Julio Turra, dirigente da CUT, faz balanço positivo do 11 de julho e diz: “30 de agosto deve ser ainda maiO TRABALHO – Que balanço você faz do dia 11 de julho?
JULIO TURRA – Um balanço positivo. Tanto pelo seu caráter nacional, pois em todos os estados e centenas de cidades houve mobilização, quanto pelas paralisações ocorridas, como nas montadoras do ABC, nos portos de Suape (PE) e Pecém (CE), sinalizando a entrada da classe trabalhadora organizada no cenário de crise política que se abriu desde as manifestações do mês de junho.
Os trabalhadores da Eletrobrás, que pararam no dia 11, deflagraram, em seguida, greve nacional em 15 de julho por ganho real e manutenção de direitos.
Em Porto Alegre, Vitória e Natal, parecia feriado, com as ruas vazias. Grandes passeatas ocorreram em Manaus, Campo Grande (35 mil
pessoas), Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis e Maceió, para ficar em alguns exemplos.
O mais difícil de calcular é a quantidade de trabalhadores que paralisaram suas atividades total ou parcialmente no dia 11, mas é claro que o seu numero supera em muito os cerca de 400 mil que participaram de tos e passeatas em todo o país.
O TRABALHO – A imprensa, comparando com as manifestações da juventude, está nuama verdadeira campanha para dizer que os sindicatos já não “empolgam” mais. O que acha disso?
JULIO TURRA – É uma ofensiva orquestrada para separar o movimento da juventude das lutas da classe trabalhadora.
A mídia defende os interesses dos capitalistas e do imperialismo e reage ao perigo da entrada em cena dos trabalhadores, pelo lugar que ocupam na produção. São os trabalhadores que podem liderar a maioria explorada e oprimida da nação na luta pelas mudanças necessárias.
A grande imprensa age politicamente ao opor o “espontaneísmo” e “horizontalidade” das mobilizações de junho, como se fossem “méritos”, contra os métodos tradicionais de luta de classe, que ela diz “ultrapassados”, para melhor manipular a situação em favor dos interesses que defende. Ainda assim, a TV Globo deu 22 minutos de cobertura em horário nobre das mobilizações. O jornal O Estado de S.Paulo, que na manchete falava de “pouca adesão”, deu seis páginas de cobertura para uma atvidade “esvasiada”. A plataforma levantada no 11 de julho ganhou, assim, enorme repercussão.
O governo até agora não avançou em relação à pauta das centrais.
O TRABALHO – Como prosseguir a luta?
JULIO TURRA – O governo montou mesas de negociação com as centrais só dois meses depois da marcha de 6 de março, que levou 50 mil trabalhadores a Brasília, mas, na verdade, elas têm sido “mesas de enrolação”.
A razão é que a atual política econômica prioriza o empresariado com isenções fiscais e desonerações, o pagamento de dívidas a banqueiros e especuladores (superávit primário) e cede às pressões do “mercado” por aumento de juros. A CUT e as demais centrais convocam para 6 de agosto concentrações diante das entidades dos empresários nas capitais, exigindo a retirada do PL 4330 da terceirização, que pode ir a voto no Congresso em 13 de agosto. Está convocado, também, um Dia Nacional de Paralisação em 30 de agosto, com a mesma plataforma.
Em agosto teremos a volta às aulas, o que permite a mobilização dos professores e também da juventude estudantil, temos campanhas salariais importantes, como de bancários e petroleiros, no início do segundo semestre. Isso anuncia uma mobilização ainda maior em agosto, na qual a CUT pode e deve jogar mais peso nas paralisações do que fez até agora, organizando plenárias nos estados e ramos, assembleias em todas as categorias e reforçando seus laços com os movimentos populares, como o MST, e da juventude, que também fizeram o 11 de julho.
O TRABALHO – Como está, na CUT, a discussão sobre a situação depois que Dilma propôs, e recuou, o plebiscito para uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política?
JULIO TURRA – A proposta original de Dilma foi bem recebida na CUT, que em seu congresso de julho de 2012 havia adotado a posição que uma “verdadeira reforma política” deveria ser feita por uma Constituinte soberana, eleita sem financiamento privado e com voto em lista, e não pelo atual Congresso de maioria reacionária.
O recuo da presidente criou uma situação em que ficou nas mãos dos atuais parlamentares a decisão, ou seja, é a “raposa cuidando do galinheiro”.
Mas a CUT continua a favor de um plebiscito, inclusive na forma inicialmente anunciada pela presidente, tal como expôs em carta a Dilma enviada em 2 de julho.