A pandemia e os negócios das farmacêuticas

No dia 10 de novembro o laboratório americano Pfizer e a empresa alemã BioNTech anunciavam na imprensa os primeiros resultados de sua vacina, com uma efetividade de 90%. No dia 18 de novembro o laboratório Moderna, também americano, anunciava a sua, que teria uma efetividade de 94%. No dia seguinte, Pfizer e BioNTech corrigiam suas cifras, dizendo que a efetividade de sua vacina é de 95%. No dia 23 de novembro, o laboratório anglo-sueco AstraZeneca e a universidade de Oxford anunciavam os primeiros resultados de sua vacina, com uma efetividade entre 70 e 90%, de acordo com a dose. Todos estes anúncios se fizeram mediante comunicados de imprensa e nenhum foi acompanhado por uma publicação científica.

Ao mesmo tempo, as empresas competem apresentando diferentes condições de conservação das vacinas para distribuição. A da Pfizer deve ser conservada a 70° abaixo de zero, a da Moderna a -20°C e da AstraZeneca a dois ou três graus abaixo de zero. Trata-se de uma competição desenfreada por um negócio que pode chegar, de inicio, até a 100 bilhões de dólares. Não esqueçamos que a vacina da Pfizer custa uns 30 euros, a da Moderna 21 euros e da AstraZeneca 6 euros. São cifras que se multiplicarão por supostos bilhões de vacinados. A especulação na bolsa, com essas empresas, disparou. BioNTech aumentou, em um ano, o seu valor na bolsa de US$ 4,6 bilhões para US$  21 Bilhões.

Seu valor atual de mercado é quatro vezes o da companhia aérea alemã Lufthansa. As ações da Pfizer subiram 14,2% no “Pré Mercado” de Nova York, enquanto as ações da BioNTech subiram quase 23% em Frankfurt.

As ações de outras empresas que desenvolvem vacinas que estão na etapa final dos testes também subiram. Johnson & Johnson subiu 4% e a Moderna subiu 7,4% enquanto a AstraZeneca, com uma vacina mais barata e talvez menos efetiva, caiu 0,5%. A especulação não se limita às vacinas.

A Gilead arrecadou US$ 900 milhões no terceiro trimestre com as vendas do antiviral Remdesivir. E ainda, um estudo recente da OMS conclui que a droga “não tem efeitos significativos sobre a mortalidade ou outros indicadores importantes em pacientes, como a necessidade de ventilação mecânica ou o tempo para melhora clínica”

Que dúvida cabe que uma verdadeira vacina eficaz seria um grande passo adiante? Mas sua distribuição deve basear-se em verdadeiros estudos científicos revisado por especialistas independentes.

Temos a experiência da gripe A. Foi anunciada uma pandemia de uma doença gravíssima, se gastaram milhões de Euros em vacinas e nos antivirais Tamiflú e Relenza e depois a doença era banal e os antivirais não foram utilizados.

Mas, sobretudo, pode a humanidade consentir que algumas empresas farmacêuticas ganhem centenas de bilhões de dólares às custas da pandemia? Não é hora de colocar na ordem do dia a necessária expropriação da pesquisa de medicamentos e das grandes farmacêuticas?

Luiz Gonzalez

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