Alemanha: mobilizações questionam governo

Fechamento dos hospitais, das universidades, das escolas…
Enclausuramento de toda a população

Carla Boulboullé

Dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas nas últimas semanas contra o regime de emergência do governo federal e dos estados, decretado em nome da luta contra a Covid. Houve manifestações em Stuttgart, Dresden, Leipzig, Kassel, Berlim. Manifestações e carreatas em várias cidades da Westfália, na região do Ruhr. Obviamente, existem provocadores, os extremistas de direita (…) que querem lucrar com a revolta crescente. Isso é o que o governo, todos os partidos estabelecidos, e até as lideranças sindicais utilizam para condenar em bloco os manifestantes pelos direitos democráticos fundamentais como “extremistas de direita”, apelando hipocritamente pela “unidade de todos os democratas com o governo para lutar contra a direita”.

As direções sindicais que apoiam os governos na repressão a toda resistência organizada coletivamente – até abandonando a greve – negam aos trabalhadores e jovens uma mobilização unitária contra a política de destruição social e a unificação de suas lutas no campo social com a defesa da democracia reprimida.

Mais de 800 mil metalúrgicos entraram em greve de advertência exigindo um aumento real de salário. A direção da IG-Metall sabotou essa combatividade dos trabalhadores aceitando um acordo indecente sobre os salários, cujo resultado é nada além do que cumprir o “acompanhamento socialmente compatível” e o ultimato do chefe do setor metalúrgico, Stefan Wolf: um novo congelamento salarial depois daquele de 2020.

Nenhuma despesa adicional, pelo contrário, redução do custo do trabalho pela multiplicação das revogações dos acordos salariais ao nível das empresas, pela ampliação contínua do rebaixamento das convenções coletivas nacionais com submissão às exigências das empresas, após um ano de congelamento salarial e, agora, um acordo de renúncia ao salário real para uma grande parte dos metalúrgicos.

O pessoal dos hospitais se lança cada vez mais à luta em todo o país pela manutenção dos seus hospitais, por mais contratações, pela TVÖD (a convenção coletiva do serviço público) para todos. No entanto, eles esbarram na direção do sindicato Ver.di, que se recusa a organizar uma ação unificada em todo o país por salários, por mais funcionários e pela convenção TVÖD.

Os universitários e alunos do ensino médio, junto com professores e pais, se organizam pela abertura de universidades e escolas, com o restabelecimento do direito aos estudos qualificados e à aprendizagem para todos.
Todos fazem com sua ação a luta prática contra a Covid.

O fechamento de clínicas, redução de leitos e de funcionários, isso ajuda contra o vírus?

Ajuda contra o vírus que, por causa dos baixos salários degradantes e da deterioração das condições de trabalho, apenas no período do início de abril ao fim de julho de 2020, mais de nove mil cuidadores tenham sido forçados a deixar seus empregos?

Negar a contratação de professores ajuda contra o vírus e o sofrimento pessoal?

Ajuda contra o vírus que o governo federal se recuse a impor aos empregadores da maioria dos trabalhadores a obrigação de testá-los, por serem os testes muito caros para as empresas?

ESTE GOVERNO NÃO FAZ NADA PARA CONTER O VÍRUS

Ele só conhece a ferramenta do confinamento agravado, o confinamento de 83 milhões de cidadãos.
Um confinamento mais severo, esta é a “solução” que o governo justifica pelos hospitais sobrecarregados, enquanto só no primeiro “ano de pandemia”, vinte sedes hospitalares foram fechadas e seiscentas estão ameaçadas de falência.

Um confinamento mais rígido é a solução de um governo que ficou conhecido pelo escândalo sem fim dos testes e pelo caos das vacinas.

Um governo que serve aos interesses e às exigências do patronato, dos bancos e dos investidores financeiros, cuja colaboração com os monopólios fomentou a corrupção até o surgimento de uma casta política de parlamentares que, como lobistas, fizeram enormes fortunas, inclusive no negócio de máscaras.

Os trabalhadores, os jovens, professores, trabalhadores hospitalares, e a maioria da população devem sofrer as consequências do fato de que o governo federal se recusa a criar as condições que permitiriam remediar eficazmente a Covid. Essa política federal e dos estados a serviço do capital financeiro está provocando uma raiva crescente na maioria da população, que está abrindo um caminho nas lutas pelas reivindicações sociais, como nas manifestações em defesa da democracia.

Assim, Herbert Reul, Ministro do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, adverte: “A atitude de repúdio ao Estado e às instituições democraticamente estabelecidas está se fortalecendo de uma forma tão massiva que poderia se prolongar mesmo sem a pandemia.”

Esse repúdio e raiva são expressos concretamente nos cartazes explícitos: “Sistema corrupto de cima a baixo. Precisamos de um novo”.

A perda de confiança afeta principalmente a própria chanceler. Diante desta crise de poder político e seu declínio de credibilidade alguns meses antes das eleições para o parlamento federal e parlamentos regionais, “a cacofonia é grande” (segundo o jornal Tagesspiegel) que critica duramente os líderes do governo e partidos.

Pressionados pelo medo diante desse movimento de rejeição e resistência, as cúpulas políticas em torno de Merkel estão considerando estabelecer um regime autoritário por meio da centralização mais ampla do poder governamental, com base no auto-abandono do poder parlamentar.

Caso contrário, juram solenemente, em conjunto com os virologistas RKI, que ameaça o perigo de uma de terceira onda, que faria milhares de mortos adicionais.

MAS NÃO FARÃO RECUAR A RESISTÊNCIA CRESCENTE…

  • – nem a generalização de manifestações em defesa da democracia;
  • – nem as iniciativas em muitas partes do país contra o fechamento de hospitais e por “mais funcionários”;
  • – nem os protestos de alunos do ensino médio, dos universitários, dos pais, dos professores e educadores pela realização de condições para a abertura de escolas, creches e universidades;
  • – nem a luta dos trabalhadores contra o rebaixamento dos salários, a desregulamentação e a crescente precarização das condições de trabalho.

    Nesta situação, os combatentes engajados do movimento operário, os sindicalistas, os jovens, encontram-se nos círculos políticos por uma política operária independente, nos círculos de defesa do sistema de saúde pública, de defesa do direito à educação para todos, para discutir sua experiência e como ajudar a superar os obstáculos à sua luta.
    Uma luta que se concentra na vontade de acabar com este regime de estado de emergência, com a destruição da democracia, com o governo Merkel de destruição social e da democracia.

    10 de abril de 2021

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