Caos ameaça toda a região
Em 17 de setembro de 2024, entre as 15h30 e 16h30, explosivos escondidos em milhares de pagers em todo o Líbano explodiram, causando pelo menos 12 mortos, incluindo uma menina de 9 anos, um menino de 11 anos e dois cuidadores, e pelo menos 2.323 feridos. No dia seguinte, 18 de setembro, pouco antes das 17 horas, outros aparelhos eletrônicos do tipo walkie-talkie explodiram simultaneamente em todo o país, com explosões relatadas nos subúrbios ao sul de Beirute, em cidades e localidades do sul do Líbano, e no Vale do Bekaa. Eles mataram pelo menos 25 pessoas e feriram 608.
As explosões ocorreram em supermercados, carros, ruas residenciais e outras áreas públicas movimentadas, causando lesões traumáticas, semeando terror e pânico na população libanesa.
Uma fonte próxima do Hezbollah informou à AFP que “os pagers que explodiram referem-se a um carregamento recentemente importado pelo Hezbollah de 1000 aparelhos”, que parecem ter sido “hackeados na fonte”. Apesar do governo israelense não ter comentado oficialmente os ataques, em 18 de setembro, o ministro da defesa israelense Yoav Gallant declarou que a guerra com o Líbano estava entrando em uma “nova era” e elogiou as “excelentes conquistas” dos serviços de segurança e inteligência israelenses, declarações interpretadas como um reconhecimento implícito do papel de Israel nesses ataques. Autoridades libanesas e estadunidenses também indicaram que acreditam que Israel os orquestrou.
A empresa Gold Apollo de Taiwan disse que vai processar o Estado de Israel depois que a televisão israelense reconheceu que foi o Mossad quem implantou explosivos nos aparelhos. Seu fundador, Hsu Ching-Kuang, disse aos jornalistas que sua empresa não fabricou os pagers.
Famílias inteiras mortas, incluindo crianças
Na noite de 19 para 20 de setembro, o exército israelense bombardeou massivamente o sul do Líbano. São os ataques mais intensos na área desde o 7 de outubro, com até 60 ataques em 20 minutos, segundo fontes libanesas.
Em 21 de setembro, o ministro da educação israelense escreveu na sua conta X: “Não há qualquer diferença entre o Hezbollah e o Líbano. O Líbano será aniquilado. Deixará de existir”. Em 23 de setembro, mais de 1600 alvos foram bombardeados pela aviação de Tsahal. Um balanço – provisório – publicado em 24/9 pelo ministério libanês da saúde relata 558 mortes, milhares de feridos, incluindo famílias inteiras e crianças, e o deslocamento de dezenas de milhares de libaneses que fugiram do seu país desde segunda-feira, principalmente para a Síria.
Em 24 de setembro, o exército israelense declarou em um comunicado que havia realizado um bombardeio sobre Beirute. Por sua vez uma fonte de segurança libanesa relatou, sob anonimato, que um ataque israelense atingiu “dois andares de um edifício residencial do bairro de Ghobeiri”, causando a morte de seis pessoas e cerca de quinze feridos (Le Monde).
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou sobre a “escalada” neste país “à beira do abismo”. “Gaza é um pesadelo permanente que ameaça levar toda a região ao caos. A começar pelo Líbano. O povo libanês, o povo israelense e os povos do mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza”, declarou perante a Assembleia Geral da ONU em Nova York.
Na terça-feira, 24 de setembro, o presidente iraniano declarou que o Hezbollah “não pode ficar sozinho” face a Israel.
Rosalie Albani (Tradução Adaias Muniz)
*A escalada da ofensiva de Israel no Líbano não cessa, desde seu início, relatado neste artigo publicado no jornal francês Infortmations Ouvrières. Estes ataques já deixaram cerca de 700 mortos dos quais, segundo o Ministério da Saúde do Líbano, 25% são mulheres e crianças