Nicolás Maduro e seu partido, PSUV, comemoram uma grande vitória eleitoral no pleito de 21 de novembro para governadores e prefeitos. Várias formações de esquerda na América Latina também.
É um fato que ganharem 21 dos 24 estados, com exceção de Zúlia, Cojedes e Margarita, – eleições observadas por enviados da União Europeia e do Centro Carter dos EUA – é um triunfo eleitoral, no plano institucional, e uma derrota para a política externa de Washington.
Mas, se entramos nos detalhes, a euforia da cúpula “madurista” se revela exagerada. A abstenção foi de 59%, a mais alta desde as eleições legislativas de 2020. Dos mais de oito milhões de votos válidos, o Polo Patriótico (PSUV e aliados) obteve 46% e a soma da oposição 54%.
Nos últimos 22 anos, o chavismo só obteve menos de 51% nas legislativas de 2015. Se tomarmos o padrão eleitoral de 21 milhões de inscritos, o PSUV e aliados tiveram menos de 20% do eleitorado potencial. Esse recorde de abstenções não pode ser atribuído à oposição, que desta vez disputou os votos.
Houve sim uma queda do “voto duro” chavista. Basta lembrar que em março de 2020, Diosdado Cabello, número dois do regime, anunciou que o PSUV chegara a 7,5 milhões de filiados, dos quais pouco mais de 4 milhões foram às urnas no dia 21. A APR, animada pelo Partido Comunista e fora do Polo Patriótico, obteve 1,5%.
E agora?
Maduro continuará no poder até 2024. Isso após uma reacomodação negociada com setores da oposição (que inclui a dolarização nas transações econômicas). Nessa campanha eleitoral, o discurso tradicional chavista de “resistência antiimperialista” foi substituído pelo slogan “Venezuela tem com quê”.
Qual será a atitude dos EUA? Os resultados eleitorais fazem de Maduro o interlocutor obrigatório para qualquer negociação. A oposição segue dividida e é positivo que a bronca contra o governo não tenha migrado para a direita pró-imperialista.
O país já vive mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais. Há uma Venezuela das bolhas urbanas, comerciais e de serviço, das quais se beneficiam distintos estratos que, graças à dolarização nos fatos, encontram soluções para amenizar a crise. E há uma Venezuela esquecida, que não foi votar e se refugia na dura busca pela sobrevivência, desconfiada de políticos e partidos.
A crise é de tal dimensão que não pode ser superada por eleições e troca de atores políticos. Em 21 anos de chavismo houve 29 eleições, mas elas não mudaram o Estado rentista venezuelano e nem abriram a via para a construção de um novo Estado, baseado no trabalho e nos interesses da nação oprimida.
A situação coloca novos desafios aos trabalhadores e aos setores explorados, tanto no terreno sindical, como no político. É preciso articular a resistência às políticas em curso do governo Maduro, que passam por acordos explícitos com capitalistas locais e a oposição de direita que aceitam o regime político atual.
Na luta em defesa dos salários e condições de vida do povo trabalhador, é preciso encontrar a expressão política independente que responda à complexa e dramática situação que atravessa a Venezuela.
Alberto Salcedo