Reagir à rota ao caos

Duas cenas recentes fazem parte de um mesmo roteiro traçado pelo governo Bolsonaro desde a posse, e que ele acelera com o advento da pandemia.

Em várias cidades do país, filas imensas aglomeravam pais, mães e filhos de famílias trabalhadoras. São milhões de frustrados na tentativa de receber o auxílio de R$600,00. O desespero cresce.

Dos 96,9 milhões de pedidos apenas 20 milhões receberam auxílio até o início de maio (49,2 milhões de pedidos foram aceitos, 32,77 milhões de CPFs formam rejeitados e 13,67 milhões que estão “sob análise”). Em Vila Velha (ES) a indignação com a falta de atendimento levou as pessoas a atearem fogo na agência da Caixa Econômica Federal.

Nas condições impostas pela pandemia, grande contingente de trabalhadores e trabalhadoras estão ao desabrigo, sem condições sanitárias para defender-se do vírus e sem condições econômicas para garantir minimamente sua sobrevivência.

Em outro cenário, na capital do país, no dia 3 de maio Jair Bolsonaro recebia uma gangue de seguidores aglomerados diante do Palácio do Planalto, onde atacaram jornalistas que faziam o seu trabalho. Neste mesmo local, dois dias antes, membros desta gangue insultaram enfermeiras que, com apoio do sindicato, no 1º de maio manifestavam-se pacificamente e respeitando o distanciamento social em homenagem aos trabalhadores da saúde vítimas da Covid-19 e reivindicando condições de trabalho, uma denúncia contundente das condições em que atuam, heroicamente, estes profissionais.

Os ataques às enfermeiras e jornalistas não são “cartas fora do baralho” no jogo de Bolsonaro.  Açulados pelo comandante em chefe, são as hostes – ainda pequenas, mas que germinam – que se preparam para sustentar o roteiro desenhado por Bolsonaro de apostar no caos, atacar fisicamente os trabalhadores e às suas organizações, e se impor acima das instituições. Os gritos de fechamento do Congresso, ataque ao Supremo Tribunal Federal e pedido de intervenção militar é a trilha sonora do roteiro.

As instituições (STF e Congresso) atacadas pelos bolsonaristas no dia 3, para regozijo do pretendente a imperador, mais uma vez, reagem pifiamente. Bolsonaro, em seu discurso aos seguidores, fez questão de dizer que as Forças Armadas, estão comprometidas com o seu plano. E, mais uma vez apenas, ainda que com resmungos, as FFAA aceitam e acompanham. A nota do ministro da Defesa, procurando distanciar-se da cena diante do Palácio, não anula o fato de que generais e outras patentes, da ativa ou da reserva, seguem muito próximos ao presidente, dentro das paredes do Planalto.

O fato é que, de uma forma ou de outra, são instituições que ajudaram a germinar Bolsonaro como presidente e que hoje é o vírus mais ameaçador ao país e seu povo. Foram os criadores desta criatura, com o golpe de 2016, a condenação e prisão de Lula impedindo sua candidatura. São responsáveis pela tragédia.

É alvissareiro, para criar as condições de uma verdadeira reação ao plano de Bolsonaro, que o Diretório Nacional do PT tenha, finalmente, adotado uma resolução que diz: “É hora de colocar um ponto final no governo Bolsonaro, essa página nefasta da História do Brasil”.

O PT, sem se confundir com os coautores desta página, partidos e seus porta-vozes golpistas, pode abrir uma saída. É hora de lutar pelo fim do governo, refazer as instituições que ajudaram a escrever esta “página nefasta” e fazer as reformas urgentes em favor do povo trabalhador e da soberania nacional.

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