Os primeiros resultados computados indicam que 1 milhão de pessoas participaram do plebiscito convocado no Chile pela Coordenação Nacional de Trabalhadores (CNT) Não Mais AFP, entre 29 de setembro e 1º de outubro. O número é superior ao da votação nas primárias dos candidatos à Presidência da República. Entre os votantes do plebiscito, quase 97% votaram contra as AFP (sigla de Administradoras de Fundos de Pensão, sistema de capitalização individual instituído pela ditadura chilena em 1981, depois da privatização da Previdência – NdR).
Havia grande expectativa no mundo político e social diante desse ato mobilizador organizado pela CNT Não Mais AFP. Como os meios de comunicação formais não difundiram notícias a respeito, as organizações sindicais e sociais fizeram isso em todo o país, os meios alternativos acompanharam desde o início da campanha e os candidatos a presidente foram interpelados a pronunciar-se, nos diversos debates de que participaram.
No início do ano, um dos objetivos traçados pela CNT era evitar que a campanha se tornasse invisível, diante da campanha eleitoral. Isso foi conseguido até o momento, o que obrigou os candidatos a tocar no tema. As AFP, de sua parte, tentaram limpar a sua imagem, realizando grandes campanhas publicitárias, nunca vistas nos 36 anos de sua existência – campanhas que certamente foram pagas com o dinheiro dos trabalhadores.
As autoridades comunais, regionais e de governo reagiram de diversas maneiras. Algumas não concederam nenhuma facilidade para a realização do plebiscito, outras não se pronunciaram e houve também, em menor número, as que apoiaram totalmente.
Grande participação
Após a meia-noite do dia 28, constituíram-se em todo o Chile mais de 2 mil mesas de votação, em sindicatos, associações de bairro, organizações sociais, com muitos voluntários e muita vontade, principalmente.
Ressalto nessas três jornadas de votação a grande participação dos jovens, que nas últimas eleições não haviam comparecido. Muitos deles disseram que era a primeira vez que votavam. Houve também muita participação dos mais velhos, que são os que sentem agora os efeitos negativos do sistema.
Os imigrantes residentes participaram com entusiasmo do plebiscito, já que se informaram sobre como operam as AFP e as compararam com seus países de origem. Outro feito foi a constituição de mesas eleitorais no exterior, como na Austrália e na Suécia, para nomear alguns países.
A CNT declarou que o processo foi um êxito. Com 96,78% de rechaço ao atual sistema, numa primeira contagem, se instalou o desejo dos trabalhadores de ter uma sociedade solidária, que respeite os idosos, que outorgue aposentadorias dignas a todos os chilenos.
Queremos ter no Chile uma real seguridade social para todos e todas, queremos ter um sistema solidário, tripartite e de repartição. Queremos que o dinheiro dos trabalhadores seja utilizado no Chile e não na roleta da bolsa mundial. Não queremos que se financiem empresas de reputação duvidosa, que causam danos ao meio ambiente ou que estão relacionadas ao armamentismo e que indiretamente servem para patrocinar guerras.
Javier Márquez, de Santiago