O PT de volta no colo dos Renan!?

Desastrosa decisão da Executiva Estadual de Alagoas reabre polêmica

Por 9 votos contra 6, a Executiva Estadual do PT decidiu “autorizar imediatamente as negociações para o retorno ao governo de Renan Filho”. Essa tentativa de acordo com Renan Calheiros pai (senador PMDB) vinha sendo costurada há alguns meses, como filtrou a imprensa local, sem discussão com a militância.

Na Executiva, o CNB do deputado federal Paulão ficou isolado, já que os membros do DAP, DS, EPS e AE, votaram contra. Um dirigente da CNB explicou que era para “negociar o apoio às nossas candidaturas”. O que seria a volta das “negociatas” com partidos adversários em troca de “apoios” desmoralizantes.

A decisão da Executiva Estadual fere a resolução aprovada no 6º Congresso Nacional, em junho deste ano, que decidiu por uma “política de alianças apenas com setores antiimperialistas, antimonopolistas, antilatifundiários e radicalmente democráticos”. Para Luiz Gomes, sindicalista docente e membro da Executiva, “os Renan, pai e filho, não se encaixam em nenhum dos termos dessa resolução. Além do que, apoiaram o ‘radicalmente’ antidemocrático golpe do impeachment!”.

A Executiva também extrapola a sua competência, pois o Estatuto do PT estabelece que uma decisão dessa importância deveria ser discutida pelo Diretório Estadual.

Risco de afastar o PT da base social
Um manifesto impulsionado pelos militantes do DAP, aonde O Trabalho participa, recolheu rapidamente mais de 100 adesões contrárias a volta do PT ao governo. Nele, militantes de todas as forças, principalmente sindicalistas da CNB, exigem o direito democrático de a base ser ouvida num encontro extraordinário do PT de Alagoas. A nota diz ainda que “as atitudes concretas do governo Renan Filho contra a base social que o PT pretende representar, o desmonte dos serviços públicos e da Casal (empresa estadual de água e saneamento), o genocídio contra a juventude da periferia, só trarão prejuízo ao processo de reconstrução do nosso partido e o afastarão de suas bases sociais”.

O presidente do PT-AL, Ricardo Barbosa, argumenta com o “afastamento de importantes lideranças do governo de Temer e dos golpistas. O senador Renan fez um movimento nesse sentido, o que abriu a possibilidade da reaproximação”. A decisão, segundo ele, teria sido precedida de uma reunião com o ex-presidente Lula, onde “ele sinalizou que via com simpatia a idéia” (FSP, 31/10).

Lula pode falar pela própria boca. A coalizão golpista está mesmo em crise. Se há golpistas arrependidos e, entre eles, até quem defenda o direito de candidatura de Lula, melhor. Mas recompor “aliança” para governar com Renan é outra coisa. É começar a retomar as mesmas alianças escusas que sujaram e paralisaram a iniciativa social do PT nos governos Lula e Dilma, facilitando depois o impeachment. A imprensa já especula a respeito de alianças com setores do PMDB deste mesmo tipo antipopular, no Ceará, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e na Paraíba.

Agora que o PT volta a encarnar a esperança de milhões de brasileiros nas pesquisas, ainda mais no Nordeste com a caravana de Lula, em que ajuda esse passo atrás em Alagoas, um ano após o PT ter saído do governo de Renan Filho? Seria um desastre.

Agora, a luta prossegue por uma reunião de urgência do Diretório Estadual, para convocar um encontro extraordinário onde a base seja ouvida.

João Alfredo Luna

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