No dia 06 de fevereiro de 2025, completaram 10 anos de uma das maiores chacinas da Bahia. Foram 12 jovens, em sua maioria negros, assassinados a sangue frio pela Polícia Militar do estado. Não bastasse a violência brutal da PM, infelizmente comum para jovens de periferia, familiares enlutados ainda tiveram que lidar com a grotesca comparação do então governador, Rui Costa (PT), de que “os PM’s eram como artilheiros em frente ao gol”. Já seria um absurdo essa declaração se vinda de qualquer governante, se tratando de um do Partido dos Trabalhadores, torna a situação mais trágica ainda.
Mesmo o Ministério Público tendo concluído que houve homicídios na operação realizada pela PM em 2015, com inúmeros indícios de tortura durante a execução, o Tribunal de Justiça da Bahia absolveu os nove policiais acusados dos assassinatos. Em 2016, houve a tentativa de federalização do caso pelo Ministério Público – BA, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido, que ainda não teve um desfecho. Hoje, 10 anos após o massacre, 8 dos 9 policiais envolvidos continuam em exercício nas ruas, fato que escancara conivência dos poderes e instituições com o massacre contra o povo negro e pobre. Em 2024, a Bahia foi o estado com o maior número de mortes em intervenções policiais (1.557), em 2023 foram 1.702, sendo 96,4% de pessoas negras (306 ocorrências não tiveram registro de raça/cor).
Este ano, a Polícia Militar da Bahia está propagandeando a comemoração dos seus 200 anos de fundação. Acontece que, há 200 anos (1825), o Brasil ainda vivia sob o regime da escravidão, que só foi “abolida” em 1888, com a instituição da Lei Áurea. De lá para cá, o papel da polícia não mudou: capturar e executar jovens negros e periféricos, desconsiderando o desemprego, o subemprego, o assédio do tráfico de drogas e as inúmeras violências as quais a população negra tem sido submetida até hoje. O Estado brasileiro continua fingindo não ver que a criminalidade encontra solo fértil na miséria e na enorme desigualdade social, além do financiamento dos grandes traficantes, em sua maioria brancos milionários, que não são alvos da “justiça” do país.
Casos como o do Cabula e os números da letalidade policial no Brasil, mas especialmente na Bahia, mostram que a Polícia Militar é treinada para uma guerra, onde o jovem negro de periferia é o inimigo a ser exterminado. Certos da impunidade, executores e mandantes têm na “justiça” sua fiel escudeira. O julgamento do recurso apresentado pelo MP-BA acontecerá no próximo mês. A luta por justiça prossegue com a exigência da federalização do caso. É uma situação na qual o governo Lula pode e deve intervir, em respeito às famílias enlutadas e a todo povo negro e periférico do Brasil, que continua sendo sistematicamente vitimados pela violência estatal que nos assola.
Pedro