
Já a resolução nacional é um alentado discurso de tipo parlamentar. Diz coisas certas, outras discutíveis. Mas vacila no coração do problema atual, que é o governo Bolsonaro. Marca passo e repete a velha fórmula de “derrotar o governo Bolsonaro”, como se nada houvesse ocorrido. A proposta do DAP de “lutar pelo fim do governo Bolsonaro” obteve agora mais de 20% dos votos, mas foi outra vez recusada.
Bolsonaro, Mourão, Maia ou Tóffoli?
Um bloco puxado pelo CNB se recusa a dar um passo. Por quê? Ele não quer tirar uma conclusão da inação social do governo, da escalada bonapartista autoritária de provocações institucionais, e, agora, da aberta irresponsabilidade com a pandemia. O CNB espera que as críticas que fazemos joguem o poder no colo do PT em 2022 – mas Bolsonaro não espera 2022!
Vendo as propostas do PT para a crise e a pandemia, logo vem a pergunta: quem vai aplicar isso? Desde as propostas imediatas para a saúde, até a revogação do teto constitucional de gastos, e uma outra política econômica, quem vai fazer? Bolsonaro, Mourão, Maia, Tóffoli ou quem? A direção do PT não diz, mas a verdade é com eles não há saída para os trabalhadores.
Sim, face à pandemia cabe exigir medidas sanitárias e sociais imediatas para defender o povo, e ligá-las à grandes reformas para salvar a nação do desastre econômico. Mas para isso, é incontornável integrar a luta pelo fim do governo Bolsonaro no debate e na mobilização social. O que, na nossa opinião , será apenas o primeiro passo para, com o povo na rua, mais à frente, abrir uma saída política.
Markus Sokol, em 17/03/2020
Algumas das medidas do PT para a crise atual
– Descongelar imediatamente recursos da Saúde represados pela Emenda Constitucional 95, aporte de R$ 21 bilhões ao SUS;
– Garantir a oferta de kits reagentes para exames;
– Determinar estabilidade no emprego e manutenção dos salários pelo tempo que durar a pandemia.
– Retomar obras paralisadas e contratar emergencialmente trabalhadores;
– Abono emergencial para o salário mínimo;
– Incorporar imediatamente as 3,5 milhões de famílias na fila do Bolsa Família
– Suspender os processos de privatização,
– Fixação do preço do botijão de gás em R$ 49.
– Revogar a EC 95 para recuperar os investimentos
– Suspensão do trâmite das PECs 186, 187 e 188
DN-PT, Brasília, 13 de março de 2020