Em 16 de outubro, numa manifestação nacional, dezenas de milhares de aposentados, com grupos de trabalhadores e jovens, manifestaram-se em Madrid em defesa do sistema de previdência pública, baseado no princípio da repartição (solidário).
O atual governo de Pedro Sánchez (PSOE) com Podemos aprovou uma nova reforma, que será votada pelos deputados, a qual confirma, entre outras coisas, a extensão da idade de aposentadoria para 67 anos.
O governo anuncia também uma segunda fase da reforma, em particular para alterar o artigo 109 da lei geral da seguridade social, que obriga o Estado a reforçar os fundos em caso de déficit.
A mobilização dos aposentados foi um chamado direto a toda a classe trabalhadora e suas organizações para lutarem em conjunto em defesa do sistema público.
No dia em que esta manifestação ocorreu era realizado o 40º Congresso do PSOE. Abaixo a opinião de um militante do PSOE, publicada no jornal Información Obrera.
“Um espetáculo midiático”
De 15 a 17 de outubro realizou-se em Valência o 40º Congresso do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Foi um congresso muito aberto, com mesas de discussão fora do evento, com palestrantes importantes e com mais convidados que delegados. Por outro lado, como assinala um artigo publicado, dia 16, na Cadena Ser: “os temas em debate são muito interessantes, mas não há, em nenhum, a análise do futuro do trabalho no marco da dupla transformação verde digital”.
Delegados ao congresso, por exemplo, a delegação Esquerda Socialista PSOE, denunciaram que o balanço da direção foi resolvido em uma hora, sem ser submetido a votação e sem possibilidade de intervenção para que pudesse ser feita alguma crítica à gestão de quatro anos (2017-2021). Período em que se realizaram duas eleições gerais e uma regional, como a de Madri onde o PSOE recebeu um duro golpe. E que as conclusões das mesas de discussão não foram votadas.
Se a isso acrescentamos que não há nenhum documento que reflita o compromisso do Secretário Geral recém eleito, no discurso do encerramento de revogação das reformas trabalhistas e da Lei da Mordaça, parece que estamos mais diante de uma feira comercial política do que de um congresso democrático.
Em paralelo ao Congresso do PSOE, no sábado, dia 16, nas ruas de Madri uma manifestação, com não menos que 25 mil pessoas, exigia uma auditoria das contas da Seguridade Social e em defesa do Sistema Público de Pensões.
No domingo, 17, durante o encerramento do congresso milhares de pessoas se manifestavam em Viveiro contra a desindustrialização e em defesa dos empregos.
A sensação produzida por este contraste de dois mundos paralelos, o do povo protestando por suas reivindicações e o desperdício de meios, em uma liturgia que legitima o controle do partido, é expressão do distanciamento que vem sendo produzido há muito tempo, entre as bases e a direção, um distanciamento que só cresce.
Sou militante do PSOE e não tenho intenção de abandoná-lo. Dizer o que vejo é, em minha opinião, um exercício de honestidade e lealdade com meu partido. Como no conto “As roupas novas do imperador”, o correto é advertir publicamente que “sua majestade está nua”.
Roberto Tornamira Sánchez