Colocado no poder por meio de uma eleição realizada em 20 de novembro de 2016, sob controle dos Estados Unidos e da União Europeia, em que votaram apenas 25% dos eleitores, o presidente do Haiti, Jovenel Moíse, está na corda bamba.
No dia 6 de julho, seu governo anunciou um aumento no preço dos combustíveis, conforme exigia o FMI, mas recuou apenas 24 horas depois diante da furiosa reação popular. Daí em diante ficou ainda mais impotente para resolver a grave situação de crise social, econômica e política do país.
Em 18 de novembro (data nacional do Haiti, em que se comemora a vitória na Batalha de Vertières, em 1803, que deu fim à escravidão negra e à dominação francesa), milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades exigindo fora Jovenel Moise e investigação e punição dos responsáveis por desvios de recursos do projeto Petrocaribe (programa do governo da Venezuela de fornecimento de petróleo a preços baixos e prazos de pagamento alongados que permitiria liberar recursos para investimentos em infraestrutura e projetos sociais).
Investigações do parlamento haitiano apontaram mais de 15 ex-ministros, incluindo o ex-presidente Martely, do mesmo partido de Jovenel, como responsáveis pelo desvio de cerca de US$ 3,8 bilhões desse programa. Mas até aqui eles não foram levados à justiça.
Repressão e greve geral
Uma repressão selvagem em 18 de novembro deixou cerca de 20 mortos e dezenas de feridos e presos. Nos dias seguintes, a população atendeu maciçamente ao chamado para uma greve geral, com paralisação de todas as atividades do setor público e privado, bloqueio de ruas e novas manifestações com mais confrontos e mais mortos.
Tropas da ONU (não mais da Minustah mas agora Minujusth) passaram a dar apoio à polícia haitiana para conter as manifestações, enquanto a embaixada dos EUA, logo seguida por alguns partidos de direita, soltou uma nota defendendo a “legitimidade democrática do governo”, pedindo “diálogo político” e saudando o “profissionalismo da `Polícia Nacional (PNH) durante as ações de 18 de novembro e dias subsequentes”, ou seja, defendendo a repressão e a impunidade dos membros do governo.
As manifestações tem sido convocadas basicamente por três frentes: o chamado Setor Democrático e Popular, cuja maior força é o partido Fanmi Lavalas, do ex-presidente Aristide; a plataforma Ptit Dessalines, do ex-senador Jean-Charles Moïse; e um conjunto de organizações populares, sindicais e políticas, entre elas o Moleghaf (Movimento de Liberdade e Igualdade dos Haitianos pela Fraternidade) no qual intervêm os militantes da seção haitiana da 4ª. Internacional.
Em comum, a busca de uma solução haitiana para a crise, sem ingerência estrangeira, e que só poderá ser resolvida com a saída de Jovenel Moïse da presidência e a retirada da Minujusth.
Rafael Potosí