Julho foi o pior mês, dos últimos 12, para os trabalhadores nas negociações salariais, e não há perspectiva de um cenário favorável nem para o início do ano que vem, aponta o Boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Com um reajuste médio de 7,6% em julho, mas com inflação acumulada em 9,2%, houve perda real nos salários de 1,6%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, mostra que quem ganha menos sente mais com aumentos de preços em despesas domésticas, como alimentação e energia.
O grupo de despesas com alimentação em casa acumula alta de preços de 16,4%, segundo o IBGE. Outra despesa que disparou foi a energia elétrica residencial, que acumula alta de 20,09%.
As negociações de categorias com data-base em julho não foram as primeiras a resultar em uma média negativa – janeiro, março e abril já haviam sido de perdas –, até chegar no encolhimento recorde de julho.
Quase seis a cada dez acordos e convenções fechados no mês passado terminaram com percentuais menores do que o INPC. E projeções dos bancos Itaú, Unibanco e Santander indicam um INPC crescente até setembro, quando deve passar de 10%.
E a expectativa entre economistas é que os níveis de pobreza se mantenham acima do verificado antes da Covid-19.
As altas mais fortes foram nos estados do nordeste e nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Entre o primeiro trimestre de 2019 e janeiro deste ano, o nível de pobreza cresceu em 24 das 27 unidades da federação, segundo estudo do economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
Em São Paulo a parcela de população pobre subiu de 13,8% em 2019 para 19,7% em 2021. No Rio, ultrapassou um quinto da população, passando de 16,9% para 23,8%. Nos três únicos estados em que não houve aumento do indicador, os pobres já representavam mais de 30% da população: Acre (46,4%), Pará (45,9%) e Tocantins (35,7%). Na média, a população pobre no Brasil passou de 25,2% do total no primeiro trimestre de 2019 para 29,5% em janeiro deste ano.