Enquanto o Haiti volta aos noticiários pelo assassinato do presidente Moise e os generais brasileiros não saem dos noticiários, enredados na sustentação do governo genocida, fraudulento e autoritário de Bolsonaro, o articulista Leonardo Sakamoto relembrou a trajetória da cúpula militar no Haiti.
“Nomes que fazem ou fizeram parte da cúpula do governo Jair Bolsonaro atuaram na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), que durou entre 2004 e 2017, tendo o Brasil no comando. A missão não conseguiu cumprir seu objetivo e militares brasileiros são acusados de violência desmedida contra a população.” diz Sakamoto.
O autor do artigo relembra o currículo dos generais no país vizinho: “O primeiro coordenador da missão (entre 2004 e 2005) foi o general Augusto Heleno, hoje ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, um dos assessores mais próximos e fiéis do presidente. Sob o seu comando, soldados da missão realizaram a operação “Punho de Ferro” na comunidade pobre de Cité Soleil, na capital Porto Príncipe, em julho de 2005, em busca de um líder de gangue. Investigações apontam que mais de 22 mil tiros foram disparados na ação.
Heleno considerou que a busca foi um sucesso, mas organizações de direitos humanos avaliam o caso como um massacre, com dezenas de civis mortos (algumas versões apontam mais de 60) no fogo cruzado, o que o general nega. Na época, isso gerou embaraço ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
A lista de generais que sustentam o governo Bolsonaro e que estiveram no Haiti é longa. Além de Heleno, inclui também “O hoje ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, frequentemente elogiado por Bolsonaro, é engenheiro militar e oficial do Exército, tendo ocupado o posto de chefe da seção técnica da Companhia Brasileira de Engenharia da Força de Paz entre 2005 e 2006”, relembra Sakamoto.
Outro que esteve por lá foi o ,atualmente defenestrado, “general Carlos Alberto Santos Cruz, que foi ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, também chefiou a Minustah, de 2007 a 2009.”
Tem ainda “(…)O general Floriano Peixoto, que coordenou a missão entre 2009 e 2010, foi ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e, hoje, preside os Correios – empresa pública que o governo Bolsonaro quer privatizar.”
Quem esteve lá entre 2011 e 2013 foi o general Luiz Eduardo Ramos “(…) Amigo próximo de Bolsonaro há mais de 40 anos, ele ocupou o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo, com a saída de Santos Cruz. E com o deslocamento de Braga Netto para a Defesa, ele se tornou ministro-chefe da Casa Civil.” diz o autor.
A lista continua e inclui também “O general Edson Pujol, que coordenou a presença brasileira no Haiti entre 2013 e 2014, foi comandante do Exército até abril deste ano (…). Azevedo e Silva (que) também atuou no Haiti, como chefe de operações do 2º contingente brasileiro da missão entre 2004 e 2005.
O general Otávio Rêgo Barros, que foi porta-voz da Presidência da República, entre 2019 e 2020, também fez parte da Minustah como comandante do 1º Batalhão de Infantaria(…)” e que “Após deixar o governo, também se tornou crítico do presidente, tendo publicador um artigo em que compara Bolsonaro a um “imperador imortal” e disse que o poder “inebria, corrompe e destrói”. Completa o autor.”
E tem mais. “José Arnon dos Santos Guerra atuou no governo na Secretaria Nacional de Segurança Pública. E o coronel Freibergue Rubem do Nascimento, que foi secretário interino de Segurança Pública, é, hoje, coordenador-geral de implementação do modelo de escolas cívico-militares no Ministério da Educação.”
Todos estes militares de alta patente participaram da operação que massacrava a soberania do povo haitiano, erro grave do governo Lula. E fizeram, claro, mais do que isso. De volta do Haiti, Heleno desafiou Lula na questão da Raposa Serra do Sol. Em seminário do círculo militar em 2008 o então general da ativa criticou o governo Lula pela demarcação de terra na região. Não foi devidamente punido. Sofreu uma branda transferência, até passar à reserva, mas continuou operando. O episódio deu liberdade para que outros oficiais militares passassem, cada vez mais, a emitir suas opiniões políticas e agir.
Aliás, provavelmente começou aí o processo de ativação explícita da tutela militar já prevista no art. 142, expressa “no momento” pelo governo Bolsonaro, que para chegar lá, como se sabe, recebeu ajuda direta e indireta do alto comando, de várias maneiras, a mais famosa delas através do tweet do General Villas Boas ameaçando o STF no julgamento Lula. Villas Boas não foi comandante no Haiti, mas comandava todo o exército brasileiro, durante os anos finais da ocupação.
O quanto antes melhor: Fora Bolsonaro e seus generais!